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Newsletter Nº 167 / 14 de Dezembro de 2020
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros
ÍNDICE

01 – Carta aos Investigadores, por Mafalda Ferro.
02 – Agenda de Fernanda de Castro, Novembro/Dezembro de 1970, transcrição por Maria Antunes Ferreira.
03 – Um atropelo de Memórias: A Magia das Rosas - Fernanda de Castro, por Isabel Quadros.
04 – Mafalda Ferro, sobre Fernanda de Castro, em Viterbo. Divulgação.
05 Eduardo Lourenço (1923/2020), por Mafalda Ferro
06 – Beethoven, por Raul Proença Mesquita.
07 – Homenagem a Ludwig van Beethoven (1770/1827), por Mafalda Ferro.
08 Três Olhares sobre a Mina do Espadanal: António Carvalho, Gastão de Brito e Silva, Nuno Rocha. Divulgação.
09 Livraria António Quadros, promoção do mês: África Raiz, de Fernanda de Castro.

 

EDITORIAL,
por Mafalda Ferro

 

No mês que viu nascer e morrer FERNANDA DE CASTRO (8 de Dezembro de 1900 / 19 de Dezembro de 1994), 120 anos depois do seu nascimento, a Fundação António Quadros prestou homenagem à Grande Senhora da Poesia e da Literatura, à Grande Senhora da Solidariedade que se destacou também no Turismo, na Música, no Cinema, na Culinária. Promovemos, participámos e apoiámos diversas iniciativas destinadas a divulgar e promover o estudo de Fernanda de Castro, das quais se salienta algumas acções realizadas:

- Organização da exposição «Amália Rodrigues e Fernanda de Castro: evocação de uma amizade;

- Palestra a realizar na Universidade de Viterbo, Cátedra Pedro Hispano;

- Preparação (em volume único) dos dois volumes de Ao Fim da Memória, acrescentando-lhe um índice onomástico (publicação que foi transferida para inicio de 2021);

- Publicação de textos de vários autores;

- Publicação (ao longo de todo o ano) da sua AGENDA de 1970;

- Recolha e produção de textos sobre a sua vida e obra, para publicação na revista «Nova Águia», n.º 26.

 
Despedimo-nos hoje de um ano que dedicámos a Fernanda de Castro e, por sua causa, à Música, através da publicação  de um testemunho da sua sobrinha Isabel Quadros.

A Livraria da Fundação aconselha, em promoção do mês, a aquisição para leitura ou/e para oferta de Natal a edição ilustrada de ÁFRICA RAIZ, obra de Fernanda de Castro que…

- Ary dos Santos definiu como: "o Poema do Século";

- David Mourão Ferreira resumiu: "soube entender até ao âmago, até â raiz, a alma secreta do continente africano";
- Ferreira de Castro declarou: "é um poema extraordinário... >Que força expressional e consecutiva, que fôlego sem desfalecimento, que altura sem vertigens, que beleza sem interrupções!".

 
01 CARTA AOS INVESTIGADORES,
por Mafalda Ferro

CARTA AOS INVESTIGADORES DA FUNDAÇÃO ANTÓNIO QUADROS

Sei que, devido às actuais circunstâncias, o acesso presencial ao Arquivo Histórico da Fundação, está complicado.

Assim sendo, temos aproveitado o tempo de confinamento para tratar o inventário e o colocar no Sítio da Fundação (www.fundacaoantonioquadros.pt) dividido por séries, dando assim a conhecer o acervo da Fundação e facilitar os pedidos de cada um. Bom Trabalho!

 

SÍTIO DA FUNDAÇÃO / ARQUIVO, BIBLIOTECA, ARTE

ARQUIVO HISTÓRICO

Inventário parcelado dos documentos produzidos e/ou reunidos, na sua maioria, por Augusto Cunha (1894/1947); António Ferro (1895/1956); Fernanda de Castro (1900/1994); Manuel Tânger Correia (1913/1975); Germana Tânger (1920/2018); António Quadros (1923/1993) ou por amigos, colaboradores, familiares, artistas, intelectuais, artistas, políticos, entre muitos outros.

Este conjunto documental, acervo da Fundação António Quadros, está disponível para consulta presencial nas suas instalações em qualquer dia da semana, entre as 9.00 e as 18.00, mediante marcação prévia.

 

01 – Correspondência

02; 16 – Artigos publicados na Imprensa

03 – Escritos e Actividades de Fernanda de Castro

04 – Escritos e Actividades de António Ferro

05 – Escritos e Actividades de Outros Autores

06 – Fotografias

07 – Documentos de família (em preparação)

08 – Escritos e Actividades de Augusto Cunha

09 – Álbuns de Recordações (Scrapbooks)

10 – Música

11 – Contabilidade, Finanças, Saúde (em preparação)

12 – Escritos e Actividades de Germana Tânger

13 – Escritos e Actividades de António Quadros

14 – Escritos e Actividades de Rio Maior

15 – Escritos e Actividades de Manuel Tânger Correia (em preparação


BIBLIOTECA (volumes existentes na Biblioteca da Fundação)

Obras de António Ferro

Obras de António Quadros

Obras de Augusto Cunha

Obras de Fernanda de Castro

Obras de SNI-SPN (sem referência a autoria) 

Obras de autores (de A a Z)

Obras sem referência à autoria  

Obras de vários autores


HEMEROTECA (exemplares existentes na Biblioteca da Fundação)


COLECÇÃO DE ARTE (dividida em oito tipologias)

01 - Arte Popular;

02 - Cartazes;

03 - Chapas de ilustrações, e outras;

04 - Diplomas;

05 - Filatelia / Selos;

06 - Medalhas, condecorações e outras;

07 - Obras de Arte e outras peças museológicas;

08 - Postais.

 

02 AGENDA DE FERNANDA DE CASTRO, NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 1970,

transcrição por Maria Antunes Ferreira.

 

Com grande pena nossa terminam aqui os registos apontados por Fernanda de Castro na sua agenda em 1970:

 

Novembro, dia 1, Domingo

Dia de Todos os Santos (feriado); 4h, Queluz: tomei chá em casa da Maria Germana [Tânger]

Novembro, dia 2, Segunda

Não saí de casa.

Novembro, dia 3, Terça

Almoço com a Inês e o casal Lima de Freitas em «A Colmeia» (regime japonês); à tarde, trabalhei em casa.

Novembro, dia 4, Quarta

3h, Reunião SNI; 3.30, passeio com Inês [Guerreiro] e Heloísa [Cid]: Oeiras, Carcavelos, etc. (à procura de casas).

Novembro, dia 5, Quinta

Não saí; vieram jantar a Heloísa e a Inês.

Novembro, dia 6, Sexta

Trabalhei de manhã ‒ P. Infantis: saí para compras e voltas; jantaram cá a Heloísa, o José Carlos [Ary dos Santos] e o José Francisco [Azevedo]; À noite, esteve também a Inês.

Novembro, dia 7, Sábado

Partida de Lisboa às 11h com José Carlos e José Francisco; almoço na Portagem; encontro com alunas da Escola do Magistério Primário de Portalegre; Obras ‒ Marvão ‒ Valência de Alcântara; jantar na Pousada da Rainha Santa Isabel, em Estremoz ‒ Évora ‒ (dormida)

Novembro, dia 8, Domingo

Partida de Évora para o Algarve às 10.30; almoço em Tavira ‒ Alporchinhos ‒ ; ver casa; lanche em Portimão em casa do Alberto [Quadros]; jantar na Pousada de S. Tiago do Cacem; encontro com Natália, Lima de Freitas, etc.

Novembro, dia 9, Segunda

Não saí; jantaram cá a Heloísa e a Inês.

Novembro, dia 10, Terça

Almoçou cá a Tia Castelo [Telles de Castro]; Voltas; Tia M.ª José [Telles de Castro].

Novembro, dia 11, Quarta

11h, Cemitério Alto de S. João; 3h, Reunião SNI; 12.30. Missa no Loreto por alma do António [Ferro, marido].

Novembro, dia 12, Quinta

Trabalhei em casa; 5h, esteve cá a M.ª Luísa Garin; jantou cá a Inês.

Novembro, dia 13, Sexta

7h, Dr. Sousa e Faro; 10h, Conferência Pedro Homem de Melo «António Nobre e o Folclore».

Novembro, dia 14, Sábado

Almoçou e jantou a Heloísa; esteve cá o Antoninho [neto]; Compras: à tarde, Dr. Sousa e Faro: grande descida da vista ‒ Estou bastante desmoralizada mas tenho de reagir; jantaram cá: Heloísa, Inês, Natália [Correia], José Carlos, Dórdio [Guimarães], Helena Ferreira, Alfredo Madureira, Isabel Magalhães, Emilienne, José Francisco.

Novembro, dia 15, Domingo

Passei o dia na cama ‒ completamente só porque ninguém sabia que estava em casa. Precisava em absoluto deste descanso.

Novembro, dia 16, Segunda

12.30, Dr. Henrique Anjos; estiveram cá o António, a Rita e o João Filipe [Quadros, sobrinho]; a Heloísa veio trabalhar das 3 às 7h; veio jantar a Mané, que esteve cá até às 5 da manhã (!!) por causa duma panne geral de electricidade. Impossível arranjar táxis.

Novembro, dia 17, Terça

De manhã esteve cá o António [filho] a despedir-se (inspecção das Bibliotecas ao Alentejo); às 11.30, Dr. Baião Pinto; 1h, veio almoçar a Manuela; 3h, fui com a Natália, Helena e Branca Miranda Rodrigues a Mafra, Sobreiro [José Franco], Loures, Fanhões, etc.

Novembro, dia 18, Quarta

3h, Reunião S.N.I.; visita Tia M.ª José; jantou a Eugénia Aurora que se foi embora às 5 da manhã!!!

Novembro, dia 19, Quinta

Jantou a Eugénia.

Novembro, dia 20, Sexta

Almoço em Queluz, em casa da Maria Germana; visita, depois do almoço à Olga Cadaval (Colares); voltei p. Lisboa à tardinha.

Novembro, dia 21, Sábado

Trabalhei em casa todo o dia; telefonou de Barcelona a Berta Singerman; almoçou e jantou a Heloísa; à noite fui ao Bailado da Fundação, convidada pela Inês; depois fomos cear à «Camacha».

Novembro, dia 22, Domingo

Partida, à 1, para o Monte-Estoril, a Heloísa foi comigo e almoçou; a Inês foi à tarde e jantaram ambas.

Novembro, dia 23, Segunda

Hotel Atlântico, Monte-Estoril; à tarde: Inês, Heloísa, Manuel Teles; a Inês jantou e ficou para terça-feira; telefonou o António.

Novembro, dia 24, Terça

Hotel Atlântico, Monte-Estoril, pequeno passeio à tarde com a Inês; regresso a Lisboa, depois do jantar.

Novembro, dia 25, Quarta

Ensaio das peças de Ionesco, no Teatro da Trindade; Tia M.ª José.

Novembro, dia 26, Quinta

Ballet Fundação Gulbenkian.

Novembro, dia 27, Sexta

Compras na Baixa; Conserto candeeiros; Supermercado, etc.

Novembro, dia 28, Sábado

Chegada Berta Singerman, jornalistas, televisão, etc., jantaram cá a Inês, a Heloísa e o José Carlos, que, juntamente com o Torquato [da Luz], lhe levaram flores ao Aeroporto ‒ Entrevista «Diário de Lisboa».

Novembro, dia 29, Domingo

Passeio com Berta até Queluz (Parque, etc.); Entrevista «Século»; Passeio Lisboa Velha.

Novembro, dia 30, Segunda

Revista: «Diário Popular; passeio por Lisboa Velha com a Berta — Banco, compras, etc.; Teatro da Trindade: Anos da Tia Castelo, festejados neste dia por ser domingo na véspera,

Oferecemos o lanche (eu e a Manuela, toda a família, excepto a Tia Castelo e M.ª José).

Dezembro, dia 1, Terça

Restauração da Independência (feriado); 5h,passeio em Lisboa com a Berta; 7h, Cascais, com Berta, Inês, Heloísa; jantámos na Taberna de Gil Vicente; à noite, Teatro Experimental ‒ uma peça aragonesa e Breve Sumário da História de Deus.

Dezembro, dia 2, Quarta

Compras.

Dezembro, dia 3, Quinta

Cabeleireiro (10h); trabalhei em casa; à noite, jantei com a Berta em casa de Amália Rodrigues.

Dezembro, dia 4, Sexta

Jantaram a Heloísa e a Mané [Lima de Carvalho]. À noite esteve também a Pó [a nora, Paulina Roquette Ferro].

Dezembro, dia 5, Sábado

De manhã, compras, Praça; almoçou a Inês; lancharam e jantaram Berta e Heloísa.

Dezembro, dia 6, Domingo

Passeio à Arrábida com Berta, Inês e Heloísa; Chá na Quinta das Torres; à noite, Cinema Império: «Um Club só para homens»

Dezembro, dia 7, Segunda [véspera do dia de anos]

Comprei presente José Carlos; Passeio com Berta (Alfama, Castelo, S. Vicente, etc.); jantar na «Babuska» com Berta, Inês, Heloísa, José Carlos, Natália, Helena, Dórdio, Alexandre Ribeirinho.

Dezembro, dia 8, Terça

Imaculada Conceição (feriado); almoço em casa; passeio a Sintra, Colares, Guincho, Cascais. ‒ Chá na casa das Inglesas; jantar no «Vidraceiro», com Berta, Pó, António, os três netos, Heloísa, Inês e Mané.

Dezembro, dia 9, Quarta

Às 3h, Reunião S.N.I.; Flores para a Berta Singerman, 1.º Recital da Berta no Teatro da Trindade. Enorme sucesso. Recitou «Alegria» ‒ Jantámos em casa, com a Inês, e à noite estiveram cá a Pó e o António.

Dezembro, dia 10, Quinta

Almoço no Tivoli com a Berta, convidadas ambas pela Mané. Ao café estiveram a Inês e o José Carlos.

Dezembro, dia 11, Sexta

Fui buscar a Inês, às 4.30 ‒ Compras ‒ etc.; 6.30, 2.º Recital Berta Singerman, no Teatro da Trindade; jantaram a Inês e a Heloísa, e à noite esteve cá a M.ª Germana. 
 
03 – UM ATROPELO DE MEMÓRIAS: A MAGIA DAS ROSAS - FERNANDA DE CASTRO,
por Isabel Quadros

 

No passado dia 8 de Dezembro dei primazia à minha mãe, mas depois dei por mim a vaguear pelos tais labirintos da memória e lembrei-me da minha querida tia Fernanda de Castro que fazia anos nesse dia. E lembrar-me dela, hoje, é uma obrigação de afectos familiares e gratidão porque foi com ela que aprendi a descobrir um mundo incomensurável de cultura, de coragem e tenacidade. Em sua casa, na Rua João Pereira da Rosa (antiga Calçada dos Caetanos) n.º 6, naquele primeiro andar, tudo o que a rodeava e se respirava era de enorme bom gosto e de uma frescura genuína, inigualável. A atmosfera era especial e com uma misticidade tão forte que ao entrarmos nos apaziguava. Cada objecto, cada peça de mobiliário, cada toalha de mesa era uma inspiração, brilhando na quietude doce do quotidiano. Era assim que ela vivia. E, onde, receber e a gastronomia eram também uma arte. Tive o enorme privilégio de usufruir de muitas experiências fantásticas e saía sempre gratificada por elas.


Nesse dia 8 de Dezembro, a casa estava aberta a partir das 16 horas para quem quisesse entrar. A mesa da casa de jantar, com as tais toalhas rendadas, ou de linho, bordadas, absolutamente divinas, preparada para o chá, com bolos bolinhos, sandwiches miniaturas, croquetes, rissóis e os famosos bolos ingleses, recheados de compota, com icing sugar por cima. A cozinha não parava até às duas da manhã porque pegava-se o lanche com o jantar e este com a ceia. Penso que a talentosa cozinheira que esteve uma vida lá em casa era a Maria de Jesus, mas confesso que entre tantas tias que visitava, com empregadas, se não terei trocado nomes.

Iam chegando os amigos mais próximos, e mais tarde, escritores, poetas, declamadores, pintores, guitarristas, violas, fadistas já consagrados e todos os novos que estavam no começo das suas carreiras artísticas. Como se calcula o que acontecia ali, naquele espaço, era arte pura, genuína e espontânea. A Tia Fernanda, mais do que uma vez cantou para todos, sempre a afagar com as duas mãos, as suas tranças enroladas atrás das orelhas (aliás nunca lhe conheci outro penteado na vida) e a aconchegar um xaile que me lembro ser cor de caxemira rosa. Era incrível. Havia a família, netos, bisnetos, amigos dos filhos e quem quisesse aparecer.


Um dia convidou-me para lanchar. Queria ouvir os meus versos. E lá fui para a Rua João pereira da Rosa toda nervosa com o caderno para ela me ouvir dizê-los. A Edite Arvelos pôs-se ao piano e ia tocando enquanto eu versejava toda envergonhada. Quando acabei, a tia Fernanda disse-me: és cá das nossas, tens alma sensível e sangue de escritora. Não desistas! Mas eu desisti.


Mas, tudo isto vem a propósito de eu, quando me arranjava hoje de manhã, ter pegado num frasco cor do rosa, que utilizo todas as manhãs e noites: Água de Rosas!


Penso que foi mesmo na tarde dos versos que lhe perguntei o que usava para ter uma pele tão bonita, ao que ela respondeu:

- Água de Rosas! Só uso água de rosas.

 E eu, há mais de 40 anos, uso também todos os dias, antes dos cremes, água de rosas.


Resta lembrar, e para quem não sabe, que Fernanda de Castro era irmã do meu pai e de mais seis, a quem era muito ligada. Viajámos com ela várias vezes de carro, 1966, para Faro onde tinha uma relíquia; o Al-Faghar. As viagens eram divertidíssimas e ela e o meu pai Afonso, não se calavam. Era uma criativa e tinha cem ideias por minuto... e o melhor de tudo é que normalmente as concretizava.

Os irmãos eram o Francisco, a Manuela, o João, o Afonso, a Maria Luiza, o Zé Manel, e o tio Alberto, o único que está entre nós e que é uma força da natureza, escritor, campeão de xadrez, mas ainda maior campeão da VIDA.

 Bem-haja a Família!

 
04 – FERNANDA DE CASTRO EM VITERBO.
Divulgação
 

 
05 EDUARDO LOURENÇO (1923/2020),
por Mafalda Ferro

 

José Carlos Seabra Pereira lembrou Eduardo Lourenço começando por referir o que um dia o amigo havia escrito com aquele inconfundível matiz de humor que por vezes punha nos mais fundos confrontos com a gravidade da vida: «Há dias em que madrugamos e julgamos que vamos apanhar Deus. Em vão: Deus levanta-se sempre mais cedo!…».


Não conheci Eduardo Lourenço mas fui-me apercebendo da amizade que o ligava a meu pai, António Quadros, através das cartas (preservadas na Fundação) escritas ao longo de duas décadas (1967/1987), durante a sua estadia em Nice,  e nas quais se pode ir descobrindo a forma de pensar e de sentir dos dois filósofos.


Legenda das imagens: Eduardo Lourenço e António Quadros, fotografados por Monique Burke para a sua obra Figuras de Estilo.


Outro testemunho dessa amizade, são as dedicatórias patentes em algumas obras (preservadas na Biblioteca da Fundação) como Fernando, Rei da Nossa Baviera "Para António Quadros, a quem a irradiação de Pessoa tanto leva, entre nós e lá fora, com a cumplicidade pessoana e o abraço amigo e grato do Eduardo Lourenço. Lisboa, Set. 86."; ou como Heterodoxia II. Ensaios "A António Quadros, com perfeita consciência do que me separa dele, estas páginas dedicadas a um diálogo que não lê, e afinal todos procuram. O seu camarada Eduardo Lourenço. Nice, 9 de Abril 67."

 
06  LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770/1827)
por Raul Proença Mesquita

Compositor da era clássica, na transição para o romantismo, do meu ponto de vista mais pela doença que o atacou do que em-si apenas pela época em que viveu, é um dos marcos músico-culturais mais importantes em todo o mundo.   Combativo, apaixonado, triste, foi assolado por uma surdez progressiva que o deixou totalmente surdo antes da composição da 9ª sinfonia. Sendo esta a mais volumosa em termos de som, é fácil compreender que Beethoven procurava na mente o som que lhe escapava. Aí estaria o romantismo que lhe atribuem muitos e que Karajan em meados do século passado explorou à maneira do seu tempo, que não reconhecia as práticas de period playing.


É discutível, claro, saber como se tocava exactamente neste ou naquele século, no princípio ou no fim deste ou daquele, mas sabe-se muito porque existem instrumentos dessas épocas e gravuras dos mesmos antes de retoques posteriores e existem também descrições dos mesmos. Quanto a práticas de tocar os mesmos, há descrições, nomeadamente em cartas. As cartas de uns para outros são uma fonte preciosa do estudo do passado à qual a música não escapa.   


Interesso-me pelo passado e por música. Como soaria Beethoven? Tomando em conta o que escrevi, penso que devia soar mais próximo das sonoridades do século XVIII com uma combatividade que cresceu com a Revolução Francesa.


Uma nota: Ouve-se pouco a sua ópera, Fidelio ou Leonore, como foi primeiro conhecida, de 1805, na primeira versão. Uma outra obra, As Criaturas de Prometeu, ballet de 1801, são recomendados.

Legenda da imagem: Ludwig van Beethoven: III Concierto para Piano y Orquestra en Dó menor, Op. 37, 1967, disco, proveniente da discografia de António Quadros, acervo da Fundação. 

 
07 HOMENAGEM A LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770/1827),
por Mafalda Ferro

 

Sei que Deus existe, porque já ouvi todas as sinfonias de Beethoven

António Ferro, em Teoria da Indiferença 1920.

 

Encerrando o ano dedicado pela Fundação António Quadros à Música, presta-se homenagem e lembra-se Ludwig van Beethoven, compositor alemão nascido (baptizado) em Dezembro de 1770, há 250 anos. A sua música atravessou séculos e permanece.


Nesta quadra natalícia, vivida num período complicado, não deixe de relembrar ou descobrir o seu sempre actual «Hino à Alegria» (4.º movimento da sua 9.ª sinfonia, mais conhecida por a «NONA»).

Este Hino, para poema de Friedrich Schiller escrito em 1785, com arranjos de Herbert von Karajan, é hoje o Hino da União Europeia e
 também uma referência para os adultos que foram crianças nos anos 80 do século XX e que ouviam Ana Faria Brincando aos Clássicos com temas adaptados de obras de grandes músicos clássicos. As letras são de Ana Faria que na capa do disco se apresenta ao lado do busto de Beethoven.


Legenda da imagem: Ana Faria: Brincando aos Clássicos, 1982, disco proveniente da discografia de Margarida Gautier.

 
08 – TRÊS OLHARES SOBRE A MINA DO ESPADANAL.
Divulgação.


Conforme referido n'«O Riomaiorense» do passado dia 29 de Novembro, durante o ano de 2020 assinalaram-se duas efemérides na Mina do Espadanal. A 15 de Setembro e a 29 de Novembro comemoraram-se, respectivamente, o centenário da fundação da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada (EICEL), e o décimo aniversário da constituição da EICEL1920, Associação para a Defesa do Património.


As circunstâncias da actual pandemia obrigaram ao adiamento do programa das comemorações, que incluía a organização do Congresso Internacional "Memórias do Carvão". No âmbito das actividades programadas, o Clube UNESCO para o Património Cultural convidou o fotógrafo Gastão de Brito e Silva, autor do projecto Ruin'Arte, para a realização de uma exposição fotográfica dedicada à fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, que será apresentada ao público em data a confirmar e da qual apresentamos hoje uma breve perspectiva.


Perante os condicionalismos do presente, o jornal O Riomaiorense, órgão oficial do Congresso "Memórias do Carvão", assinala, no seu Boletim Informativo Especial, em antecipação do número duplo comemorativo a publicar no próximo dia 31 de Dezembro, a passagem da primeira década de actividade da EICEL1920, celebrando o património mineiro do concelho de Rio Maior através da imagem, com a publicação de um conjunto de três galerias fotográficas sob o título: 3 Olhares sobre a Mina do Espadanal.
 

OLHARES DE ANTÓNIO CARVALHO

António Vieira de Carvalho (Santarém, 1963). Frequência até ao Ensino Secundário em Rio Maior. Médico, com a Especialidade de Medicina Interna, no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Exerce as funções de Director Médico do Hospital São Francisco Xavier. Assistente Convidado na NOVA Medical School / Faculdade de Ciências Médicas (NMS/FCM), da Universidade Nova de Lisboa. Curso de Fotografia Fase 1 e 2 da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica (APAF, 2001/2002). Frequência de Workshop de Fotografia de Retrato (APAF, 2001). Curso de Fotografia Digital (IADE, fundado por António Quadros, 2003). Ministrou Workshop de Fotografia Pinhole, APAF / Movimento de Expressão Fotográfica - MEF (2002). É sócio fundador e foi Vice-Presidente da Direcção da EICEL1920, Associação para a Defesa do Património, entre 2011 e 2012.
 

OLHARES DE GASTÃO DE BRITO E SILVA

Gastão de Brito e Silva (Lisboa, 1966) é fotógrafo profissional. Fundou em Março de 1993 o Estúdio LuzViva - Fotografia Criativa, onde tem trabalhado em vários projectos na área da fotografia conceptual, culinária, bebidas e arquitectura. Publicou trabalhos nos mais diversos meios de publicidade e é autor de vários textos técnicos. Desde 2003 ministra workshops temáticos no Studio 8A, tendo leccionado na Universidade Católica, no ISLA, na ANIF, Arte na Linha (fundada e propriedade de António Roquette Ferro), Oficina da Imagem e APAF.

É autor do Projecto Ruin'Arte, que, desde 2008 até à data, já retratou mais de 1400 edifícios em ruínas, tendo realizado 28 exposições de fotografia e diversas conferências.


OLHARES DE NUNO ROCHA

Nuno Alexandre Dias Rocha (Rio Maior, 1980). Arquitecto e Historiador de Arte. Mestre em Arte, Património e Teoria do Restauro. Foi colaborador da Fundação DOCOMOMO Ibérico, em Barcelona, e do Atelier Marreiros Arquitectos Associados (MAA), em Macau. Exerce, desde 2015, funções no Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, República Popular da China. Autor da tese "Couto Mineiro do Espadanal (Rio Maior). História, Património Identidade", e de diversos estudos publicados sobre o Património Cultural do Concelho de Rio Maior e sobre o Património Arquitectónico de Macau. É sócio fundador e Presidente da Direcção da EICEL1920, Associação para a Defesa do Património, Coordenador do Clube UNESCO para o Património Cultural, com sede em Rio Maior, e Director do jornal O Riomaiorense.

 
09 LIVRARIA ANTÓNIO QUADROS
Promoção do mês em homenagem a Fernanda de Castro

 

TÍTULO: África Raiz (2.ª edição). Edição ilustrada por Teresa Vergani. 

AUTORIA: Fernanda de Castro.

OBRA DEDICADA: Á terra de Bolama, em cujos braços repousa a minha mãe.

EDIÇÃO Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 2004.

PVP até 14 de Janeiro de 2021: 18,50€.


CITAÇÕES
: - o Poema do Século (Ary dos Santos); soube entender até ao âmago, até â raiz, a alma secreta do continente africano (David Mourão Ferreira); é um poema extraordinário…Que força expressional e consecutiva, que fôlego sem desfalecimento, que altura sem vertigens, que beleza sem interrupções! (Ferreira de Castro).

 
 
     
 
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