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Newsletter Nº 184 / 14 de Maio de 2022
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

ÍNDICE

01 – Fundação António Quadros, 14 anos depois, por Mafalda Ferro.

02 – Prémio António Quadros 2021 ARTE: Relatório, por Júri do Prémio António Quadros 2021.

03 – Prémio António Quadros 2022 HISTÓRIA: Relatório, por Júri do Prémio António Quadros 2022.

04 – Veva, obra de Joana Leitão de Barros. Divulgação.

05 – Comemorando o Dia Mundial da Dança, por Mafalda Ferro.

06 – Sete Canções Órficas. Divulgação.

07 – Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa (edição ampliada). Divulgação e Convite.

08 – Livraria António Quadros. Promoção do mês – António Quadros e António Telmo: Epistolário e Estudos Complementares.

EDITORIAL,
por Mafalda Ferro

A presente newsletter é dedicada à Fundação António Quadros e aos vencedores dos dois Prémios António Quadros que, em Julho, serão galardoados.

Conforme já referido e explicado na anterior newsletter (NL 183), este ano será entregue, em cerimónia única, o Prémio António Quadros 2021 ARTE e o Prémio António Quadros 2022 HISTÓRIA. Com grande alegria, se comunica que o Júri já deliberou. Parabéns aos Autores!


 

Orpheu Filosófico: a Geração de Orpheu entre Artes e Filosofia

Este livro (Edições Universitárias Lusófonas), lançado na Casa Fernando Pessoa no passado dia 6 de Maio de 2022, no contexto do Colóquio Novos Estudos Pessoanos, coordenado pelos professores e investigadores Paulo Borges, Fabrizio Boscaglia e Pedro Vistas, aborda a dimensão filosófica de autores, artistas e do movimento cultural ligados à revista Orpheu (1915).


A obra visa repensar o contributo cultural da chamada Geração de Orpheu, com uma atenção particular aos pensamentos e às virtualidades filosóficas de um movimento e de autores que têm sido predominantemente considerados e estudados numa perspectiva artística e literária.


O volume inclui estudos, ensaios, imagens e documentos de vários investigadores, pensadores e artistas, que mostram, exploram e comparam as obras de autores como, entre outros, Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Raul Leal, sem esquecer o compositor Ruy Coelho, integrando ainda a edição de documentos de arquivo.

 

01 – Fundação António Quadros, 14 anos depois,
por Mafalda Ferro

 

A Fundação celebra este ano, em Maio, 14 anos de vida e Maio é o mês certo para celebrar essa efeméride já que foi a 6 de Maio de 2008 que foi instituída e foi, também, cinco anos depois, a 6 de Maio (2013) que a Fundação assinou um protocolo com a Câmara Municipal de Rio Maior que viria a dar origem ao seu renascimento.


Importa referir que, sem a fé, a confiança e o apoio da família Ferro, de particulares e instituições, do grupo de «Amigos da Fundação», dos colaboradores e beneméritos, dos voluntários e órgãos sociais, da notária Melânia Jones, de José Mariano Gago, de livreiros e editores, da Presidência do Conselho de Ministros, da Biblioteca e Câmara Municipal de Rio Maior, e de tantos, tantos, outros, a Fundação não existiria, não teria conseguido nascer e sobreviver durante estes 14 anos, apoiando os muitos que têm solicitado a sua ajuda, cumprindo os seus fins estatutários.
A todos, agradecemos hoje, aqui.


Regista-se aqui o percurso inicial da Fundação e do acervo que viria a constituir o seu bem mais precioso, a sua razão de existir:

11 de Novembro de 1956: Morte de António Ferro. O espólio por ele produzido e reunido permanece em sua casa à guarda de sua mulher, Fernanda de Castro;

21 de Março de 1993: Morte de António Quadros. O seu espólio permanece em Cascais, em sua casa, à guarda de Paulina Roquette Ferro, sua mulher;

19 de Dezembro de 1994: Morte de Fernanda de Castro. O seu espólio é herdado por seu filho Fernando Manuel de Castro e Quadros Ferro e pelos seus três netos António, Mafalda e Rita Ferro;

— 2 de Janeiro de 1995: O espólio de Fernanda de Castro e António Ferro é transferido para casa de Mafalda Ferro que começa a tratá-lo, descrevê-lo e disponibilizá-lo a investigadores;

4 de Janeiro de 2004: Morte de Fernando Manuel de Castro e Quadros Ferro. O seu espólio é herdado por seus filhos Manuel Vicente e Stephanie Barbara Lemonnier Ferro.

—  26 de Abril de 2007: Inicia-se o processo de estruturação da Fundação com a formação de uma comissão instaladora. Assim, a Fundação, fundada por Mafalda Ferro, começa a desenvolver a sua acção, o seu percurso.

6 de Maio de 2008: Instituição da Fundação pelos herdeiros dos espólios de António Quadros, António Ferro e Fernanda de Castro.

8 de Janeiro de 2009: Reconhecimento da Fundação por decreto da Secretaria de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.

7 de Fevereiro de 2009: Tomada de posse oficial da presidente da Fundação (Mafalda Ferro), dos primeiros membros dos Conselhos de Administração (António Roquette Ferro, Francisco dOrey Manoel, Luís de Almeida Gomes, Maria Barthez, Rui Patrício Albuquerque, Mafalda Ferro, Mário Serra Gentil Quina), dos primeiros órgãos do Conselho Fiscal (Sara do Ó Chaves, Teresa Moura Coutinho, Rui Neves da Silva.

8 de Outubro de 2009: O Professor Mariano Gago comunica a disponibilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para apoiar o esforço inicial da Fundação com o objectivo de assim contribuir para o reforço do conhecimento e da actividade científica nos domínios próprios da Fundação..

14 de Julho de 2009: Publicação do primeiro número da newsletter da Fundação que viria a ser publicada mensalmente sempre no dia 14.

14 de Julho de 2009: Inauguração da Livraria António Quadros, livraria online.

14 de Julho de 2009: Criação do grupo «Amigos da Fundação António Quadros».

— 21 de Março de 2010: Edição da primeira obra literária da «Fundação António Quadros Edições».

16 de Abril de 2010: Transferência da Biblioteca de António Quadros para a Fundação;

6 de Agosto de 2010: Morte de Paulina Roquette Ferro, patrona, instituidora e membro do Conselho Consultivo da Fundação António Quadros. Pouco tempo depois o espólio documental de António Quadros, seu marido, começa a ser transferido para a Fundação.

1 de Março de 2011: Atribuição do Estatuto de Utilidade Pública, por despacho publicado no Diário da República.

— 14 de Julho de 2011: Instituição do Prémio António Quadros.

10 de Setembro de 2012: Recepção da Declaração de Interesse Cultural para efeitos de Mecenato em relação ao projecto «Apoio à investigação e Tratamento do Espólio Documental».

6 de Maio de 2013: Assinatura de Protocolo de Cooperação com a Câmara Municipal de Rio Maior.

30 de Junho de 2013: Conclusão do processo de transferência da Fundação para o Município de Rio Maior.

13 de Julho de 2013: Inauguração das novas instalações em Rio Maior.

— 2017/2018: Incorporação dos espólios de Augusto Cunha, Germana Tânger e Manuel Tânger Corrêa.


Hoje, 14 anos depois da sua instituição, a Fundação...

Ajudou centenas de Instituições e Particulares;

Apoiou mais de 600 investigadores (obras literárias, exposições, programas televisivos, teses, etc...);

Assinou protocolos com escolas, empresas particulares e estatais, portuguesas e estrangeiras;

Criou uma imagem gráfica, uma medalha e dois troféus;

Editou sozinha ou em parceria quase uma dezena de obras literárias;

Entregou cerca de 16 prémios;

Mantém em funcionamento a Livraria António Quadros e o grupo «Amigos da Fundação António Quadros», suas principais fontes de receitas.

Organizou dezenas de exposições;

Organizou visitas guiadas, palestras, concursos e workshops, colóquios e mesas-redondas;

— Publicou 184 newsletters;

Recebeu e deu formação a estagiários e voluntários;

Tratou arquivisticamente 6 espólios e muitas outras doações incorporadas no Arquivo, na Biblioteca e na Colecção de Arte;

Tratou e acondicionou a Biblioteca, a Colecção de Arte, o Arquivo Histórico e o Arquivo SIM (som, imagem, movimento), disponibilizando-o a quem o procura.

 
02 – Prémio António Quadros 2021 ARTE: Relatório,
por Júri do Prémio António Quadros 2021.

 

Ao atribuir o Prémio António Quadros 2021, ARTE o júri quis distinguir uma obra de qualidade artística evidente e que tivesse uma ligação também à própria Fundação António Quadros. Nesse âmbito, e tendo em conta que devido à pandemia, as obras a concurso podiam ser de 2019 e 2020, foi atribuído, numa única sessão e por unanimidade o Prémio de 2021 à obra que acompanhou a exposição realizada, em 2019, no Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) Sarah Affonso, Os Dias das Pequenas Coisas.

 

O livro tem textos de Ana Rita Duro, Ana Vasconcelos, António Medeiros, Aurora Carapinha, Emília Ferreira, Joana Baião, Maria de Aires Silveira, Paulo Ribeiro Baptista, Susana Pires, e Vera Barreto e é coordenado por Emília Ferreira, directora do MNAC.

 

A obra percorre sala-por-sala a exposição em homenagem a Sarah Affonso: Os Dias das Pequenas Coisas. Tem 222 páginas, e dá-nos a conhecer, não só a obra plástica desta pintora - que trabalhou de perto com Fernanda de Castro e António Ferro - como a sua vida pessoal numa fotobiografia rigorosa.

 

A "arte" e a "vida", expostas no Museu do Chiado, revelaram uma Sarah por inteiro, e esta publicação guarda essa memória, sem mácula. Em primeiro lugar, porque o nome Sarah Affonso (1899 – 1983) tem grande importância no panorama artístico nacional, ainda que se trate de uma homenagem a uma mulher, que foi muitas outras coisas para além de pintora. Começa por ser uma artista num meio maioritariamente masculino, uma estudante de Belas-Artes numa altura em que não era bem visto as mulheres frequentarem aulas de modelo nu, escolhe Columbano para professor, prefere Matisse a Picasso, entra sozinha na Brasileira do Chiado e vai sozinha para Paris, para aprender tudo o que a cidade tinha para lhe oferecer. E também é a mulher de Almada. E mãe de dois filhos. A infância marca-a mais pelo sítio que pelas memórias felizes, uma ideia do Minho, onde viveu até aos 14 anos, e que transporta consigo. Tal como um lado de gostar de coisas “simples”, ou de "pequenas coisas" que transforma com mestria em botões, almofadas, ou quadros, como quem sabe o que faz, aquilo de que gosta. Como gostava de procissões e de bordados, de fazer ilustrações para livros infantis, esticar telas e mexer nas tintas, ler livros, ver pintura.

 

Sarah Affonso é uma mulher de escolhas, opções e imperativos. Tinha a fragilidade e a lucidez de quem sabe a diferença que existe entre um pintor e um artista. Casou aos 35 anos com um, que admirava desde sempre, desde os tempos em que ele era Poeta do Orpheu, Futurista & Tudo, e justamente na altura em que muitos acreditavam que tinha deixado de o ser. A vida foi dura, num país em que as encomendas foram sempre raras e onde a coragem para continuar também necessitava do empenho de amigos, como Fernanda de Castro ou Sophia de Mello Breyner, que a convidou para ilustrar a Menina do Mar. Deixou uma obra delicada, verdadeira, emocional, e despretensiosa. E por isso mesmo, comovente em muitos sentidos.

Oitenta e quatro anos são muitos dias vividos, o que esta obra nos recorda, é que em cada um deles, a Sarah conseguiu fazer muitas pequenas (grandes) coisas.

 

Apreciada também pelo júri, foi a qualidade da edição. Com um formato especial (mais baixo que alto), bem impresso e acabado e com materiais menos exuberantes do que o habitual em situações similares, este livro sobre Sarah Affonso é uma peça a reter.

Design depurado e adequado a um conteúdo muito bem pensado e desenvolvido, esta obra marca decisivamente a bibliografia sobre este período das artes plásticas em Portugal. A época em que viveu esta singular artista e os diversos registos empregues mostram para lhes dar corpo, com sobriedade, as diversas etapas da sua vida são elementos estruturantes que lhe conferem personalidade. O tratamento fotográfico é muito bem feito sabendo conjugar diversos “tempos” sem nunca perder de vista a importância de cada documento e a sua relação com o conjunto. Boas reproduções – inclusivé nos pretos brancos que têm muitas variantes nos originais – a relação entre o peso dos textos e das imagens é equilibrada tornando a sua leitura num prazer particular. Esta edição vem, de resto, na linha de qualidade de outras edições da “Tinta da China”, uma editora que nos habituou à sua independência.

 

03 – Prémio António Quadros 2022 HISTÓRIA: Relatório,
por Júri do Prémio António Quadros 2022.

Na atribuição do Prémio António Quadros 2022 HISTÓRIA, o júri procurou galardoar uma obra que se tivesse distinguido, entre 2020 e 2021, no âmbito da História de Portugal, uma temática tão amada e trabalhada por António Quadros.

Nesse sentido, o júri, numa única sessão, deliberou por unanimidade atribuir este prémio ao conjunto de duas obras complementares, da autoria de Henrique Leitão e Jose Maria Moreno Madrid, realizadas no âmbito das Comemorações do V Centenário do reconhecimento do Estreito de Magalhães. Este, como se sabe, abriu ao mundo a ligação entre os oceanos Atlântico e Pacifico. A importância mundial deste acontecimento levaria, séculos mais tarde a NASA a baptizar com o nome Magellan (Magalhães) uma sonda espacial que partiu para Vénus a 4 de Maio de 1989.


A complementaridade entre estas duas obras é fundamental já que, como os próprios autores afirmaram «história das primeiras representações visuais do Estreito de Magalhães entende-se muito melhor quando acompanhada dos textos que as motivaram, e vice-versa».


Com o título, Atravessando a Porta do Pacifico, Roteiros e Relatos da Travessia do Estreito de Magalhães, 1520-1620, o primeiro livro a ser editado no final de 2020, apresenta uma serie de relatos, alguns dos quais inéditos relativos aos primeiros cem anos da travessia do Estreito. O critério de selecção dos autores teve como objectivo dar a conhecer ao leitor comum as dificuldades encontradas pelos primeiros navegadores que enfrentaram um estreito desconhecido mostrando simultaneamente os aspectos técnicos, geográficos, náuticos, meteorológicos e científicos com que podiam, então, contar. 
Alguma desta documentação nunca fora publicada em Portugal passando agora a estar disponível.


Aliás, é interessante verificar que poucas obras portuguesas se têm dedicado ao estudo da viagem de Fernão de Magalhães. Felizmente, a Estrutura de Missão criada para as Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães (EMCFM) veio colmatar essa falha.


Sobre esta obra diria, no seu prefácio José Marques presidente da EMCFM (…) o seu conteúdo assente na inegável erudição dos textos originais, associado a uma bibliografia, cronologia e seleção de textos de rara excelência, tornam-no num livro único sobre a história do Estreito de Magalhães.


Por outro lado, os autores refeririam que «(…) atravessar o Estreito foi de início uma das mais temidas e mais perigosas façanhas da marinharia do século XVI e com essa travessia resolviam-se décadas de discussão sobre a geografia do novo continente americano e abria-se a porta para o Pacífico e a navegação em outros mares».

 

O segundo livro, editado em meados de 2021 com o título Desenhando a Porta do Pacifico, mapas, Cartas e outras Representações Visuais do Estreito de Magalhães, reúne setenta cartas náuticas e muitas outras representações do Estreito de Magalhães. Desenhadas entre 1520 e 1571 estão arquivadas em arquivos nacionais e estrangeiros dispersos um pouco por todo o mundo. Qualquer investigador ou estudioso poderá agora ter uma visão de conjunto muito mais alargada com a facilidade de saber aonde poderá encontrar, se assim o quiser, o original.


O resultado para a historiografia do trabalho realizado pela dupla, Henrique Leitão e José Maria Moreno Madrid, é inquestionavelmente importante. Tem o interesse suplementar ter resultado de uma parceria ibérica que, de certo modo, homenageia a parceria original Fernão de Magalhães/ Sebastian Elcano.

Sobre a construção de um novo espaço geográfico, escreveriam os autores neste segundo livro:

«Para o leitor dos nossos dias, capaz de contemplar a totalidade do globo no ecrã de um computador, pode não ser fácil entender o desafio que era, nos séculos XVI e XVII, dar forma aos novos territórios que estavam a ser alcançados. Sem fotografias de satélite, sem os processos avançados da cartografia matemática, as representações visuais da geografia – mapas, cartas náuticas, desenhos, simples esquemas e croquis, etc. – dependiam da capacidade do desenhador para abstrair o espaço observado e trasladá-lo ao pergaminho ou papel. Com frequência, esta abstracção não tinha a sua origem na observação directa, mas na consulta de fontes textuais ou em testemunhos orais. Roteiros, relatos de viagem, diários de bordo e outros documentos de natureza análoga jogaram um papel fundamental na percepção e construção do espaço geográfico».E, mais à frente, ao colocarem o livro no seu contexto diriam «Deve ter-se presente que não era só a imagem do Estreito de Magalhães e Terra do Fogo que estava a ser construída entre 1520 e 1671. Os processos de construção da imagem geográfica que descrevemos de maneira abreviada nos parágrafos anteriores não se referem exclusivamente ao espaço magalhânico, mas foi, em maior ou menor medida, o que se passou com todos os territórios que os europeus estavam a conhecer e cartografar pela primeira vez nos séculos XVI e XVII. Estas dinâmicas de circulação de informações, as dicotomias entre diferentes paradigmas cartográficos, e os múltiplos desafios criados pelas complexas geografias do globo foram relevantes e estiveram em jogo nas discussões e tentativas de representar todas as novas linhas de costa, desde o Estreito até à costa norte-americana; da ilha da Terra Nova ao litoral oriental africano, ou desde Malaca à ilha de Ternate. Avançava-se, paulatinamente, para a representação de um mundo mais global, interconectado por rotas imensas através de oceanos outrora considerados intransponíveis.»

 

Com toda a certeza, nem Magalhães nem Elcano, quando fizeram a sua viagem, em 1520, (que terminaria nesse ano com a morte de Magalhães e, seis anos depois, na segunda travessia do Estreito com a morte de Elcano) pensariam em termos de globalização, um conceito que nos é hoje tão caro. Muito provavelmente partiam motivados pela aventura, pela vontade de se superarem a si próprios e de seguirem aquilo que pensavam ser verdade.


Sabemos que quase todos os avanços da Humanidade abrem uma Caixa de Pandora que pode traduzir-se em guerras, mortes, exploração indígena, destruição da natureza etc. No entanto, há sempre um saldo muito positivo em todos eles porque, quer queiramos quer não, é assim que se cresce e, esperamos, nos poderemos tornar mais humanos, mais fraternos e mais tolerantes.

 
04 – Veva, por Joana Leitão de Barros.
Divulgação.

Genoveva de Lima Mayer Ulrich é uma mulher excêntrica que passeia o seu leopardo à trela pelas ruas de Lisboa dos anos de 1920. Organiza festas exuberantes na sua casa das Amoreiras, viaja sozinha pelo mundo, persegue caça grossa em África e convive com a alta aristocracia europeia ou até mesmo a família real britânica. Casada com o influente e sóbrio Ruy Ulrich, por duas vezes embaixador em Londres, é também novelista e dramaturga, uma intelectual que publica opinião e discorre sobre sociologia e política internacional. Opositora do nazismo e do fascismo italiano, proclama a sua anglofilia aos microfones da BBC. Gosta de provocar e embaraçar Salazar.


Neste romance histórico sobre a vida atribulada de Veva de Lima, com recurso a algumas das notas e cartas mais íntimas da aristocrata, Joana Leitão de Barros conduz-nos numa viagem apaixonante ao longo do século XX, através das causas, dos amores, das desilusões e das tragédias de uma mulher portuguesa invulgarmente surpreendente; uma grande senhora do seu tempo que quebrou padrões e desafiou tabus como ninguém nesse Portugal bem-comportado que conviveu, estupefacto, com a personalidade fascinante de Veva.


A Autora: Depois de largos anos dedicados ao jornalismo generalista e económico, Joana leitão de Barros faz a sua estreia na ficção com VEVA sobre Genoveva de Lima Mayer Ulrich, cujo percurso investigou nos últimos anos. Em 2020, recebeu com Ana Mantero, o Prémio Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, pelo livro “Leitão de Barros – A Biografia Roubada”.

 
05 – Comemorando o Dia Mundial da Dança,
por Mafalda Ferro.


Parece-nos pertinente, em comemoração do Dia Mundial da Dança, celebrado a 29 de Abril, partilhar alguma informação e imagens que deem a conhecer a Primeira Companhia de Dança profissional portuguesa, o «Verde Gaio».


No seu artigo “O «Verde Gaio» e a História do Bailado Português”, António Quadros insurgiu-se contra o silêncio que rodeava os bailados «Verde Gaio»:


Na incompreensão não se progride. É esta uma verdade sempre actual. A obra que se faz, que se ergue, pode ser criticada, mas os que no mesmo campo querem realizar, têm que contar com ela e, senão compreendê-la, pelo menos tentar compreendê-la.

Estas considerações vêm a propósito de um artigo publicado há dias nesta página literária. Pretende-se nesse artigo, assinado, aliás, por um nome que nos é desconhecido estabelecer um plano que leva á criação do bailado português. Artigo ambicioso, como se vê. Pois neste artigo não se cita existência de um grupo como o «Verde Gaio». Ignora-se. Passa-se em silêncio. O «Verde Gaio» nunca existiu. Portanto, faça-se o bailado português a partir do nada.


Chega a afligir uma atitude destas de tanta incompreensão e intolerância. O «Verde Gaio» foi entusiasticamente recebido pelos públicos de Madrid, Barcelona e Paris. Os recortes das críticas então feitas estão publicados e traduzidos em português para quem os quiser ler. A nota de admiração é, neles, unânime. Os nomes que os assinam são de personalidades responsáveis.


O «Verde Gaio» foi uma explosão de poesia, de pitoresco e de arte. A sua originalidade veio-lhe de, baseando-se em motivos populares ou históricos, os ter transportado para a cultura, para o bailado estilizado, para o convívio dos nossos artistas, dos nossos músicos e dos nossos poetas.


Ignorar o «Verde Gaio»! 

Ignorá-lo apesar do seu silêncio dos últimos anos, silêncio, aliás, prestes a quebrar-se, é mais do que uma injustiça, é um atentado á própria cultura portuguesa, na qual o «Verde Gaio» entrou, como iniciador de uma tradição nova nas nossas dimensões culturais.


Desde então, Portugal evoluiu e o «Verde Gaio» ocupa hoje o lugar que lhe pertence por direito enquanto Primeira Companhia de Bailado Português (profissional).

Recomenda-se a leitura e apreciação de duas obras literárias que são também verdadeira obras de arte e de carácter informativo sobre o «Verde Gaio».

São elas
Verde Gaio, uma Companhia Portuguesa de Bailado (1940-1950), coordenação de Vítor Pavão dos Santos que assina com Paulo Ferreira os textos publicados (Edição do Instituto Português de Museus, 1999) e História do Bailado em Portugal | History of Ballet in Portugal, de António Laginha (CTT, 2021).


Destas duas obras, retirámos alguns excertos e do acervo da Fundação, algumas imagens fotográficas.


O Grupo de Bailados «Verde Gaio» foi apesar de todas as suas contradições, apesar do período político em que se inseriu, um momento de beleza na história do espectáculo em Portugal.
Vítor Pavão dos Santos, em Verde Gaio, uma Companhia Portuguesa de Bailado (1940-1950)


Tudo leva a crer que o ideólogo do «Verde Gaio» que pertencera à primeira geração de modernistas portugueses associados ao grupo de Almada tenha assistido aos espectáculos dos «Ballets Russes» em Lisboa, 1917-1918, e posteriormente também em Paris no início dos anos XX
.
António Laginha em História do Bailado em Portugal


O «Verde Gaio» foi a primeira Companhia profissional portuguesa que se conhece, digna desse nome, nasceu em 1940 em pleno Estado Novo. A ideia de criar uma Companhia de Dança Portuguesa parece ter surgido na mente de António Ferro ainda no início da década de 1920 quando se tornou director da «Ilustração Portuguesa».
António Laginha em História do Bailado em Portugal

Em 1940, António Ferro desejou falar comigo, sobre uma ideia que ele tinha tido, para a incorporar no Programa das Realizações, dentro dos quadros da Exposição do Mundo Português. António Ferro, entusiasta dos Bailados Russos, tinha pensado realizar um espectáculo de bailado, no Teatro que tinha sido construído no recinto da Exposição. Um bailado português! António Ferro, director do SPN e Secretário-Geral dos Centenários, apresentou o espectáculo como inserido na sua «Política do Espírito», mas também como um prolongamento das grandes comemorações.

Porém, o espectáculo era, para além de uma iniciativa estatal, a concretização de um sonho muito antigo do próprio António Ferro, do bailarino e coreógrafo Francis Graça e também do compositor Frederico de Freitas, tudo personalidades bem conhecidas do grande público.
Paulo Ferreira, em Verde Gaio, uma Companhia Portuguesa de Bailado (1940-1950)



Legendas, bailados «Verde Gaio» 1940/1941
:

01, 02 – Verde-Gaio: O Muro do Derrete; 03, 06, 08 – Verde-Gaio: Imagens da Terra e do Mar; 04, 05 – Verde-Gaio: A Lenda das Amendoeiras; 07, 12 ­– Verde-Gaio: Dança da Menina Tonta; 09 – Verde-Gaio: D. Sebastião; 10 – Verde-Gaio: [bailado não identificado]; 11 – Verde-Gaio: Inês de Castro; 13 – Verde-Gaio: O homem do cravo na boca.

 
06 – Sete Canções Órficas.
Divulgação.


A BAAL 17 (Companhia de Teatro na Educação do Baixo Alentejo e a Companhia de Teatro João Garcia Miguel) criou a peça “Sete Canções Órficas” que estará em cena em Lisboa, no Teatro Ibérico, até dia 22 de Maio e no Teatro-Cine de Torres Vedras a 3 de Junho. A peça, tem a Direcção Artística de João Garcia Miguel. Os actores são André Marques, Frederico Barata, Filipe Seixas, Sara Ribeiro e Rolando Galhardas.

O texto de Francisco Luís Parreira “Sete Canções Órficas”, gerada em torno do mito de Orfeu, serve como ponto de partida para uma obra que “interroga de forma prosaica o nosso tempo. É uma peça sobre o encontro e o tempo de vida que temos e o que fazemos com ele. Um poeta hoje como ontem quer fazer dançar as pedras, as árvores, os corpos. E interroga-se sobre as suas palavras e os seus gestos”, lê-se na sinopse da peça.

 
07 – Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa (edição ampliada).
Divulgação e Convite.

A edição revista e ampliada do Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa será apresentada por Clara Frayão Camacho no próximo dia 18 de Maio às 16h, no MNAC, integrando a programação do Dia Internacional dos Museus. A entrada é livre, todos estão convidados.
Esta nova edição, coordenada por Raquel Henriques da Silva, Emília Ferreira, Joana d'Oliva Monteiro e Elisabete Pereira, acrescenta 96 novas entradas às 93 publicadas em 2019 e será, a partir do dia 18, disponibilizada online no site do IHA (Instituto de História da Arte).

 
08 – Livraria António Quadros. 
Promoção do mês:

TítuloAntónio Quadros e António Telmo: Epistolário e Estudos Complementares. 

Coordenação e Introdução: Mafalda Ferro; Pedro Martins; Rui Lopo.

Prefácio: António Carlos Carvalho. Posfácio: João Ferreira.

Estudos complementares: António Quadros Ferro; Pedro Martins; Rui Lopo.

Nota biográfica de António Quadros: Mafalda Ferro.

Nota biográfica de António Telmo: Pedro Martins.

Fotografia de capa: Carlos Aurélio.

Edição – Fundação António Quadros e Labirinto de Letras (José António Barreiros), 2015.

PVP (promoção até 14 de Junho): 10,00.

 
 
     
 
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