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Newsletter Nº 185 / 14 de Junho de 2022
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

ÍNDICE

01 –
A Paixão de Fernando P. romance inédito de António Quadros, por Fundação António Quadros.
02 – PESSOA, Uma Biografia de Richard Zenith, por Mafalda Ferro.
03 – Homenagem a Lima de Freitas, 95 anos depois do seu nascimento, por Mafalda Ferro.
04 – Entrevista a José Carlos Seabra Pereira: António Quadros e o Livro do Desassossego, por Ricardo Belo de Morais.
05 – Domingo de Pentecostes na Arrábida, 31 anos depois (1991/2022), por Guilherme d’Oliveira Martins.
06 – O Retiro de António Quadros: Rio Maior, Santo António e as laranjas, por Luís Silva Moreira.
07 – O meu fado entre os fadistas. Meio século de convivência nem sempre pacífica, de Daniel Gouveia, por Mafalda Ferro
08 – Livraria António Quadros: Promoção do mês – Obras em Prosa e Poéticas de Fernando Pessoa: Edições Europa-América. Vários Lotes.


Editorial,
por Mafalda Ferro

Dedicamos este número a José de Lima de Freitas (95 anos depois) e a Fernando Pessoa (134 anos depois), ambos nascidos no mês de Junho. Mas, é impossível escrever sobre qualquer um deles sem mencionar António Quadros cuja vida se cruzou com a de ambos, quer física, quer intelectualmente.

Com grande pena nossa, por motivos aos quais somos alheios, fomos obrigados a adiar a cerimónia de entrega dos Prémios António Quadros 2021 ARTE e 2022 HISTÓRIA para depois do Verão, em data ainda não definida. 

A partir do próximo dia 27 de Junho estará patente na Fundação a exposição «António Quadros, ‘Portugal, Razão e Mistério’ e a Filosofia Portuguesa» que acompanha a Mesa Redonda a realizar no mesmo local no dia 16 de Julho, mês do nascimento de António Quadros (há 99 anos).

Se puder, não deixe de ouvir a entrevista a José Carlos Seabra Pereira sobre António Quadros e o Livro do Desassossego. Link disponível no artigo «3».

Lembramos com saudade, Luís Silva Moreira,  personalidade fundamental para a construção da Fundação António Quadros. Luís Moreira foi, inicialmente, membro da Comissão Instaladora tendo, posteriormente, integrado o Conselho de Administração.


Um dia, de visita ao retiro de António Quadros em Rio Maior, hoje sede da Fundação, escreveu e publicou uma crónica que reproduzimos hoje, em sua homenagem.


Infelizmente, uma doença terminal levou-o pouco depois, no dia 8 de Julho de 2009.

Ainda hoje o seu pensamento constitui, para mim, fonte de inspiração.

 
01 – A Paixão de Fernando P. excerto do romance inédito de António Quadros,
por Fundação António Quadros

Celebrando Pessoa, 134 anos depois do seu nascimento, transcreve-se aqui um excerto do ultimo romance de António Quadros escrito no início dos anos 90 em Vale de Óbidos “A Paixão de Fernando P.”, acervo da Fundação António Quadros, em preparação para publicação.

 

Interessa perceber que, apesar de n´A Paixão de Fernando P. a personagem principal ter uma relação com uma Cordélia em vez de com uma Ofélia, o conteúdo deste romance, é principalmente fruto do seu pensamento e conhecimento sobre a vida, a personalidade e a obra de Fernando Pessoa.


Convivendo desde muito novo com a memória e a obra de Pessoa através de António Ferro, seu pai, António Quadros aprendeu a entendê-lo e conhecê-lo muito antes de, em 1960 (Fernando Pessoa. Colecção “A Obra e o Homem”, n.º 3. Lisboa, Editora Arcádia) começar a publicar, a reeditar e a organizar a sua obra, a escrever sobre ele ou a proferir conferências em Portugal e no estrangeiro.

 

À laia de introdução, António Quadros escreve: Todos julgam saber quem é Fernando P. Mas não o sabem. Nem o autor o sabe. Nem o próprio Fernando P. o sabia.

 

A PAIXÃO DE FERNANDO P. (excerto)

[...] Mais tarde, como a pulsão do desejo e do amor lhe voltasse muitas vezes, pensou noutro género de mulheres. Afinal porque não? Encontrou algumas que o atraíram, mas elas ficaram sempre longe, porque nunca foi capaz de saltar o fosso enorme de se aproximar, sequer de lhes dirigir uma palavra fora de propósito. Tivera uma educação puritana, uma educação inglesa num meio provincial e em fins do século XIX, quando o espírito da Rainha Victória ainda dirigia as etiquetas, as maneiras e sobretudo as consciências.

Não se via ao lado de uma rapariga que fosse também uma senhora, capaz de lhe propor fosse o que fosse ou de ter com ela uma dessas conversas de circunstância, recheadas de alusões sociais e de galanteios velados.

E, depois, na Lisboa do tempo, nos primeiros anos do século XX, embora, as raparigas do seu meio fossem flores de estufa em ambientes muito fechados, só se davam com amigos de infância, farejando os pedigrees dos rapazes que delas se aproximasse com uma intuição rápida e certeira.

Ele era ainda o estrangeiro, afinal. O exilado dividido entre a pátria onde fora educado e a pátria da sua origem e do seu presente, dividido afinal, como alguém viria a dizer, entre dois exílios.

 

Solitário, tendo vivido anos em quartos alugados e ganhando a vida com traduções e trabalhos de circunstância, Fernando não tinha também muitas ocasiões para frequentar ambientes mundanos ou sequer para conviver. Olhava de longe, divisava vultos por detrás de janelas fechadas, encontrava-se com amigos e conhecidos nos cafés, nas casas de pasto, em restaurantes baratos. Era raro que falasse com alguém nas tabernas e bares que visitava com assiduidade. Não era um igualitário. Desgostava-se das atmosferas ordinárias desses lugares, mas não havia outro remédio porque não tinha dinheiro para bebidas caras, para o porto, para o whisky. Havia felizmente também a aguardente, o bagaço e a ginginha. Fernando P. entrava sem olhar para os lados, dirigia-se de imediato ao balcão, não raro fingia-se estrangeiro, um inglês, emborcava de uma vez só o copo, e logo a seguir o outro, pagava e saia sempre sem olhar para os lados, muito direito, muito digno, restando-lhe, e isto até ao fim da vida, a pequena vaidade de saber que o álcool nunca lhe subia à cabeça, pelo menos ao ponto de ser visível e de fazer tristes figuras.

 

De verdadeiro, de grande na sua vida, só os seus versos, os seus escritos, as suas prosas só esse universo invisível em que era rei e senhor, em que a solidão se lhe transmutava em grandeza e em que todo o vazio da sua existência exterior se lhe sublimava em paixão criadora, em convicção de que ia mudar os homens, o mundo, a sua pátria, restituindo-os à sua nobreza prometida e ao destino transcendente para que tinham sido criados.

Nos seus períodos mais criadores, no arrebatamento e na elevação do seu espírito, ele próprio escrevera um dia, tinha pensamentos que, se conseguisse realizá-los, acrescentariam uma nova luz às estrelas, uma nova beleza ao mundo e um maior amor no coração dos homens.

 

Mas havia, no teatro da sua alma, uma assintonia fatal entre o vazio e o pleno platónico, o mundo interior da sua imaginação, a sua pulsão de ascese, a convergência das suas ideias numa vontade de levitação, o seu ser para dentro, vazia, angustiosa e egocêntrica a sua existência de órfão de pai, quase de mãe, homem solitário obrigado a reprimir continuamente a sua saudade da infância feliz.

Só o álcool, o fogo de Dionísio, o aliviava temporariamente dessa doença, dessa contradição, dessa aporia que lhe roubava a paz, a tranquilidade, a entrega total a valores mais e mais altos.

Como poderia curar-se deste padecimento permanente? Antes de conhecer Cordélia sentia-se cada vez mais só e mais abandonado Pouco a pouco quebravam-se-lhe todos os laços.

 

Em breve ficaria sozinho, pensava muitas vezes.

O seu mundo interior era-lhe bálsamo, era-lhe a razão de viver, mas não chegava. Não era capaz de dominar com pulso de ferro o entrechocar das suas emoções angustiadas de solidão, por vezes desesperadas, ao perguntar-se o que fazia nesta existência, que o rejeitava e onde todas as suas acções, versos, pensamentos não passavam de riscos na areia, que ninguém via, todos pisavam sem um relance, que a primeira onda apagaria.

Não aprendera, a não ser falsamente, pela interposta pessoa de uma das suas criações literárias, a do Ricardo, a sentir-se como um heleno, um apolíneo, um estoico.

 

Ao vê-lo sereno, suave, de semblante imperturbável, com o seu sentido de humor muito britânico, mal sabiam os seus amigos, mesmo os amigos dilectos, o que eram os seus ciclones nocturnos, as suas intermináveis insónias, a pergunta obsessiva que fazia a si próprio: porquê? Porque me castigaram os deuses com esta inteligência, com esta agudeza, com este talento, com esta intuição metafisica, se foi para eu continuar a ser um pobre abandonado, sedento de um amor utópico, que não está ao seu alcance. Porque, ó Sagrado, escrevera num poema inacabado, sobre a minha vida derramaste o teu verbo? Maldito o dia em que pedi a ciência. Mais maldito o que a deu porque me a deste.

 

E depois, este obsessivo medo da loucura (em si próprio já uma loucura) que o assolava nos seus instantes mais desvairados. O medo da loucura, o temor do suicídio, a fuga pelo álcool eram as três pragas que nunca o deixavam, como aguilhões aplicados nos pontos mais dolorosos da sua psique.

 

Por vezes chegara a admitir que o amor, um amor como os outros, um amor simples com uma rapariga simples, poderia salvar a humanidade que nele havia também, aproximando os dois continentes cindidos que em seu ser se degladiavam. Dizem que o amor é a união ou a virtualidade da união. É estulto dizê-lo, porque tudo neste mundo fluí, evoluí, esmorece e degenera. Há contudo uma hora para ser sábio e uma hora para ser ingénuo. A ingenuidade é um baixar das defesas críticas, um ver o universo com olhos de criança, um entregarmo-nos à ilusão sem cuidarmos de saber se é ou não ilusão, um deixarmo-nos tomar pelo nosso ser mais profundo e antigo, antes de nós gerado, para dar um sentido às nossas existências.

 

Há dez anos, Cordélia, a mulher criança que era a própria essência da ingenuidade e que no entanto sabia o que era o amor sensual, podia dá-lo e inspirá-lo num plano outro daquele, vil, que até então conhecera… Há dez, ou fora há nove anos? Entrara na sua vida, modificara-o de alto a baixo, dera-lhe esperança, prometera-lhe uma plenitude num e noutro hemisfério do seu ser.

Fora em 1920, ele já passara os trinta anos, ela não tinha ainda vinte. Aproximaram-se. Tocaram-se fugazmente. Tinham estado muito perto um do outro. Tinham feitos promessas em comum, tinha parecido possível. Ela já não sabia quem ele era, não conhecia e nunca conheceria a natureza infinitamente complexa do seu espírito. Ainda bem, porque só os diferentes podem ser complementares, ele era um arquétipo do intelectual, devotado à vida do espírito, ela era um ser da natureza, de emoções simples e primárias, espontânea como todas as coisas simples e verdadeiras.

[...]

 

02 – PESSOA, Uma biografia de Richard Zenith,
por Mafalda Ferro

Prólogo: Quando o sempre esquivo Fernando Pessoa morreu no Outono de 1935, em Lisboa, poucas pessoas em Portugal compreenderam que se tinha perdido um escritor extraordinário e ninguém teve a menor noção daquilo que o mundo iria ganhar: um dos mais valiosos e estranhos corpos de literatura produzidos no século XX. [...]


Segundo o autor desta obra monumental e há muito esperada, uma biografia tem o seu quê de subjectivo e, embora o autor tivesse tentado ser objectivo, não interpretar excessivamente, apresentar a real vida de Pessoa e deixar o leitor tirar as suas próprias conclusões, não conseguiu evitar completamente que o seu ponto de vista transparecesse mesmo que subtilmente.


Fernando Pessoa entrou na vida de Zenith quando este tinha apenas vinte e dois anos e, nos Estados Unidos, leu pela primeira vez, em português, alguns poemas de Alberto Caeiro e a Tabacaria de Álvaro de Campos que, de imediato o fascinaram.


Quando começou a escrever esta biografia, Zenith trabalhava Pessoa há já duas décadas, tinha-o lido, traduzido e editado, tinha realizado muitas entrevistas e pesquisas não só no seu espólio mas também em muitos arquivos, sabia já que a grande diferença entre os heterónimos de Pessoa e os de muitos outros autores estava patente na profundidade de cada uma das suas personalidades alternativas e no facto de as ter começado a construir ainda enquanto criança muito pequena.


A obra narra e explica a relação de Pessoa com a política, com a religião, com o amor, com os outros e, até, consigo próprio; a sua castidade não representava a negação do sexo; a sua sexualidade bem como a relação que manteve com Ofélia vivem na sua escrita, nos seus poemas ou em situações encenadas.


Os poemas e os textos em prosa eram ele, a própria pessoa dele, ou os fragmentos da pessoa, ou Pessoa, que não existia enquanto tal. A sua vida sexual? A sua vida espiritual? Podem ser encontrados na escrita dele e em mais lado nenhum que não nela. Não existe um Pessoa secreto para o biógrafo revelar. [PESSOA, p. 1046]


Zenith refere ainda que em 1928, Pessoa, como quase todos os portugueses, aceitou Salazar enquanto Ministro das Finanças, na esperança de uma mudança, da chegada do Quinto Império, que mesmo depois de 1933, continuou a dar-lhe o benefício da dúvida mas em 1935 era já completamente anti-salazarista: Para Pessoa, a PALAVRA era sagrada e era, para ele, inaceitável que a censurassem. Além disso não suportava o autoritarismo. 


Ainda no entender do autor, apesar de Salazar não se interessar pela cultura, aceitava que António Ferro a promovesse. Lembra ainda que foi parcialmente devido à iniciativa de Ferro que Pessoa conseguiu publicar a Mensagem e, com ela, ganhar o Prémio Antero de Quental. [PESSOA, p.399]

Passei um dia longo e inesperadamente frutuoso a consultar o espólio de António Ferro da Fundação António Quadros em Rio Maior. Como fervoroso promotor quer da cultura portuguesa quer do ditador António de Oliveira Salazar, Ferro permanece uma figura acaloradamente debatida, e cumprimento a Fundação, sob a direcção de Mafalda Ferro, por disponibilizar livremente os papéis dele a todos os investigadores, sem quaisquer restrições. [PESSOA, p.1971]

Fontes: 
PESSOA, de Richard Zenith;
Grande Entrevista a Richard Zenith, RTP, Junho de 2022.

 
03 – Homenagem a Lima de Freitas, 95 anos depois do seu nascimento,
por Mafalda Ferro

Em homenagem ao pintor, desenhador e escritor Mestre Lima de Freitas nascido em Setúbal a 22 de Junho de 1927, há 95 anos, partilhamos aqui um retrato de Fernando Pessoa de sua autoria e um auto-retrato, além de um artigo que sobre ele António Quadros publicou.

Mestre Lima de Freitas foi grande amigo, colaborador e parceiro de António Quadros que por ele nutria também uma imensa admiração e profunda amizade.

Helle e José Lima de Freitas tinham uma casa no Algarve onde por vezes, no Verão, recebiam o António Quadros e a sua mulher, Pó.

Por vezes íamos a Porches visitá-lo, tinha lá uma olaria / oficina de cerâmica / loja por ele fundada em 1968 com o artista irlandês Patrick Swift. Tinha peças lindas e nunca nos vínhamos embora sem comprar pelo menos uma.


Lima de Freitas foi o primeiro director do IADE, fundado em 1969 por António Quadros; é de sua autoria o primeiro logótipo do IADE.


O acervo da Fundação António Quadros integra documentos, obras de arte, catálogos, livros e medalhas, entre muitas outras peças de sua autoria.

Existe inclusivamente a serigrafia de uma pintura linda a que chamei «Menina», em tons de azul, com dedicatória manuscrita do autor para António Quadros e para sua mulher "Para a Pau e o António, com um abraço amigo Lima de Freitas".

A minha mãe era por todos conhecida por «Pó» mas Lima de Freitas sempre pronunciou e, aparentemente, escreveu, o seu petit nom à francesa: «Pau».


O artigo de António Quadros que aqui se reproduz, foi publicado no âmbito de uma Mostra retrospectiva da sua obra realizada no Museu de Setúbal, cidade onde nasceu, como anteriormente referido, há 95 anos.


Quase no início do artigo, António Quadros escreve:

A Mostra confirmou, a meu ver, estarmos em presença, se de pintura tivermos o conceito leonardino de pintura mental, não só do maior artista português da nossa época, como ainda de um artista de que dificilmente encontraremos equivalente no panorama artístico mundial.

Importa ler o artigo completo.

 
04 – Entrevista a José Carlos Seabra Pereira: António Quadros e o Livro do Desassossego,
por Ricardo Belo de Morais

Há cinco anos que realizo, na webRádio Movimento, o programa semanal “Fernando Pessoa Para Todas as Pessoas”, emitido para as redes sociais Facebook, Twitter, Twitch e Youtube. É um programa dedicado a assuntos gerais de Fernando Pessoa vida e obra, estando no ar às terças-feiras, entre as 20h00 e as 21h00 (hora de Lisboa).

Este 2022, decidi acrescentar-lhe o novo “Programa do Desassossego”, a propósito dos 40 anos que passam sobre a edição pela Ática, em 1982, do “Livro do Desassossego de Bernardo Soares”, com organização de Jacinto do Prado Coelho, Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha.

O “Programa do Desassossego” estreou a 11 de Janeiro de 2022 e está no ar às terças-feiras, entre as 21h e as 22h (hora de Lisboa), cobrindo apenas pormenores ligados a esta obra em particular. O meu objectivo é, ao longo deste ano, entrevistar dezenas de nomes da comunidade artística, literária e académica mundial que trabalha (com) o legado pessoano. As influências literárias francesas, inglesas, portuguesas e árabes no Livro, a importância da obra para o turismo literário em Portugal, o seu carácter fragmentário e diarístico, os vários planos pessoanos de edição do Livro, a sexualidade da obra e as suas mais importantes edições, nacionais e internacionais, serão apenas alguns dos temas em abordagem.

Neste último particular, não quis deixar de abordar a histórica edição de 1986 do Livro, organizada por António Quadros e publicada em edição de bolso pela Europa-América. Com os bons auspícios da Fundação António Quadros, pude entrevistar o Professor José Carlos Seabra Pereira, para ajudar-me a recordar e frisar, aos meus ouvintes e espectadores, a importância capital desta edição e o papel inamovível de António Quadros nos estudos pessoanos!

[Clique para ouvir: 
https://youtu.be/kHvg5pXXjno]

 
05 – Domingo de Pentecostes na Serra da Arrábida, 31 anos depois (1991/2022), 
por Guilherme d’Oliveira Martins.

Saúdo muito especialmente todos quantos nesta mágica Serra da Arrábida celebram o Espírito Santo, como marca indelével da Cultura Portuguesa.

Ao ouvirmos os poemas de Frei Agostinho da Cruz compreendemos como a cultura da língua portuguesa é feita de humanismo e diversidade.


Pedi à Mafalda Ferro que pudesse enviar-vos esta breve reflexão, para deixar claro o que tantas vezes ouvi aos meus amigos Agostinho da Silva e António Quadros.


Longe de qualquer saudosismo, do que falamos é de saudade do futuro, como nos ensinou o Padre Vieira, na sua oratória marcada em letras de bronze na nossa memória.


Por isso a “Chave dos Poetas” é universalista e baseada no poder do espírito.


Agostinho foi, assim, o grande pedagogo das perguntas e de uma educação centrada nas pedras vivas.

É a dignidade humana e a dignidade do trabalho que importa defender e salvaguardar.


Os valores éticos exigem compreensão de como somos imperfeitos, mas perfectíveis.


Também António Quadros nos deixou o exemplo da importância de olhar para diante, longe do improviso e em nome de uma vontade determinada.


A melancolia de D. Duarte não esqueceu, por isso, a ligação entre lembrança e desejo – entre encontro e cuidado.


A pedagogia da arte e pela arte, significa a ligação entre educação, ciência e cultura.


O fatalismo do atraso não faz parte do nosso horizonte.


Somos porque queremos, seremos enquanto quisermos.


É de liberdade que falamos e de um patriotismo prospectivo que nos leve a sermos melhores!


Que nos ensina o Pentecostes? O respeito mútuo, a humanidade, direitos e responsabilidades, a coroação de um menino ou de uma mulher e uma cultura de amor e de paz.


Eis a actualidade deste tempo de tanta incerteza.


Língua de várias culturas. Cultura de várias línguas.

Eis a riqueza do encontro de culturas – que o Pentecostes suscita e anima!

 
06 – O Retiro de António Quadros: Rio Maior, Santo António e as Laranjas, 
por Luís Silva Moreira


Por desafio de ternura fomos, em grupo, a sítio de família, ali ao fundo do Vale de Óbidos, onde o cheiro a pinha e eucalipto do Oeste tocam o Ribatejo. Levávamos em ideia uma tarde de conversa escorreita, sem pressas, entremeada de bons silêncios, como fuga à rotina da urbe, da qual alguns de nós ainda não se escaparam de vez. E assim aconteceu.


Mas como os nossos dias são de aprendizagem permanente, recebemos muito mais. A conversa fluiu, lagarteando entre cadeiras estendidas à volta de piscina redonda, correu pelas gargantas fresco vinho branco e aconteceram os desejados silêncios, só possíveis entre amigos. Mas respirava-se já aroma próprio, que não só o de gente em descanso por horas. Havia algo de intemporal no ar, que se pressente sem logo saber definir, sentindo-nos progressivamente maduros para aquele ambiente outro, onde tínhamos desaguado.


Aquela casa rural, assim mantida, somente retocada para cómodos de família, foi refúgio de escritor, campo lavrado pela filosofia, mantendo-se local de criatividade. Fomos encontrando a noção clara de que estávamos, por via da amizade, em terreno de gente que marcou e marca a nossa terra, de forma maior, fazendo de cada momento uma inscrição na vida, de cada reflexão um trabalho de futuro.


Naquele que foi retiro de António Quadros, respirávamos então, em pleno, o tal aroma eterno que só os homens que ferram o tempo sabem deixar. Perguntei a mim mesmo se naquele escritório teria sido mastigada, em escrita, a obra Portugal, Razão e Mistério, que tanto me impressionou. Quis acreditar que sim. Percorrendo os espaços vários da casa, pequena em área mas enorme na vivência, esbarrar com citações de José Régio nas paredes já não causava surpresa.


António Quadros, de quem nos separámos temporariamente, no fim do século vinte, foi o anfitrião permanente, que só o estado numa vida já plena nos afastou da conversa, naquela tarde. Ele estava ali, inteiramente presente, como homem maior das nossas letras e nome incontornável da filosofia portuguesa. Em sua casa, foi-nos apresentando o terreno que tratava, as sardinheiras ao seu cuidado, as laranjas que tinha feito crescer. Marcantes são as palmeiras, por si escolhidas, representando as muitas paragens do sentir português, de que tanto nos falou.


Porque a família é prolongamento que fica de vida construída, fomos bebendo, ao longo dos anos, e nesse dia em especial, os relatos e gestos de um tom concreto de olhar o mundo. Pó Ferro, com a postura própria da idade, deixou-nos sinais de décadas.
Rita, um ferro já marcado em textos e capas desejadas, é aparo de escrita herdada.
António, assume projecto, pensado e posto de pé por António Quadros, de levar gerações a criar bom desígnio, a imagens e mensagens em Portugal. 
Mafalda, interiormente de Ferro, divide amizade pelos ambientes por que passa, mantendo, como que resguardado, um olhar de infanta, traduzido no amor pelas crianças que, através do Pai, recebeu da Avó Fernanda de Castro. Assumindo esta neta de António Ferro, filha da cultura, o papel de guardiã do baú comum, fá-lo com uma alegria contagiante. Tão contagiante que iniciou um projecto de comunhão de vontades, de forma a que Portugal possa contar, em breve, com uma instituição cultural centrada na filosofia portuguesa, num contemporâneo olhar sobre a nossa riquíssima arte popular, com alcance que abraçará todo o espaço da lusofonia.

À sombra das palmeiras, feitas portuguesas, foram partilhadas ideias sólidas de forma a ser desdobrado um espantoso espólio, ora publicado ora arquivado, mas acima de tudo inscrito na realidade portuguesa. Este sonho, que começa a ser realidade, permitirá às gerações futuras usufruir e participar em projectos ancorados num denominador comum, que trespassa esta família. Um amor enorme por Portugal.


Deixámos este templo do saber já noite, reconhecendo o benefício que representará prolongar, pelo mundo, a importância da fusão memória de origens e saudades do futuro tão cara a esse patriarca do pensamento que foi António Quadros.


Só aí reparei que aquela casa tinha nome, Pomar de Santo António.

Mais uma vez aí estava, através da palavra, síntese perfeita entre aquilo que a terra dá e o que o Espírito leva a construir.

Crónica «Olá / Semanário» 1 de Junho de 2007.
 

07 – “O meu fado entre os fadistas. Meio século de convivência nem sempre pacífica”, de Daniel Gouveia,
por Mafalda Ferro

 

Daniel  Gouveia acaba de publicar “O meu fado entre os fadistas. Meio século de convivência nem sempre pacífica”. Linda-a-Velha, DG Edições, 2022.

O livro tem capítulos dedicados aos grandes nomes do fado, seus contemporâneos e com quem conviveu de perto. Nomes como António Melo Correia, Alfredo Marceneiro, Carlos Zel, Carlos do Carmo, José Pracana, Segismundo de Bragança, Carlos Paredes, Amália Rodrigues, António Chainho, João Ferreira da Rosa, José da Câmara, Vicente da Câmara e, até tem um capítulo dedicado â família Quadros Ferro em que salienta em especial a poetisa Fernanda de Castro cujas letras (poesia, fados e marchas) foram cantadas por Maria João Quadros, Ada de Castro, Gonçalo da Câmara Pereira, Margarida Homem de Sousa, Mariana Bobone,
Ana Margarida Dias, Maria João Moreno, Regina Lorena e Miguel Barata-Feyo, entre outros; e também a momentos ou projectos como a tertúlia «Fado da Tasca», os «Seminários de Letristas» ou «A fadistagem do Norte».


Nascido em Lisboa (1943), o autor frequentou a Faculdade de Letras e o IADE (1970/1971) onde fotografou personalidades como Fernando Namora e António Quadros, e 
continua a sua incessante actividade de autor, editor, tradutor, consultor literário e colaborador em grande número de obras literárias como autor.
Mantém uma relação próxima com a Fundação António Quadros e as suas fotografias de António Quadros ilustram diversas actividades, patentes inclusive nos cabeçalhos do Site e da Newsletter.

Depois de, em 1958, frequentando o 5.º ano do Liceu Gil Vicente, ter fundado o «Quinteto Académico» no âmbito do qual gravou discos como pianista, vocalista e compositor, Daniel Gouveia foi compositor e intérprete musical, escreveu cadernos de 12 discos da colecção «Biografias do Fado» e de 23 discos da colecção «O Fado», assinou letras e músicas para fado de Lisboa. 
 

08 – Livraria António Quadros, em homenagem a Fernando Pessoa, 4 Lotes em Promoção do Mês. 
Não acumulável com outras promoções.

Colecção Livros de Bolso Europa-América, Lisboa: Publicações Europa-América, 1986. Editor: Francisco Lyon de Castro. Introdução, organização, notas, biobibliografia por António Quadros.


Lote de 13 obras: PVP: 52,00€

N.º 435 – Obra Poética de FP: Mensagem e outros Poemas Afins

N.º 437 – Obra Poética de FP: Poesia II. 1930 – 1933.

N.º 439 – Obra Poética de FP: Poemas de Alberto Caeiro.

N.º 440 – Obra Poética de FP: Odes de Ricardo Reis.

N.º 466 – Obra em Prosa de FP: Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas.

N.º 467 – Obra em Prosa de FP: Textos de Intervenção Social e Cultural. A Ficção dos Heterónimos.

N.º 468 – Obra em Prosa de FP: Livro do Desassossego por Bernardo Soares, 1.ª parte.

N.º 469 – Obra em Prosa de FP: Livro do Desassossego por Bernardo Soares, 2.ª parte.

N.º 470 – Obra em Prosa de FP: Ficção e Teatro: O Banqueiro Anarquista; Novelas Policiárias; O Marinheiro e outros.

N.º 472 – Obra em Prosa de FP: Portugal, Sebastianismo e Quinto Império.

N.º 473 – Obra em Prosa de FP: Páginas de Pensamento Politico I. 1910 – 1919.

N.º 474 – Obra em Prosa de FP: Páginas de Pensamento Politico II. 1925 – 1935.

N.º 475 – Obra em Prosa de FP: Páginas sobre literatura estética.

Lote de 8 obras: PVP: 32,00€

N.º 435 – Obra Poética de FP: Mensagem e outros Poemas Afins

N.º 440 – Obra Poética de FP: Odes de Ricardo Reis.

N.º 467 – Obra em Prosa de FP: Textos de Intervenção Social e Cultural. A Ficção dos Heterónimos.

N.º 468 – Obra em Prosa de FP: Livro do Desassossego por Bernardo Soares – 1.ª Parte.

N.º 469 – Obra em Prosa de FP: Livro do Desassossego por Bernardo Soares - 2.ª Parte.

N.º 473 – Obra em Prosa de FP: Páginas de Pensamento Politico I. 1910 – 1919.

N.º 474 – Obra em Prosa de FP: Páginas de Pensamento Politico II. 1925 – 1935.

N.º 475 – Obra em Prosa de FP: Páginas sobre literatura estética.

Lote de 4 obras: PVP: 16,00€

N.º 467 – Obra em Prosa de FP: Textos de Intervenção Social e Cultural. A Ficção dos Heterónimos.

N.º 469 – Obra em Prosa de FP: Livro do Desassossego por Bernardo Soares - 2.ª Parte.

N.º 473 – Obra em Prosa de FP: Páginas de Pensamento Politico I. 1910 – 1919.

N.º 474 – Obra em Prosa de FP: Páginas de Pensamento Politico II. 1925 – 1935.

Lote de 2 obras: PVP: 8,00€

N.º 473 – Obra em Prosa de FP: Páginas de Pensamento Politico I. 1910 – 1919.

N.º 474 – Obra em Prosa de FP: Páginas de Pensamento Politico II. 1925 – 1935. 
 
 
     
 
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