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Newsletter Nº 189 / 14 de Outubro de 2022
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros
Índice

01 – Exposição «António Ferro, Francis e o Verde-Gaio: Arte, Talento e Alma», por Mafalda Ferro.

02 Mesa Redonda II: «Re(Pensar Portugal à Luz de Portugal, Razão e Mistério de António Quadros. Divulgação e convite.

03 Lembrando Orlando Vitorino no centenário do seu nascimento: Alguns projectos partilhados com António Quadros e uma carta inédita, por Mafalda Ferro.

04 Elucidário do estudante curioso por um antigo professor, por Joaquim Domingues [e Mafalda Ferro].

05 Livraria António Quadros: Em promoção até 14 de Nov., António Ferro: 120 anos. Actas.


Editorial,

por Mafalda Ferro


Depois de várias peripécias, é com muita alegria que a Fundação tem, enfim, data marcada para a entrega dos Prémios António Quadros correspondentes aos anos de 2021 e de 2022.


O Prémio António Quadros 2021 ARTE será entregue à obra Sarah Affonso: Os dias das pequenas coisas nas mãos de Emília Ferreira directora do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), entidade coordenadora da obra. 
Felicitaremos os representantes da Editora «Tinta-da-China» cujo excelente trabalho contribuiu de forma decisiva para a atribuição deste Prémio e prestaremos também homenagem aos autores dos textos incluídos na obra: 

Ana Rita Duro, Ana Vasconcelos, António Medeiros, Aurora Carapinha, Emília Ferreira, Joana Baião, Maria de Aires, Paulo Ribeiro Baptista, Susana Pires, Vera Barreto.

O Prémio António Quadros 2022 HISTÓRIA será entregue ao conjunto de duas obras que com a mesma autoria se complementam:

- Atravessando a Porta do Pacífico. Roteiros e Relatos da Travessia do Estreito de Magalhães, 1520-1620. Lisboa: By the Book, 2020;
Desenhando a Porta do Pacífico. Mapas, Cartas e outras representações visuais do Estreito de Magalhães, 1520-1671. Lisboa: By the Book, 2021.


A receber o Prémio, estarão os autores Henrique Leitão e Jose Maria Moreno. Prestar-se-á também homenagem à Editora «By the Book» criadora desta Magnífica obra.


Os Prémio serão entregues pelos jurados Margarida Magalhães Ramalho, Margarida Belém e Henrique Cayatte.




A cerimónia contará com a participação de Filipe Santana Dias, presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, e de Mafalda Ferro, presidente da Fundação António Quadros.

Agradece-se muito sinceramente os apoios recebidos:

- Câmara Municipal de Rio Maior;
- Biblioteca Municipal Dr. Laureano Santos;
- Casa da Caldeira;
- Doces d'Aldeia;
- Europort United Wines;
- Loja do Sal;
- E ... quantos mais se quiserem associar.




Local: Rio Maior, Fundação António Quadros / Biblioteca Laureano Santos.
Data e hora: Sábado, 5 de Novembro de 2022, 15,30h.

ENTRADA LIVRE.

 
01 – Exposição «António Ferro, Francis e o Verde-Gaio: Arte, Talento e Alma»,
por Mafalda Ferro


Local: Rio Maior, Fundação António Quadros / Biblioteca Laureano Santos,

Inauguração: Terça-feira, dia 24 de Outubro de 2022, 16h.

Encerramento: Quinta-feira, 24 de Novembro de 2022.

ENTRADA LIVRE.

Prestando homenagem ao coreógrafo e bailarino Francis Graça, 120 anos depois do seu nascimento (07/11/1902) e a António Ferro, no mês em que se completam 66 anos da sua morte (11/11/1956), a Fundação António Quadros inaugura uma exposição sobre o grupo de bailado «Verde-Gaio» que António Laginha, na sua obra “História do Bailado em Portugal” (Edições CTT, 2020), define como a “Primeira Companhia Profissional de Bailado Portuguesa”.

A exposição «António Ferro, Francis e o Verde-Gaio: Arte, Talento e Alma» apresenta um conjunto inédito de fotografias, obras de arte e literárias, convites, programas, imprensa. João de Castro, provedor da Misericórdia de Rio Maior conta a história dos Ballets Rousses, do «Verde-Gaio» e de [Maria] Ernestina Moreira [Viana de Carvalho] (Tininha), uma das suas bailarinas nascida em Rio Maior.


Francisco Florêncio Graça que será sempre conhecido por Francis [Graça] nasceu em Lisboa a 7 de Novembro de 1902, há 120 anos.


Por influência de seu pai, estudou violino no Conservatório Nacional e aí conheceu Frederico de Freitas de quem se tornou amigo e parceiro em diversos projectos do «Verde-Gaio». No entanto, a sua paixão foi sempre a dança apesar de os seus estudos nessa área se limitarem a um curto período de aprendizagem em Paris com uma professora russa.


Dançou publicamente pela primeira vez em 1925 durante a sessão de inauguração do «Teatro Novo» fundado pelo modernista António Ferro
com a colaboração de Leitão de Barros e de José Pacheco que, segundo Fernanda de Castro, “ficou a dever-se ao amor, à coragem, à persistência de António Ferro, de Lino Ferreira e de Ricardo Jorge”, no pequeno palco do átrio do Teatro Tivoli.

Depois desta curta aventura, dançou em Portugal, Paris, Brasil, Genebra e Argentina, durante os anos 30 do século XX.



António Ferro encontrou em Francis um colaborador/parceiro cujo talento lhe permitiu criar um projecto há muito tempo sonhado: um grupo de bailado português inspirado nos Ballets Rousses que, através da dança, divulgasse a História, os Usos e os Costumes portugueses. Assim nasceu, em 1940, o «Verde-Gaio»


Durante a II Guerra Mundial, o mundo foi-se transformando, nomeadamente em relação aos conceitos e procedimentos associados à liberdade, ao papel da Mulher na Sociedade, aos métodos autoritários, aos preconceitos, à educação.., sem que Salazar, 
ao contrário de António Ferro, o quisesse admitir, continuando a opor-se à mudança, à evolução, mascarando apenas os hábitos instituídos.

Descontente, desmotivado, António Ferro continuou a trabalhar enquanto pôde nos projectos de que mais gostava, sendo um dos quais o «Verde-Gaio», mas foi-se isolando. O afastamento começou em 1948 quando, pediu a Salazar para ser enviado para Paris. Embora Ferro se tivesse já tornado para Salazar uma pessoa incómoda, Salazar não lhe perdoou. Deu-lhe a entender que lhe faria a vontade mas, em vez de Paris, enviou-o para Berna e depois para Roma, mantendo-o num exílio que, longe da família, dos amigos e dos seus projectos, acaba por lhe quebrar o espírito e encurtar a vida.
Antes de morrer, escreve o seu último livro (poesia)
Saudades de Mim.

Chegado ao final de 1949, dá-se um acontecimento que viria a ter a maior repercussão: António Ferro afasta-se, ou é afastado por Salazar, do seu cargo de director do SNI. Agora, passa a ocupar cargos diplomáticos de grande prestígio sendo Ministro de Portugal em Berna e depois em Roma, vindo a morrer em 1956 aos 61 anos. E com o afastamento de António Ferro, também do «Verde-Gaio», o grupo perde a sua orientação, o seu ponto de apoio, o seu entusiasmo e a sua criatividade.

João de Castro, em «Região de Rio Maior», 30/06/2006.

Em 1960, Francis foi dispensado (substituído por Margarida de Abreu e Fernando Lima), facto que o deixa sem meios de sobrevivência financeira. Só algum tempo depois, começou a receber uma pequena reforma do SNI. Morreu em Julho de 1980, com 77 anos, lembrado por muito poucos, num lar onde residia há alguns anos, sofrendo de arteriosclerose e, felizmente, já sem memória.

 
02 – Mesa Redonda II: «Re(Pensar Portugal à Luz de “Portugal, Razão e Mistério” de António Quadros.
Divulgação e convite.

Tendo como pano de fundo uma exposição temática, a Fundação António Quadros, com o apoio da Câmara Municipal de Rio Maior, da Biblioteca Laureano Santos e da Revista «Nova «Aguia», vai realizar a segunda Mesa Redonda com o tema «Re(Pensar Portugal à luz de ‘Portugal, Razão e Mistério’ de António Quadros», continuando e desenvolvendo o tema da primeira sessão (António Quadros, ‘Portugal, Razão e Mistério’ e a Filosofia Portuguesa) cumprida no passado dia 16 de Julho.

A sessão será apresentada por Filipe Santana Dias, presidente da Câmara Municipal de Rio Maior e por Mafalda Ferro, presidente da Fundação António Quadros.

É nosso desejo e seria muito importante poder contar com a sua participação.


Coordenadores: Mafalda Ferro; Renato Epifânio.
Moderador: Renato Epifânio.
Participantes: Abel Lacerda Botelho; António Braz Teixeira; César Tomé; Manuel Cândido Pimentel; Renato Epifânio; Rodrigo Sobral Cunha; Samuel Dimas.

 

Local: Rio Maior, Fundação António Quadros / Biblioteca Laureano Santos.
Data e hora: Sábado, 19 de Novembro de 2022, 15.30h.

ENTRADA LIVRE

IMPORTANTE: Celebrando o centenário de António Quadros nascido a 14 de Julho de 1923, se ninguém se opuser, o conteúdo das duas sessões (participações e intervenções) será publicado em 2023 na revista «Nova Águia».

 
03 – Lembrando Orlando Vitorino no centenário do seu nascimento: Alguns projectos partilhados com António Quadros e uma carta inédita, por Mafalda Ferro


O presente texto destaca alguns dos muitos projectos em que trabalhou com António Quadros, como ponto de partida para trabalhos de investigação mais aprofundados.


Segundo informação confirmada por Ana Santos da Biblioteca Municipal de Almeida, Orlando Vitorino nasceu em Almeida, Guarda,
a 21 de Outubro de 1922, contrariando diversas menções que referem Abril como mês do seu nascimento.

Assim sendo, em celebração do centenário do seu nascimento, decidimos prestar-lhe hoje a nossa sentida homenagem.

Orlando José Carvalho Vitorino nasceu em Almeida, distrito da Guarda, no dia 21 de Outubro de 1922, filho de António Martinho Diniz Vitorino e de Maria Cândida Carvalho dos Santos Vitorino. Teve dois filhos: Isabel Vitorino e o economista Nuno Vitorino; e dois irmãos: António Telmo Carvalho Vitorino (1927/2010) e Rui Vitorino (cc 1936).

Foi casado com Maria Ivone Ogando Serrão de Moura tradutora em 1977 de O caminho para a servidão, de Frederico Hayek (Nobel da Economia em 1974).

Licenciado em Filologia Românica e em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Orlando Vitorino foi produtor e realizador cinematográfico, radialista, crítico literário, político, escritor e jornalista. Com o poeta Azinhal Abelho, dirigiu os Teatros da Trindade e da Estufa-Fria. Fez crítica teatral na Emissora Nacional (1945 a 1953), tendo também ocupado diversos cargos no Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian.


A sua vida profissional que, a meu ver, ofuscava a sua vida pessoal, oscilava entre a Filosofia Portuguesa, o Teatro e as Bibliotecas Itinerantes, tema sobre os quais pensava, escrevia e criava projectos. A politíca foi durante muito pouco tempo algo que o entusiasmou. Se bem me lembro, os seus entusiasmos eram sempre acaloradas e polémicas paixões que muitas vezes lhe causavam riscos ou a perda de relacionamentos mas que lhe granjeavam igualmente seguidores e novos amigos.


Lembro-me sempre de Orlando Vitorino a conversar com o meu pai, animado por um fogo interior que não podia ser aquietado nem por ele próprio, nem por ninguém.

Eram muito amigos, tanto que, com menos de 30 anos, em 1951, fundaram e dirigiram, a partir de uma ideia pensada também com os escultores António Duarte e Martins Correia, os fascículos de cultura «Acto». [embora no papel timbrado da «Acto» constem os quatro como directores, os fascículos publicados referem apenas dois directores, Quadros e Vitorino]

No ano do lançamento, em entrevista ao «Diário Popular» (3.10.1951), António Quadros referiu estar firmemente convencido de que, cansado de tanta mistificação literária, o público culto português anseia por algo de novo, de diferente. No entanto, sendo os custos inteiramente suportados pelos dois directores, apenas dois números são publicados. Nesta aventura, colaboraram a maioria dos grandes da cultura nacional, nomeadamente os do «Movimento da Filosofia Portuguesa»:

O primeiro fascículo (1.10.1951) reúne textos de António Quadros, Augusto Frederico Schmidt, José Blanc de Portugal, José Marinho, Lêdo Ivo, Luís Washington, Manuel dos Passos, Mário de Sá-Carneiro, Martins Correia, Orlando Vitorino, Ortega y Gasset, Raúl Leal, Sant'ana Dionísio e Texeira de Pascoaes.

O segundo fascículo (1.03.1952) inclui textos de Álvaro Ribeiro, António Quadros, Benedetto Croce, Francisco da Cunha Leão, Delfim Santos, Hein Semke, Luís Washington, Orlando Vitorino, S.S. o Papa Pio XII, Raúl Leal, com ilustrações de Couto Viana e Martins Correia.

Em 1957, no ano do centenário do nascimento de Sampaio Bruno, pensador com quem muito se identifica, António Quadros pensa com Afonso Botelho e Orlando Vitorino o «Movimento de Cultura Portuguesa», fundando e dirigindo os 11 números do jornal «57» (1957-1962), órgão do Movimento, continuando e aprofundando os objectivos anteriormente trabalhados na «Acto», com textos de autores que haviam já publicado em 1951 nos facículos aos quais se foram adicionando, ao longo dos anos, outros como Afonso Botelho, António Telmo, Francisco Sottomayor, António Braz Teixeira, Azinhal Abelho, Pinharanda Gomes, Agostinho da Silva, Avelino Abrantes, Afonso Cautela, José A. Ferreira, Agustina Bessa Luís, José Marinho, Fernando Morgado, Ernesto Palma, Ana Hatherly, Natércia Freire, Rui Carvalho.


Em 1958, por sugestão de Branquinho da Fonseca, António Quadros é convidado a integrar os quadros do recém-criado Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian no qual viriam a colaborar posteriormente Domingos Monteiro e Orlando Vitorino. António Quadros ocupou sucessivamente, até ao ano da sua reforma, os cargos de «Presidente da Comissão de Escolha de Livros», «Inspector-Geral», «Director-Adjunto» e, sucedendo a Domingos Monteiro (1974/1980), director de Serviço» até 1981 (cargo ocupado até 1974 por Branquinho da Fonseca) tendo proposto a Azeredo Perdigão o escritor e amigo David Mourão-Ferreira para o seu lugar.

Depois da revolução de Abril, apesar da amizade protectora de António Quadros, a frontalidade e as publicações de Orlando Vitorino geraram grandes polémicas na Fundação Gulbenkian (consulte-se o processo guardado no arquivo da Fundação António Quadros) e, depois da morte de Branquinho da Fonseca (Maio de 1974), Domingos Monteiro, em carta de 11 de Junho de 1974, pede autorização para, sem aumento de ordenado, acrescentar às funções de António Quadros e de Orlando Vitorino (inspector regional) as de director adjunto (AQ) e 1.º assistente da direcção (OV). Orlando Vitorino integra com Patrícia Joyce, Maria João de Vasconcelos, Natércia Freire e Breda Simões a Comissão de Leitura.

Os sumários do Boletim Informativo, elaborados pelo chefe de secção do Boletim das Bibliotecas, eram sempre discutidos com Domingos Monteiro, António Quadros e Orlando Vitorino.

A partir de 1981, depois da sua saída da Gulbenkian, António Quadros organiza todas as semanas às 21.30 no IADE sessões integradas no Círculo de Estudos Portugueses que iniciam com palestras de Lima de Freitas, Orlando Vitorino ou/e António Quadros; estas palestras precediam vários colóquios e as sessões contavam também com a participação de Maria Germana Tânger (leitura de excertos e poemas) e de José Campos e Sousa (voz e guitarra).


Em 1983/1984, Orlando Vitorino participou com António Quadros, António Telmo, Francisco da Cunha Leão, João Tavares; Francisco Sottomayor, Inácio Ballesteros, Artur Anselmo, Vítor Lopes Dias e outros em reuniões de reflexão sobre a obra de Álvaro Ribeiro e de Leonardo Coimbrarealizadas em casa de Inácio Ballesteros no Vale do Infante, Estremoz, com o propósito de se discutir temas relacionados com a Filosofia Portuguesa.


Em Agosto de 1985, os poetas Palma-Dias e Paulo Borges e o pintor José Ralha organizam uma «Vigília de Armas em Aljubarrota», evento simbólico organizado nos campos da batalha. No final, António Quadros e Orlando Vitorino conduziram um debate que teve como ponto de partida, o «Movimento da Filosofia Portuguesa».


A 1 de Julho de 1987, Lima de Freitas desenhou Orlando Vitorino, a carvão, e ofereceu a António Quadros o retrato que aqui se publica.


Em 1988, António Braz Teixeira, António Quadros e Orlando Vitorino participaram num colóquio sobre Filosofia Portuguesa no Funchal.


Ainda no IADE, de Abril a Julho de 1991, Quadros organiza e participa num ciclo de conferências sobre José Marinho com Jorge Rivera, António Braz Teixeira, Henrique Barrilaro Ruas, Carlos Silva, António Cândido Franco, Francisco Soares, Pedro Correia, Paulo Samuel, João Rego, Paulo Borges, Gonçalo Magalhães Colaço, João Luís Ferreira, Afonso Botelho, Elísio Gala e Orlando Vitorino. 

Tendo morrido a 15 de Dezembro de 2003, com 81 anos, em Alcântara, Lisboa, os seus restos mortais jazem no cemitério da Ajuda em Lisboa.

Termina-se, partilhando alguns registos de sua autoria inclusive uma das suas obras anotada e sublinhada por António Quadros (como era seu costume) e, ainda, o conteúdo de uma carta inédita, acervo da Fundação António Quadros, importante documento para que se entenda o Seu, e o de António Quadros, Pensamento em relação à Filosofia Portuguesa.


PT/FAQ/AFC/01/1977/00002
[1982], [Lisboa], carta para António Quadros:

Meu caro António

Venho falar-lhe da alegria que me trouxe a sua Introdução á Filosofia da História. Uma alegria de pensamento que o livro transmite ao leitor ao mesmo tempo que lhe dá a tristeza de o ver, a si, António, recear isso mesmo que pensa ou isso mesmo que V. é. O que equivale a não assumir V., na humildade da expressão, a audácia e a segurança filosóficas que estão, substanciais, no seu pensamento. Isso explica que tenha dado ao discurso a forma de uma descrição do pensamento de outros pensadores. Ficamos á espera que V. exponha, sem intermediários, o pensamento próprio.

Ao dizer-lhe isto, não deixo de ver que a todos nós ­­ os raros que, na geração seguinte á de Marinho e Álvaro, pensam isto se adequa. Creio que tal situação resulta talvez do longo discipulato que tivemos: enquanto os pensadores da geração de Marinho e Álvaro ficam sem o Mestre no limiar da maturidade, nós tivemos a graça de conservar nossos dois Mestres ao longo da maturidade. E com 50, 60 anos, ainda escrevemos como se fossemos jovens e discípulos.

A missão que nos ficou é a de, formando aquele saber que só a nós hoje é acessível, lhe sistematizarmos a sua dispersa e complexa modalidade.

Claro que este seu livro se insere já no cumprimento desta missão ou desta sistematização e daí vem a alegria que nos transmite. Tal cumprimento reside nos pontos em que V. mais directa e pessoalmente expõe, não o pensamento alheio, mas o seu próprio. Alguns desses pontos:

A luminosa e iluminante distinção entre os fins teleológicos e os fins escatológicos, com ela distinguindo a profecia, a previsão cientifica e o mito, que corresponde aos primeiros fins, e a filosofia, que corresponde aos segundos (esta distinção já estava esboçada no Movimento do Homem como V. lembra fechando o presente livro com a transcrição desse esboço, o que distingue movimentos de primeira e de segunda instância; como essa distinção é apenas um esboço da que estabelece agora, a sua transcrição é mais uma triste humildade, agora perante si próprio).

Todas as criticas que faz ao fixismo do pensamento profético, previdente e mítico, do falar por falar como dizia dele Aristóteles.

A apreensão do núcleo essencial da filosofia da história de Álvaro e Marinho (mais do que de Leonardo) e o modo também essencial e directo como o exprime.

Um ponto não quero aqui deixar de considerar ou sobre ele prevenir. É o que se refere á conservação das concepções evolucionistas que foram já fatais a S. Bruno, que ficaram já, nuns casos de modo explícito noutros implícito, refutadas por Leonardo e Marinho e que confundiram o Álvaro. Parece-me que V. também conserva por considerá-las inerentes às suas concepções de o homem, o mundo e até Deus estarem em movimento. Fazendo-me mais fiel intérprete do seu pensamento do que V. próprio, permito-me dizer-lhe que não existe tal inerência. A sua concepção do movimento é, por um lado, de raiz aristotélica, por outro lado, leonardesca, e, por ambos os lados, criacionista. Ora todo o evolucionismo é incompatível com o pensamento criacionista e torna-o inviável.

Outro ponto: a concepção inerente ao criacionismo é a da eternidade e imutabilidade do mundo, concepção que em Leonardo, Marinho e Álvaro está longe de ter sido explicitada, por razões diferentes em cada um deles mas que é comum ao respectivo pensamento.

Terceiro ponto seria o da irrealidade do mundo sensível. É uma tese anti-aristotélica que os nossos mestres mantiveram por razões culturais, último resquício que lhes ficou da predominante filosofia nórdica.

Um grande abraço do Orlando.

 
04 – Elucidário do estudante curioso por um antigo professor,
por Joaquim Domingues [e Mafalda Ferro].

Edição de Autor: Famalicão, Setembro de 2022.
Apoio: Revista «Nova Águia»; MIL – Movimento Internacional Lusófono.

Custo: 10€ (portes incluídos para Portugal Continental).
Encomendas através de:
mafaldaferro.faq@gmail.com

PRELÚDIO

Estudante curioso é quase um pleonasmo, pois estudante de verdade é o que procura saber e, afinal, descobre que, quanto mais estuda, mais se aguça a sua curiosidade.

Elucidário, por sua vez, é termo algo pretensioso, visto que a presunção de espalhar a luz, de iluminar ou elucidar, parece provir de quem se julga sábio.


Essa é, porém, a condição do professor, de quem se espera que ensine até o que imperfeitamente sabe, como qualquer outro homem.


Admirável é como assim se vai constituindo o património dos conhecimentos, práticas e valores que definem a humanidade e, no caso, distinguem a cultura portuguesa.


Aliás, muito aprende o professor ao preparar as suas lições e porventura ainda melhor na relação com os alunos, quando são realmente curiosos.


É por isso que, como professor que fui e estudante que nunca deixei de ser, me propus reatar o diálogo, embora sob esta forma menos directa da escrita.


Menos directa, mas não menos autêntica; como compreendi ao longo dos anos, só há verdadeiro diálogo entre pessoas que assumem lealmente as suas posições, mesmo quando insólitas e divergentes da maioria.


Este Elucidário procura conjugar o vocabulário elementar e a sumária informação, que julgo adequados a qualquer estudante com suficiente curiosidade para ir além do que encontra nos manuais escolares.


Por abordar termos porventura menos conhecidos e se afastar por vezes das noções comuns, o seu uso exigirá algum esforço, o qual será por certo compensado pelo alargamento de perspectivas.


Aliás, espero que a leitura destas páginas desperte o interesse por mais amplos e melhores esclarecimentos, a procurar noutras fontes; como, por exemplo, as sugeridas nos excertos que acompanham algumas entradas.


A generalidade dos termos pertence ao vocabulário filosófico, mas nem todos, pois não há fronteiras rígidas entre os diferentes saberes, nem limites definidos na busca do conhecimento.


A escolha e tratamento é muito pessoal, mas procura valorizar quantos têm pensado como portugueses, ou seja, de acordo com o carácter da língua e o sistema de valores graças aos quais acedemos à universalidade.


A língua vale bem mais do que instrumento de comunicação, forma o próprio corpo onde o pensamento encarna e se torna consciente de si.


Por isso, será importante que te esforces por dar expressão às dúvidas e objecções, aos desenvolvimentos e aperfeiçoamentos, que entendas merecer o que fores lendo.


A filosofia é amor da sabedoria; como tal, não se ensina – aprende-se e vive-se sobretudo.


Mas, como nunca partimos do nada e mesmo para discordar é preciso saber do que se discorda e porquê, importa atender ao legado de quem nos precedeu e enfrentou por certo as mesmas questões que nos inquietam.


A liberdade do espírito conquista-se com persistente esforço; é obra para toda a vida, graças à qual nos cumpre colaborar na redenção universal.


Invoca-se, por vezes, a ‘escola da vida’, aludindo ao que se aprende na relação com as outras pessoas e com o mundo, mormente o natural.


Considera este livrinho como fazendo parte dessa escola, à margem das rotinas do ensino oficial.


O professor que te fala está hoje aposentado e por isso te convida para o diálogo, cujo cenário é o vasto mundo das pessoas, mas também da ciência, da técnica, da arte e da natureza.


Aliás, muito do que se contém nestas páginas, porventura até o mais valioso, resulta da relação com amigos, distantes no tempo e no espaço, uns, próximos outros, a quem estou muito grato por quanto lhes devo.


Por todos, refiro os nomes do Pedro Sinde, a quem agradeço a revisão, e do Carlos Aurélio, que, para além do mais, concebeu a capa, a partir de uma das páginas do De Aetatibus Mundi Imagines [Imagens das Idades do Mundo], de Francisco de Holanda.


Como amigo da sabedoria, desde já te desejo feliz navegação!
Joaquim Domingues.


[Ao longo das páginas deste livro que, a nosso ver, não tem interesse apenas para os estudantes, vamos encontrando, além de uma Árvore Genealógica dos autores do Movimento da Filosofia Portuguesa, reproduções fotográficas e citações desses mesmos autores: Afonso Botelho Álvaro Ribeiro António Braz Teixeira António Quadros António Telmo Guerra Junqueiro José Marinho Leonardo Coimbra Orlando Vitorino Pinharanda Gomes Sampaio Bruno Teixeira de Pascoaes.


É tão vasto o número de entradas reunidas neste volume que citamos apenas algumas, não necessariamente as mais importantes: Absoluto Adolescência Antropologia Aporia Aristotelismo Arquétipo Conceito Conhecimento Criacionismo Deísmo Democracia Dever Escola Espírito Essência Evolução Filosofia Finalidade Génese  Hermenêutica Hierarquia Homem Idealismo Infinito Interrogação Justiça Lealdade Liberdade Liceu Língua Literatura Lógica Matemática Matéria Mito Missão Mestre Modernidade Modernismo Monarquia Moral Movimento Natureza Nobreza Ontologia Ortodoxia Pessoa Paixão Palavra Pitagorismo Platonismo Poesia Pragmatismo Profano Professor Progresso Razão Rito Saudade Símbolo Sobrenatural Sociologia Sonho Substância Tradição Universidade Utopia Valor Verdade [...]

Mafalda Ferro]

 
05 – LIVRARIA ANTÓNIO QUADROS
Obra em promoção até 14 de Novembro:

 

Título: António Ferro: 120 anos. Actas.

Prefácio: Alfredo Magalhães Ramalho.

Imagens: Acervo da Fundação António Quadros.

Organização e coordenação geral: Mafalda Ferro.

Coedição – Lisboa: Fundação António Quadros Edições / Texto Editora, 2016.

Apoio editorial: Paulo Ribeiro Baptista.

Resumo: Registo de acções organizadas em 2015 pela Fundação António Quadros, pela Sociedade de Geografia de Lisboa e pela Academia de Letras e Artes que têm por fim homenagear, divulgar e contribuir para o estudo do pensamento, da vida e da obra de António Ferro, no ano em que se completam 120 anos depois do seu nascimento.

PVP (em promoção): 13,00€.

 

HOMENAGENS REALIZADAS E PUBLICADAS

I - Seminário "António Ferro: O tempo. As ideias. O modo.”

Apresentações de Alexandro Trindade; Ana Filomena Figueiredo; António Cardiello; Ernesto Castro Leal; Filomena Serra; Guilherme d’Oliveira Martins; José Carlos Calazans; José Guilherme Victorino; Lauro António; Madalena Ferreira Jordão; Mafalda Ferro; Manuel Villaverde Cabral; Margarida Acciaiuoli; Paulo Ribeiro Baptista; Pedro Pavão dos Santos; Raquel Henriques da Silva; Rita Almeida Carvalho; Rita Ferro; Rosa Paula Rocha Pinto; Sérgio Avelar Duarte; Teresa Rita Lopes; Vasco Rosa; Vera Marques Alves.

Local e data: Sociedade de Geografia de Lisboa, dia 14 de Abril de 2015.

Comissão Científica e Executiva: Ana Cristina Martins; Guilherme d’Oliveira Martins; Madalena Ferreira Jordão; Mafalda Ferro; Vítor Escudero.

II – Mostra de fotografias, livros, cartas, manuscritos e falerística evocativa da Vida e Obra de António Ferro “António Ferro: A imagética da memória.”

Local e data: Sociedade de Geografia de Lisboa, patente 14/30 Abril de 2015.

Organização: Mafalda Ferro; Vítor Escudero.

III – Exposição “A arte do ex-libris.”

Local e data: Academia Portuguesa de Ex-Libris, 18 de Abril de 2015.

Organização: Sérgio Avelar Duarte, presidente da Academia; Vítor Escudero.

IV – Mesa Redonda em torno de António Ferro (moderada por Margarida Acciauoli).

Participações de Lauro António, Manuel Villaverde Cabral, Paulo Ribeiro Baptista, Rita Almeida Carvalho, Vera Marques Alves, Margarida Acciaiuoli; intervenções de Pedro Pavão dos Santos, Rita Ferro, Mafalda Ferro, Ana Cristina Martins, Alexandro Dantas Trindade, Filomena Serra.

Local e data: Academia Portuguesa de Ex-Libris, 18 de Abril de 2015.

Organização: Mafalda Ferro.

V – Exposição “António Ferro e a modernidade da comunicação 1920 |1938”

Local e data: Fundação António Quadros, 22 de Setembro / 27 de Outubro 2015.

Organização: Mafalda Ferro; Maria Barthez.

 

VI – Atribuição do Prémio António Quadros 2015, categoria Imprensa.

Local e data: Fundação António Quadros, 22 de Setembro de 2015.

Coordenação: Mafalda Ferro; Mário Zambujal.

Júri: Mário Zambujal, presidente; Eugénio Alves, vogal; Cesário Borga, vogal.

Órgão de comunicação vencedor: Jornal EXPRESSO.

A receber o prémio: Francisco Pinto de Balsemão; Ricardo Costa.

 

VII – Homenagem a António Ferro.

Local e data: Academia de Letras e Artes, Monte Estoril, 6 de Outubro de 2015.

Organização: António Sousa Lara; Madalena Ferreira Jordão; Mafalda Ferro; Vítor Escudero.

 

VIII – Encerramento das comemorações / Apresentação da obra “António Ferro: 120 Anos. Actas”.

Local e data: Lisboa, Círculo Eça de Queiroz, Fevereiro de 2016.

Abertura da Sessão: José Guilherme Victorino; Pedro Rebelo de Sousa.

Apresentação da obra: Alfredo Magalhães Ramalho.

Encerramento: Paulo Ribeiro Baptista.

Edição: Fundação António Quadros Edições | Texto Editores, 2016.

 
 
     
 
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