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Newsletter N.º 217 / 14 de Dezembro de 2024
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

ÍNDICE


01 —
Foi assim a Homenagem a Fernanda de Castro. Memória.

02 — Náufragos - Sobreviventes da Angústia Existencial, por Manuela Dâmaso.

03 — Fernanda de Castro – Amizades, Artistas e a Arte de «Bem Viver», por Mafalda Ferro.

04 — Lembrando a morte e funerais de Luigi Pirandello (Agrigento, 28 de Junho de 1867 — Roma, 10 de Dezembro de 1936), por Mafalda Ferro.

05 — Mensagem e o Prémio que recebeu em 1934, 90 Anos depois, por Mafalda Ferro.

06 — O Natal em Rio Maior: Presente e Passado, por Sónia Rebocho.

07 — Sugestões de Leitura. Divulgação.

08 — Livraria António Quadros: As 2 mais recentes obras de Fernanda de Castro, em promoção: Memórias (1906-1987), Nova Edição, com índice remissivo e Náufragos. Peça de teatro em 3 actos. Edição crítica.

 

EDITORIAL,
por Mafalda Ferro.

 

Lembro aqui algumas personalidades que muito admiro e, às quais, por uma razão ou por outra, sinto forte ligação, todas nascidas em Dezembro:

 

Milly Possoz, nascida a 4 de Dezembro de 1888.

Mário Soares, nascido a 7 de Dezembro de 1924.

José Carlos Ary dos Santos, nascido a 7 de Dezembro de 1937.

 

Até ao final de 2024, continuamos a celebrar Fernanda de Castro.
Em sua homenagem, a Fundação acabou de apresentar duas obras de sua autoria, Náufragos. Edição critica e Memórias (1906-1987), ambas editadas pela Fundação António Quadros que pode adquirir através do e-mail: geral.faq@gmail.com




Além disso, em sua memória e também de Luzia e de Teresa Leitão de Barros, as Edições Colibri com o apoio do CLEPUL - FLUL e da Fundação António Quadros, publicaram "Adeus por hoje… Cartas de Luzia para Fernanda de Castro e António Ferro", conjunto epistolar pertencente à Fundação António Quadros, que reúne a referida correspondência, um prefácio de Mafalda Ferro e textos adicionais de Luísa Antunes Paolinelli, Ana Cristina Trindade, Fernanda de Castro e Teresa Leitão de Barros. 
Textos sobre esta publicação foram publicados na «Nova Águia» n.º 34 juntamente com o artigo "Fernanda de Castro, de Alma em Flor, liberta num golpe de asa há trinta anos", de Mafalda Ferro.


Para adquirir esta, e qualquer outro número da «Nova Águia» contacte o seu director Renato Epifânio através do e-mail 
novaaguia@gmail.com

No próximo sábado, dia 21 de Dezembro, a Associação Agostinho da Silva, superiormente dirigida por Maurícia Teles, prestará homenagem a António Quadros, encerrando, então, as actividades por si organizadas durante o seu centenário de nascimento.

Na mesma ocasião, celebrará também Agostinho da Silva e Fernanda de Castro, de quem nos despedimos há 30 Anos, em 1994.

Tomarão da palavra Abel de Lacerda Botelho, Maurícia Teles, Mafalda Ferro e quem mais assim o desejar.


António Temo Vida e Obra: 
LEITURAS

[Traço a estrela de David], por António Telmo 
Carta para António Telmo de 27 de Dezembro de 1977, por Max Hölzer



 
01 — FOI ASSIM A HOMENAGEM A FERNANDA DE CASTRO.
MEMÓRIA.


Apesar de Fernanda de Castro estar sempre presente no nosso pensamento, no arquivo, na biblioteca e em cada uma das actividades que promovemos, o passado dia 7, véspera dos seus anos, 124 anos depois foi o dia que escolhemos para lhe prestar homenagem, pensando também no próximo dia 19 de Dezembro, dia da sua despedida há 30 anos.

Com esse objectivo, aconteceu na Biblioteca da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, entidade a quem entregou os Parques Infantis, uma das suas obras mais acarinhadas e à qual dedicou grande parte do seu tempo durante cerca de 40 anos (1930-1970).

Preparámos, por isso, para esse dia, a apresentação dos mais recentes livros de Fernanda de Castro, editados pela Fundação António Quadros, MEMÓRIAS (1906-1987) [com índice remissivo] e NÁUFRAGOS. Peça de Teatro em 3 actos [com estudos e documentos sobre a obra dramatúrgica da autora e a sua acção em prol do teatro].

Contámos com a participação de Eugénia Vasques, Francisco d’Orey Manoel, Isabel Quadros, Joana Leitão de Barros, Mafalda Ferro e Renato Epifânio e, ainda, com testemunhos falados por Ana Maria Quadros, António Coito, Daniel Gouveia, Dominique Lemonnier, Fernando Lameirão e Madalena Ferreira Jordão.


 
02 — NÁUFRAGOS - SOBREVIVENTES DA ANGÚSTIA EXISTENCIAL,
por Manuela Dâmaso.


Fernanda de Castro, com apenas 19 anos, mergulha na escrita dramática ficcionando uma história vagamente semelhante à que assistira com 12 anos  na Figueira da Foz.


Curiosamente, esse salvamento, ocorrido graças à perspicácia e encorajamento de um homem  jovem (pai da autora), permitiu que presentes na praia avançassem pelo mar revolto e salvassem aqueles que poderiam, diante dos seus olhos, ter sucumbido à força das ondas impiedosas. Uma voz determinada, uma ousadia inesperada, um encorajamento inusitado impediram a morte de quem lutava pela vida à vista de várias pessoas.


Esta ousadia nos genes da autora manifestar-se-á de várias formas ao longo da sua vida, como bem se constata nas suas Memórias, obra agora também reeditada.

De regresso a esta estreia dramatúrgica, sentimos estar na presença de uma reflexão sobre a condição humana em geral, sobre a condição feminina, em particular. Reflexão que se aprofundará nas peças posteriores, «A Pedra no Lago», «A Espada de Cristal», «Maria da Lua» e «Os Cães não Mordem».

De facto, Fernanda de Castro não conta histórias, não cria acontecimentos, não recompõe episódios de vida, a dramaturga reflecte e incita à reflexão. Extraordinária esta tomada de posição nos anos 20, do século passado por uma jovem mulher.


No título, parece-nos relevante a palavra náufragos surgir sozinha, sem qualquer determinante que a anteceda ou vocábulo que a acrescente. Pormenor despiciendo? De modo algum. Esta opção conduz-nos a uma das chaves interpretativas da peça. Não vamos conhecer os náufragos de um evento ocorrido num determinado sítio, num determinado lugar; vamos acompanhar o percurso existencial de quem se debate com os valores essenciais da vida: a verdade, a lealdade, a generosidade, a coragem e o amor, o motor da Humanidade.


Náufragos
, uma peça de teatro a ler com a curiosidade de quem sabe que a Literatura nos renova a esperança no Ser Humano.

De modo a preparar a leitura de Náufragos e a mergulhar na sua simbologia recordamos os versos de Fernanda de Castro, do poema “Amo as Palavras”:

 

Amo as palavras.

Não, não amo as palavras,

Amo os símbolos.

In Ronda das Horas Lentas, 1980-1989. 

 
03 — FERNANDA DE CASTRO – AMIZADES, ARTISTAS E A ARTE DE «BEM VIVER»,
por Mafalda Ferro.   


A vida adulta de Fernanda de Castro pode dividir-se em 4 ciclos distintos marcados por acontecimentos estruturantes de uma existência única, particularmente inspiradores. A cada um destes períodos correspondem, além de iniciativas próprias, diferentes relações e colaborações.

 

I – Juventude, antes do casamento (1915/1922)

Maria Fernanda, como era então conhecida, dá os primeiros passos na vida social e cultural de Lisboa pela mão de artistas e escritores com quem se vai cruzando, gente forte, generosa, inteligente e criativa. Estabelece as primeiras relações de amizade.

Ainda no liceu, conhece Teresa Leitão de Barros (1915) cuja casa confina com a sua; desta proximidade, resultará uma forte amizade estendida à família e aos amigos de ambas. Refere-se, por exemplo, Helena Roque Gameiro, Augusto Santa Rita, Américo Durão, José Bruges de Oliveira, Cottinelli Telmo, Luís Reis Santos, Pedro de Freitas Branco, Virgínia Victorino e outros que vai conhecendo.

Maria Fernanda ficara órfã de mãe aos 12 anos e quando, cinco anos depois, seu pai se casou em segundas núpcias, enquanto filha mais velha, assumiu a responsabilidade da educação dos irmãos João, Francisco, Manuela e Afonso embora este último, o mais novo, tivesse ido viver para o Algarve com o pai depois do casamento deste.

Tem 18 anos quando Branca de Gonta Colaço que tinha estudado com Ana, Maria do Castelo e Maria José, sua mãe e tias maternas, lhe escreve convidando-a a visitá-la depois de saber da morte de Ana; queria conhecê-la e, além disso, os seus filhos Ana, Cristina e Tomaz eram da mesma idade. Assim, nasce entre ambas uma relação de mãe/filha, mestra/discípula e uma forte amizade. Nas suas cartas, Branca dirige-se-lhe como «Minha querida filha» ou "minha filha adorada" e assina amiúde como "esta Mãe que te adora, Branca". Em torno desta amizade, forma-se um grupo constituído por Maria Fernanda e sua irmã Manuela; Raul Gilman e sua mulher Irene de Gonta; Maria Amélia Pereira da Silva; Virgínia Victorino e Virgínia Ferreira, sua madrinha; Ilda Pereira da Silva, Umbelina Gonta Martins; Branca e Jorge Colaço; Tomaz, Aninhas e Cristina Ribeiro Colaço; Maria Carolina, José e Clara Gonçalves Paredes, entre outros.


Já com 19 anos, começa a frequentar os salões literários e musicais de Lisboa, entre os quais os de Carlota Serpa Pinto, Elisa Sousa Pedroso, Bé Ameal, Veva de Lima (Genoveva de Lima Mayer Ulrich), mãe de Maria Ulrich de quem se tornará também grande amiga e, ainda, a Liga Naval de Lisboa onde, no ano seguinte conhece António Ferro depois de ouvir a sua conferência «Colette, Colette/Willy, Colette».


A Liga Naval, perto da Rua da Rosa, era um dos raros locais em Lisboa, bem frequentados e onde uma rapariga solteira podia dançar, ouvir um concerto, uma conferência, etc. Sendo Maria Fernanda filha de um oficial de Marinha, podia lá ir bastantes vezes.


Em 1921, colaborou, a convite de Joaquim Manso, seu antigo professor de Português, no primeiro número do «Diário de Lisboa» com um artigo/entrevista a Virgínia Victorino.


No dia 18 de Janeiro de 1922, já noivo de Maria Fernanda, António Ferro alugou em Lisboa por 160$00 uma casa pombalina com azulejos de época em todas as suas grandes divisões e com um jardim, no primeiro andar do n.º 6 da, então, Calçada dos Caetanos.

 

Quando o António partiu para o Brasil com a Lucília e com o Erico Braga, já tínhamos alugado casa, esta casa onde vivo há sessenta anos, nesta rua que, para mim, será sempre a Calçada dos Caetanos. A casa era boa e bonita, estava bem situada mas de tal modo velha e estragada pelos anos e pelo abandono, que só poderia ser habitada depois de grandes obras.

Fernanda de Castro, em Memórias (1906-1987), Fundação António Quadros Edições, 2024

 

II – Depois do casamento com António Ferro (1922/1933)


Em Agosto de 1922, casa por procuração com António Ferro, então no Brasil, e parte sozinha ao seu encontro. O noivo é, em Lisboa, representado por Augusto Cunha, seu grande amigo e cunhado. Os padrinhos no Brasil são Lucília Simões e Gago Coutinho.


Chegada ao Brasil, é recebida calorosamente pelos notáveis do Movimento Modernista Brasileiro e participa nas tertúlias artístico-literárias organizadas pelo “Grupo dos Cinco”, grupo formado durante a Semana de Arte Moderna de São Paulo e constituído por Mário de Andrade, Tarsila, Malfatti, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade de quem se tornará grande amiga.

 

Lembro-me de que estive lá [em Paris] pela primeira vez, já casada, com vinte e três anos, se não me engano, a convite dos nossos grandes amigos brasileiros Oswald de Andrade e sua mulher, Tarsila do Amaral, que conheceramos em São Paulo no ano anterior. Ela e Oswald viviam uma vida de simpática boémia, de alegre camaradagem com artistas e escritores, sobretudo com músicos, pouco ou nada conhecidos ainda, mas que depressa iriam afirmar os seus nomes. O pequeno e heterogéneo grupo a que logo nos associámos era assim constituído: Oswald e Tarsila, Honegger, Erik Satie, Poulenc, Picabia, Paul Poiret, o intelectual da moda, o António e eu.

Fernanda de Castro, em Memórias (1906-1987), Fundação António Quadros Edições, 2024.

 

Em Maio, o casal regressa a Lisboa mas só em Outubro se mudam para a nova casa.

 

O Bernardo Marques pintou um magnífico friso cujos motivos eram o artesanato, as artes e os bailados populares, etc., etc., o que dava com as flores que eu tinha sempre, caras ou baratas, e que davam um ar de festa à nossa casa. Infelizmente, o tempo e a humidade deram cabo deste magnífico friso que, provavelmente por falta de dinheiro, nem ele nem nós soubemos acautelar, isolando-o da parede.

Fernanda de Castro, em Memórias (1906-1987), Fundação António Quadros Edições, 2024

 

Nos meses seguintes, apaixonada pelo seu recentemente adquirido estatuto de mulher casada, mãe e dona de casa, Maria Fernanda pouco sai. No entanto, a sua vida social não esmorece, recebe quase diariamente grandes amigos dos quais os mais assíduos são Virgínia Victorino, António e Narcisa de Menezes, Teresa Leitão de Barros, Ofélia Marques e Sarah Affonso.

Ao seu já extenso rol de bons amigos, Maria Fernanda vai adicionando nomes como Natércia Freire, Mircea Eliade, Cecília Meirelles, Gabriela Mistral, os irmãos Roque Gameiro, Adelaide Lima Cruz, Milly Possoz, Amélia Rey Colaço, Mariana Rey Monteiro, Luzia, Raul Lino e as suas filhas Cristina e Isolda, entre muitos outros. Teresa Leitão de Barros que é, talvez, a mais presente amiga no I período da sua vida, partilha agora este lugar com Sarah Affonso.


III – Mulher de António Ferro, director do SPN/SNI, e Ministro de Portugal (1933/1956)

Em Outubro de 1933, António Ferro aceita o cargo de director do SPN e entrega-se a um trabalho intenso, sempre que possível, apoiado por sua mulher que, entretanto inaugurara o 1.º dos 5 Parques Infantis que viria a fundar até final dos anos 40.

No âmbito das funções oficiais do marido, viaja muito e, em todos os países que visita, vai deixando amigos que, na sua maioria, a visitam posteriormente em Portugal. Salienta-se Berta Singerman e Ruben Stolek, Ilda Stichini, Roxana Eminescu, Maurice e Rennée Maeterlinck, Pierre-Jean e Yolande Goemaere, Jacqueline Cramér, Fernand Gregh, Colette e Helena Vacarescu, entre muitos outros.


Em 1950, António Ferro parte para Berna e, em 1954, para Roma, como Ministro Plenipotenciário na Suíça e em Itália: a vida de Maria Fernanda complica-se, passa a viver quase simultaneamente em dois países.


O seu tempo em Lisboa é, até 1953, ocupado com a família, os Parques e a escrita, sempre a escrita... Nesse ano, decide tentar algo de novo: criar uma revista! E, se bem o pensou, melhor o fez. Concebe, edita, dirige e começa a publicar a «Bem Viver Revista dos Lares Felizes» para a qual conta com a colaboração de muitos amigos. A revista, com arranjo gráfico e muitas ilustrações de Inês Guerreiro que assina também algumas das capas. Cada um dos dez números publicados da «Bem Viver» tem uma temática diferente: A Casa (n.º 1); Boa Mesa (n.º 2); A Criança (n.º 3); A Moda (n.º 4); É Assim a Nossa Gente (n.º 5); Enfeites (n.º 6); Recreio (n.º 7); Vida do Espírito (n.º 8); Beleza e Higiene (n.º 9); Jardins e Janelas Floridas (n.º 10).


Nos dois primeiros números, os artigos são exclusivamente de sua autoria mas, nos restantes, além dos seus, inclui também muitos outros de vários autores. Lamentavelmente, entre as obrigações associadas aos Parques Infantis e as suas constantes deslocações a Berna ou a Roma, Fernanda de Castro é obrigada a terminar a «Bem Viver» no seu segundo ano.


Em Novembro de 1956, sofre profundamente a morte, de seu marido que, em Lisboa, morre inesperadamente na sequência de uma intervenção cirúrgica.  Esta partida, para espanto de muitos que a consideravam inquebrável, quase a destrói. Preocupado, seu filho António, então residente em Cascais, aluga o n.º 7 da Calçada dos Caetanos e muda-se para Lisboa com a mulher e os filhos, para a poder apoiar.

 

IV – Depois da morte de António Ferro (1956/1994)


Neste período da sua vida, o mais longo, cerca de 40 anos, Fernanda de Castro continua a dedicar-se aos Parques Infantis, à escrita e a inúmeros novos projectos como o Teatro de Câmara António Ferro.


Apesar de manter e continuar a privar com o seu grupo de amigos mais chegado, outros vão surgindo com mais assiduidade: Inês Guerreiro, Heloísa Cid, Luísa Cottinelli Telmo, Elvira de Freitas, Amália Rodrigues, Natália Correia, Dórdio Guimarães, Germana Tânger, José Carlos Ary dos Santos, Carmen Dolores, Maria Schultz e António Sarmento, Edith Arvelos, Eunice Muñoz, Alexandre Ribeirinho, Nina Marques Pereira, Águeda Sena, Margarida Homem de Sousa, Manuela Novaes, Mané Lima de Carvalho. Maria Archer, João Bigotte Chorão, Rodrigo Emílio, David Mourão-Ferreira, Fernando Dacosta, José Régio, Pedro Homem de Mello, Maria Elisa com quem Bernardo Marques havia casado depois da morte de Ofélia, entre muitos outros.


Poder-se-ia dizer que uma vida mais centrada em Portugal lhe facultou um número talvez maior de amizades, amizades que a acompanhariam no último troço do caminho.


Em 1964, Maria Luísa Garin, sua grande amiga e companheira de carteira desde que, com 13 anos, ambas estudavam no Instituto Luso-Germânico, empresta-lhe a sua casa na Ilha de Faro para que, por motivos de saúde sempre sofreu dos ossos Fernanda de Castro se instalasse, segundo palavras suas, entre a ria e o mar, com os seus livros, os seus papéis, os seus discos e as suas conchas. É então que, além de prolongados banhos de mar e grandes passeios na praia, realiza diversos empreendimentos e projectos turísticos. E escreve, escreve muito, alternando o seu tempo entre o Algarve e Lisboa.


Aluga, ao ano, uma casa de férias sem luz nem água corrente em Alporchinhos, com uma praia à qual se chegava apenas, percorrendo um caminho muito estreito e íngreme pelas arribas.


Adquire por 20.000$ uma casa em Marvão, na Rua do Castelo, dentro das muralhas, e dedica-se à sua recuperação e decoração.


Esta casa, bem como a de Alporchinhos, rapidamente se transforma em centro cultural e de convívio familiar, intelectual e artístico, destino de muitos.


Por ambas, passaram, entre muitos outros, Natália Correia, Inês Guerreiro, Heloísa Cid, Elvira de Freitas e sua mãe, José Carlos Ary dos Santos e José Francisco, Edith Arvelos, Cristina Lino, Dórdio Guimarães, Jacqueline Cramér, Manuela Novaes, Guida Homem de Sousa, Maria Luísa Garin, Águeda Sena.


Vive quase a tempo inteiro na casa de Marvão desde Junho de 1974 até Julho de 1980, mês em que, devido aos seus habituais problemas de saúde e também à distância que a separa da capital, se vê obrigada a desistir e vender a casa onde fora feliz e na qual acolhera tantos e tão grandes amigos.


Em 1982, vítima de acidente vascular-cerebral, perde para sempre a mobilidade.


Mulher determinada e de esperança, alegre por natureza, encontra, apesar disso, no mais fundo de si própria refúgio e estímulo para continuar a amar a vida, a natureza e os outros, sem amarguras nem lamentos, sempre de olhos brilhantes e gargalhada franca.


Os últimos doze anos, passa-os na cama, quase cega, sentindo o aroma das flores que ao seu lado cresciam, recebendo assiduamente amigos, estudiosos, antigos alunos dos Parques e família, escrevendo (ditando) e publicando, organizando tertúlias, fazendo música e poesia.


Mesmo nesta fase, embora, dependendo de muitos, nunca abdicou da sua privacidade, dos seus silêncios, da sua independência, da sua alegria.


Foi retratada, caricaturada, esculpida por Tarsila do Amaral, Anita Malfati, Ofélia Marques, Sarah Affonso, Jorge Barradas, Eduardo Malta, Maria Adelaide Lima Cruz, Guilherme Filipe Norton, Álvaro de Brée e por um escultor não identificado em Marvão mas é Luís Guimarães, em 1993, o último a imortalizá-la, na cama, numa suave aguarela a cores, tão suave como os últimos momentos da sua vida. O olhar é triste, havia, pouco tempo antes, morrido o seu filho António.


No dia 19 de Dezembro de 1994, no mesmo mês que a vira nascer, fecha os olhos pela última vez.


Foi enterrada no cemitério do Alto de São João (onde, no jazigo de família, descansavam já o marido e o filho mais velho) mas, cumprindo a sua vontade, foi sepultada na terra em contacto com a natureza.

 

Quando tudo é já silêncio, quando começo a ter sono,

apago a luz, esqueço os homens e procuro encontrar Deus.

Fernanda de Castro

 
04 — MENSAGEM  E O PRÉMIO QUE RECEBEU EM 1934, 90 Anos depois,
por Mafalda Ferro.

Conhecendo a importância e singularidade da poesia de Fernando Pessoa, António Ferro, seu amigo desde os tempos de estudante, convence o Poeta a preparar para publicação um conjunto de poemas que descansava, há anos, numa gaveta, sem esperança de ver a luz do dia, ao qual Pessoa chamava “Portugal”.

António Ferro acreditava na qualidade desses poemas e do seu autor e, por isso, emprestou-lhe o montante necessário para a sua publicação. Em boa hora o fez pois, com efeito, essa viria a ser, segundo o autor, a única obra de Fernando Pessoa publicada em vida do Poeta.

Em Dezembro de 1
934, António Ferro recebeu de Fernando Pessoa um exemplar da sua Mensagem (Lisboa, 1934. Parceria António Maria Pereira 44 Rua Augusta 54. Composto e Impresso nas Officinas da Editorial Império, Ltd., 151-153 Rua do Salitre, durante o mês de Outubro, do Anno de 1934, da Era do Christo de Nazareth), com a seguinte dedicatória manuscrita:

 

"Ao António Ferro, artista em partibus infidelium,

com um grande abraço do Fernando Pessoa. 13-XII-1934".

 
[Lamentavelmente, este exemplar não pertence à família Ferro nem à Fundação António Quadros]

Quando, em 1934, o SPN atribuiu pela primeira vez os Prémios Literários, Fernando Pessoa, por insistência do seu amigo António Ferro, candidatou-se ao Prémio Antero de Quental, na categoria de “melhor livro de versos” com “Mensagem”.

Parte do júri do Prémio Antero de Quental (constituído por António Ferro (presidente), Acácio de Paiva, Mário Beirão, Teresa Leitão de Barros e Alberto Osório de Castro) secretariado por António de Menezes, reuniu a 29 de Dezembro de 1934 no Gabinete do director do SPN e, depois de António Ferro ter procedido à leitura do regulamento e da lista dos candidatos, o júri examinou as obras a concurso e considerou que, apesar do seu valor, “Mensagem” de Fernando Pessoa não podia ser aceite à categoria de “melhor livro de versos” porque não obedecia aos termos do regulamento, "por ser inferior a cem páginas, visto que o corpo do livro acabava na página noventa e seis”. O Prémio Antero de Quental, categoria “melhor livro de versos” (5.000$00) foi, então, atribuído a “A Romaria” de Vasco Reis.

No entanto, e dada a opinião consensual do júri, a obra “Mensagem” venceu o Prémio Antero de Quental na categoria “poema ou poesia solta” (cujo prémio pecuniário era de apenas 1.000$00).


Na publicação “A Politica do Espirito e os Prémios Literários do SPN”, que inclui tanto o discurso proferido a 21 de Fevereiro de 1935 por António Ferro como o regulamento dos referidos Prémios, pode ler-se que:

1 - O Prémio Antero de Quental será atribuído a obras de duas categorias:

a - ao melhor livro de versos, não inferior a 100 páginas, que seja publicado de 1 de Julho de 1933 a 31 de Outubro de 1934 e em que se revele uma inspiração bem portuguesa e mesmo, de preferência, um alto sentido de exaltação nacionalista;

b - a um poema, ou poesia solta, onde as mesmas qualidades e intenções se manifestem.

2 - Á primeira categoria será concedida uma recompensa de 5.000$00 e á segunda uma recompensa de 1.000$00.

Por decisão de António Ferro, os valores monetários das duas categorias viriam, posteriormente, a ser equiparados e, dessa forma, ambos os autores premiados receberam o mesmo montante de 5.000$00.

Por discordar frontalmente da política salazarista, Fernando Pessoa não compareceu á entrega do Prémio, mas não o recusou.


O Prémio Antero de Quental não voltou a galardoar duas categorias.


Fernando Pessoa morreu no dia 30 de Novembro de 1935, pouco depois da entrega do prémio. “Mensagem” foi o seu único livro publicado em vida, além de algumas publicações em inglês: «Antinuous» (com capa de António Soares) e «35 Sonets», em 1918; «English Poemas I-II» e «English Poemas III, em 1921. A estas publicações, pela sua dimensão e aparência, o Poeta chamou opúsculos.


Leia AQUI a Acta n.º 4, completa, acervo da Fundação António Quadros. 
Descrição: Prémio Antero de Quental: Excerto do Livro de Actas do SPN referente à Acta n.º 4 da reunião do júri do Prémio Antero de Quental ocorrida no gabinete do Director do Secretariado da Propaganda Nacional no dia 29 de Dezembro de 1934. [PT/FAQ/AFC/05/0101] Transcrição da Acta efectuada por Fundação António Quadros.



Cena nocturna num restaurante de Lisboa. Reconhece-se:
Almada de Negreiros e António Ferro (de pé) e, sentado, Fernando Pessoa. [
FAQ-06-02012]

 
05 — LEMBRANDO A MORTE E ENTERRO(S) DE LUIGI PIRANDELLO (Agrigento, 28 de Junho de 1867 — Roma, 10 de Dezembro de 1936), por Mafalda Ferro.

 

Todo o seu teatro oscila entre o além e o aquém, entre a realidade e o sonho, entre o consciente, o inconsciente e o subconsciente. Para ele não há fronteiras definidas entre a verdade e a mentira, entre a razão e a loucura. Um homem, para Pirandello, não é isto ou aquilo, é isto, aquilo e muitas coisas mais.

Fernanda de Castro, em Memórias (1906-1987),

Fundação António Quadros Edições, 2024, p.205.

 

O dramaturgo Luigi Pirandello que, segundo Fernanda de Castro, foi o criador do teatro moderno, nasceu no dia 28 de Junho de 1867 perto de Agrigento, na Sicília, numa localidade chamada Caos.

Escreveu romances e escreveu teatro. À sua primeira peça (1899-1900) «O Torniquete», muitas outras se seguiram. A sua obra dramatúrgica mereceu-lhe, em 1934, o Nobel da Literatura.


Em 1925, António Ferro demonstrando, desde então, a admiração que sentia pela sua obra, levou à cena «Uma Verdade para Cada Um», no primeiro teatro de vanguarda de Lisboa, o Teatro Novo, por si fundado no foyer do Teatro Tivoli.


A amizade entre Pirandello e Fernanda de Castro e António Ferro existiu num espaço temporal bastante curto já que se viram pela primeira vez em 1931, ano em que António Ferro fundou o Sindicato Nacional da Crítica e em que, enquanto presidente da Associação Portuguesa da Crítica, o convidou, na qualidade de convidado de honra, a participar no V Congresso da Crítica Dramática Literária e Musical que organizou em Lisboa, entre os dias 17 e 24 de Setembro de 1931. Neste congresso participaram personalidades portuguesas e estrangeiras vindas de 15 países das quais destacamos Paul Stefan, Étienne Rey, Enrique Diez-Canedo, Fernand Gregh, Honoré Lejeune, Émile Vuillermoz, Darius Milhaud, Robert Kemp e Gerard Bauer. Portugal esteve representado, não só por António Ferro e Fernanda de Castro, como por Gustavo de Matos Sequeira, Rui Coelho, Brito Aranha e Cristóvão Aires. (1)


A 17 de Agosto de 1934, Luigi Pirandello e Guglielmo Marconi (então presidente da Real Academia de Itália) escreveram a António Ferro, explicando o IV Congresso “Réunion Volta”, 1934-XII e convidando-o a participar. [FAQ/01/1034/00001]


Assim, aceitando o convite e fazendo-se acompanhar por sua mulher, António Ferro reencontrou Pirandello em Roma, enquanto congressista numa das mais importantes reuniões internacionais sobre teatro dramático (IV Convegno della Fondazione Alessandro Volta per il Teatro Dramatico) que, presidido por Luigi Pirandello, decorreu em Roma em Outubro de 1934, ainda antes de Pirandello receber o Prémio Nobel.


No mesmo ano, António Ferro assinando, sob o pseudónimo «Cardial Diabo», publicou alguns artigos sobre Pirandello para publicação no “Semanário» (
Pirandello; Mi Piccolo Me; Marta Abba).

Dois anos depois, e pela última vez, em Outubro de 1936, o casal Ferro voltou a encontrar Pirandello na Casa de Portugal, em Paris, colaborando numa série de conferências na qual participaram grandes figuras da literatura europeia. As Conferências foram proferidas por Robert Kemp, apresentado por Pirandello; por Fernand Gregh, apresentado por Maurice Maeterlink; por Luc Durtain, apresentando por Paul Valéry; e por Émile Villermoz, apresentado por Colette.


Cerca de dois meses depois, a 10 de Dezembro de 1936, Pirandello morreu, sozinho, em sua casa na Via Bosio, Roma. Sobre os seus restos mortais, deixou bem expressa a sua vontade:

 

Que se passe em silêncio a minha morte, enrolem-me nu num lençol, em carro de menor categoria dos pobres. Queimem-me e que o meu corpo, acabado de queimar, seja espalhado para que nada, nem as cinzas, reste de mim. Mas, se tal não for possível, que a urna funerária seja levada para a Sicília e emparedada dentro de uma qualquer rocha vulgar no campo onde nasci. (2)

 

Entretanto, o que de facto aconteceu não foi simples já que Pirandello teve três funerais:

Em Setembro de 1924, Pirandello aderiu ao Partido Nacional Fascista, em telegrama pessoal enviado a Mussolini (3), mas, descontente,  em 1927 rasgou o seu cartão de membro diante do secretário-geral do Partido. Pelo facto, e durante o resto da vida, foi objecto de vigilância pela polícia secreta fascista. Mesmo assim, depois da sua morte, o Partido, quis associar o Nobel à causa fascista e, nesse sentido, organizou uma cerimónia formal em Roma, vestindo-lhe até uma camisa negra. Foi, então, cremado e as suas cinzas foram colocadas, por iniciativa da família e da Câmara Municipal de Roma, no cemitério de Verano em Roma, tendo aí permanecido durante 10 anos, até ao final da II Guerra Mundial.


Foi então que o Município de Roma, com o apoio do Governo Americano, decidiu, cumprindo parte da sua vontade, transladar as suas cinzas para a Sicília num voo especial americano, durante as celebrações dos 10 anos da sua morte em Agrigento. No entanto, por superstição dos restantes viajantes e do Capitão da Força Aérea dos EUA, não foi permitido ao avião levantar voo com as cinzas de Pirandello a bordo.


O Delegado Geral da Comuna de Agrigento foi obrigado a sair do avião e, sempre transportando a urna, a seguir viagem de comboio. Durante a viagem, a caixa que continha a urna desapareceu, tendo sido encontrada, posteriormente, servindo de mesa de jogo a alguns passageiros.


À chegada a Agrigento, os membros do clero, apesar de admiradores da obra de Pirandello, recusaram-se a atravessar a cidade com uma urna grega em cerâmica, ortodoxa. A fim de se ultrapassar a situação, foi decidido colocar a urna num caixão mas, não havendo caixões de adulto disponíveis, o caixão utilizado tinha o tamanho apropriado para uma criança. Por essa razão, quando a procissão atravessou a cidade a caminho do cemitério de Agrigento, o povo pensou que se tratava do funeral de uma criança.


Foi, então, contratado, na Sicília, o artista Marino Mazzacurati que, durante 15 anos, esculpiu um rochedo local, construindo um monumento funerário que até hoje guarda as cinzas do Nobel da Literatura, cumprindo-se assim, enfim, a sua vontade. Sozinho, sem qualquer cerimonial, o artista prestou-lhe uma singela homenagem.

Notas:
(1) A Fundação preserva no seu acervo diversos documentos produzidos e recebidos sobre este Congresso como referido por Maria José Lancastre em 2006 na sua obra "Con un sogno nel bagaglio. Un viaggio di Pirandello in Portugallo", traduzido em em 2015 "Com um sonho na bagagem. Uma viagem de Pirandello a Portugal": Mas os documentos de maior interesse, incluindo os iconográficos, pertencem ao «Arquivo Ferro» na posse de Mafalda Ferro, neta do escritor, que mo pôs generosamente â disposição [...]. Ainda a Fundação não tinha sido criada... Ambos os livros estão disponíveis para consulta na biblioteca da Fundação
(2) Em «Leonora Addio», filme de Paolo Taviani sobre a vida do Nobel da Literatura Luigi Pirandello contada através de imagens de arquivo misturadas com cenas ficcionadas.
(3) Gianfranco Vené, em "Pirandello Fascista. La coscienza borghese tra ribellione e rivoluzione", Mondadori, 1991.

 

06  O NATAL EM RIO MAIOR: PRESENTE E PASSADO, 
por Sónia Rebocho (Investigação, Arqueologia e Património, UDCT - CMRM)


Ao longo dos últimos anos, a Câmara Municipal de Rio Maior, em colaboração com a comunidade e associações locais, tem procurado expandir e inovar no que respeita às iniciativas associadas à celebração da quadra natalícia. No que toca, por exemplo, à iluminação das principais ruas, praças e pontos de interesse da cidade, destaca-se neste ano de 2024 a iluminação da torre da antiga central elétrica do Complexo Mineiro do Espadanal, a uma altitude de cerca de 55 metros, reproduzindo o formato de uma árvore de Natal.


Os Presépios do Sal, iniciativa que já se tornou um marco da época festiva e que tem somado visitantes ao longo dos últimos anos, conta nesta 13.ª edição com um maior número de peças expostas, incluindo cinco presépios de grande dimensão no espaço exterior, para além de um conjunto diversificado de actividades, que abarcam o Labirinto com uma área ampliada e o Comboio Turístico, que faz a ligação da aldeia das Marinhas do Sal ao centro da cidade de Rio Maior.


Circulando o Natal
, que se traduz na apresentação de peças de teatro infantil nas diversas freguesias, o Cinema em Família, que inclui a projecção no Cineteatro de películas alusivas à época, o Natal das Artes, que abarca oficinas e actividades para os mais pequenos, a Tenda Natal, com pista e rampa de gelo e pista de boias, o Mercadinho de Natal, os insufláveis e os carrosséis, todos instalados no Jardim Municipal, a Casa do Pai Natal na Praça do Comércio, a Caminhada e a Parada de Natal em 2 Rodas, actuações musicais, espetáculos pirotécnicos, concursos e exposições constituem a vasta panóplia de iniciativas que procuram atrair e animar miúdos e graúdos, de dentro e fora do concelho, dinamizar o comércio, dar vida às ruas da cidade e levar alegria e movimento às várias localidades do concelho.

[FOTOS CMRM]


Se recuarmos cerca de um século e folhearmos as páginas do jornal local então publicado, no caso O Concelho de Rio Maior, constatamos que a época natalícia era assinalada fora de portas, com pouco mais do que a celebração da tradicional Missa do Galo e de algumas reuniões ou bailes, organizados pelas associações locais para associados e seus familiares, nomeadamente pela Assembleia Riomaiorense e pela Associação dos Bombeiros Voluntários.

No rescaldo do primeiro conflito mundial, da gripe pneumónica e da crise económica originada pelo crash de 1929, uma significativa parte da população portuguesa sofria, então com a pobreza e a fome e a vila de Rio Maior, bem como as aldeias ao seu redor, incluíam inúmeros casos de famílias desvalidas. Evocando os princípios cristãos da caridade e do amor ao próximo, as instituições locais procuravam proporcionar algum conforto a estas famílias e em especial aos mais pequenos.

Um caso paradigmático nesse tempo, eram as Festas Infantis organizadas pela Casa do Povo de Rio Maior, constituída em 1934, no decurso das quais eram distribuídos brinquedos, vestuário e outros bens aos filhos dos sócios efectivos e também géneros alimentícios àqueles em pior situação económica, inscritos no chamado “Fundo de Assistência”. No inverso, também encontramos iniciativas em que os destinatários das iniciativas eram as associações, que beneficiavam do apoio das famílias riomaiorenses no decurso da época festiva.


Em 1944, a inflacção e a crise financeira geradas pela Segunda Guerra Mundial e o aumento exponencial do número de doentes e assistidos, decorrente da fixação de grande número de trabalhadores e suas famílias face à intensificação da exploração de carvão no Complexo Mineiro do Espadanal, colocam o hospital gerido pela Misericórdia numa «situação angustiosa», surgindo então a ideia da organização de Cortejos de Oferendas, que decorrem nesse e nos anos seguintes, por regra nas primeiros dias de Janeiro.


No mês de Outubro de 1967, por exemplo, o Jornal do Oeste lança a campanha “O Natal do Bombeiro”, que se traduz numa angariação de fundos a favor desses «voluntários e abnegados Soldados da Paz», que se prolonga até às vésperas da Natividade e cujos resultados são publicitados nas páginas do jornal.


Nos períodos mais desafiantes da História da comunidade riomaiorense, a quadra natalícia foi sempre sinónimo de solidariedade e espírito de comunhão. Na actualidade, é uma oportunidade de recordar os valores cristãos e humanitários e associar à faceta festiva um gesto
altruísta.

NOITE DE NATAL (excerto)


Nasceu Jesus. E então tudo mudou.

Milagre foi, milagre só de amor:

O que era frio, logo foi calor,

Em luz, o que era trevas, se tornou!

Em «O Riomaiorense», 3.ª Série, Ano 1, n.º 22, 25-12-1949) 
 
07 — SUGESTÕES DE LEITURA.
Divulgação.

 

08 — Livraria António Quadros
Obras em Promoção até 14 de Janeiro de 2024

Autoria:
 Fernanda de Castro.
Título: Memórias (1906-1987). Nova Edição.
Coordenação, Introdução, Fixação de texto, Índice remissivo: Mafalda Ferro.
Imagem de capa: Fernanda de Castro, 1924, por autor anónimo.
Edição — Rio Maior: Edições Fundação António Quadros, 2024.
Observações: Importante re­gisto autobiográfico com referência a pessoas anónimas, familiares e amigos da autora e, também, a incontornáveis personalidades da vida social, intelec­tual, artística e política portuguesas e estrangeiras. 

A Autora: Personalidade inspiradora, cativante, lírica e alegre por natureza, exemplo de coragem, generosidade e esperança, Fernanda de Castro correu mundo e per­correu Portugal de norte a sul, viveu em Cacilhas, em Lisboa, no Algarve, em Cascais, em Marvão, em Berna e em Roma, fazendo amigos, criando projectos e escrevendo, escrevendo sempre. Apesar de conservadora, nunca abdicou da sua independência nem dos direitos que acreditava serem devidos a todas as mulheres. Foi Esposa, foi Mulher, foi Mãe, foi Avó mas foi, sobretudo, Fernanda de Castro.

Memórias (1906-1987):
Reúne pela primeira vez os dois volumes de Ao Fim da Memória num livro único. acrescentando-lhe além de uma bibliografia actualizada (primeiras edições) da autora, um essencial índice remissivo que inclui mais de 500 termos referentes a nomes, locais, casas e projectos associados à vida de Fernanda de Castro, de forma a facilitar a consulta.

PVP: 22€


Autoria:
 Fernanda de Castro.
Título: Náufragos. Peça de Teatro em 3 actos. Edição crítica. 
Introdução:
 Mafalda Ferro.
Prefácio: Eugénia Vasques.
Posfácio: Joana Leitão de Barros.
Imagem de capa: "Tecidos de Vida", por Luís Silva Moreira.
Edição — Rio Maior: Edições Fundação António Quadros, 2024.
Náufragos: Peça de Teatro. à qual foi adicionado o registo da obra de Fernanda de Castro em prol do Teatro, através da mostra de documentos, imprensa e fotografias. 

PVP: 18€

 
 
     
 
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