clique aqui se não conseguir visualizar correctamente esta newsletter
Newsletter N.º 219 / 14 de Fevereiro de 2025
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

ÍNDICE

01 — A Revista Orpheu, exemplares no acervo da Fundação António Quadros. Informação.
02 — A revista Orpheu, em entrevista a Alfredo Guisado. [Em «Autores» n.º 10, 1960]
03 — António Ferro - entre Orpheu e os jornais, por Guilherme d'Oliveira Martins [em "António Ferro, 120 Anos. Actas"]
04 — Orpheu acabou. Orpheu continua: António Ferro e a geração de Orpheu - elementos para uma ex posição, por António Cardiello.
05 — Miguel Torga – do Marão para o Mundo. Um transmontano cosmopolita, filho ocidental da Ibéria, 30 anos após a sua morte (12/08/1907 – 17/01/1995), por Manuela Dâmaso.
06 — A Presença de Miguel Torga na Fundação António Quadros, por Mafalda Ferro.
07 — Martins Correia e a sua presença na Fundação António Quadros, por Mafalda Ferro.
08 — Livraria António Quadros - Obra em Promoção até 14 de Março de 2024 (celebrando os 30 anos de nascimento de António Ferro): Catálogo da exposição «Suroeste», realizada no MEIAC, em Badajoz em 2010 (dois volumes guardados em capa original).


EDITORIAL,

por Mafalda Ferro.


Durante o presente ano, 2025, a Fundação presta, através de inúmeras iniciativas, homenagem a António Ferro, 130 anos depois do seu nascimento.


Assim, damos, hoje, especial destaque a António Ferro e à revista «Orpheu» (110 anos depois da sua criação), através de palavras escritas por Alfredo Guisado e por Guilherme d'Oliveira Martins. Prestamos também homenagem a duas personalidades de enorme mérito: Miguel Torga (30 anos depois da sua morte) e Martins Correia (115 anos depois do seu nascimento).

António Ferro, Miguel Torga, Joaquim Martins Correia

[acervo da Fundação António Quadros (Ferro, Torga); Colecção particular de Elsa Martins Correia (Correia)]


Boletim Folhas à Solta n.º 130 Janeiro, por Maurícia Teles:

Aconteceu...
Na Associação Agostinho da Silva | 30 anos depois da partida de Agostinho da Silva e de Fernanda de Castro.

Em bom augúrio lembrámos, no dia 21 de Dezembro 2024, a Obra de Fernanda de Castro, na viva voz de Mafalda Ferro, Presidente da Fundação António Quadros, que ergue com dignidade os livros MemóriasNáufragos e sinais da obra social extraordinária da autora, sua avó, dedicada às crianças em Portugal. Avivou-se o sentido testemunho por Madalena Ferreira Jordão.

Memorável foi o testemunho do convívio com Agostinho da Silva, António Quadros e o grupo da “filosofia portuguesa”, por Abel de Lacerda Botelho, Presidente da Fundação Lusíada e editor do livro: António Quadros, nos 100 anos do seu nascimento - Actas do Colóquio.

Ainda, a Revista Espiral 60 anos depois – 1964/2024 (Director António Quadros): a apresentação digital foi feita por Mafalda Ferro, com a retrospectiva da publicação de treze números, fazendo jus aos textos dessa geração de Pensadores portugueses.

 
01 — A Revista Orpheu, exemplares no acervo da Fundação António Quadros.
Informação.


Eis os exemplares dos dois números da Revista «Orpheu» pertencentes há 110 anos a António Ferro, já muito velhinhos e, hoje, preservados na biblioteca da Fundação.  E, ainda, o n.º 3.

ORPHEU REVISTA TRIMESTRAL DE LITERATURA

Edição: António Ferro.

Número 01 (Janeiro/Fevereiro/Março de 1915)


Direcção: Luís de Montalvor (para Portugal) e Ronald de Carvalho (para o Brasil).

Colaboração: Luís de Montalvor (introdução), Mário de Sá-Carneiro, Ronald de Carvalho, Fernando Pessoa, Alfredo Guisado, José de Almada Negreiros, Armando Côrtes Rodrigues e Álvaro de Campos.
Capa: José Pacheco.
Propriedade: Orpheu, L.da.



Número 02 (Abril/Maio/Junho de 1915)

Direcção: Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.

Colaboração: Ângelo de Lima, Mário de Sá-Carneiro, Eduardo Guimarães, Raul Leal, Violante de Cysneros (Côrtes Rodrigues), Álvaro de Campos, Luís de Montalvor, Fernando Pessoa.

Colaboração especial: Santa-Rita Pintor.
Capa: José Pacheco.
Propriedade: Orpheu, L.da

E depois...
«Em Julho de 1915, Alfredo Guisado e António Ferro anunciaram publicamente o seu afastamento da revista por divergências políticas com Fernando Pessoa, aliás, Álvaro de Campos». A 13 de Setembro de 1915, em carta a Pessoa, Sá-Carneiro anunciou a sua saída da revista. O pai de Mário de Sá-Carneiro recusou-se a continuar a pagar a revista. Do n.º 3, inédito, ficaram algumas páginas que viriam a dar origem, em 1983, à sua reconstrução e publicação.


Número 03

Título: Orpheu 3. Provas de página.

Prefácio: José Augusto Seabra.

Capa e arranjo gráfico: Zita Magalhães sobre desenho de Amadeo de Souza Cardoso.

Edição — Porto: Edições Nova Renascença, 1983.

 

02 – A revista «Orpheu»,
em entrevista a Alfredo Guisado.
[Em «Autores» n.º 10, 1960]


Legenda: António Ferro, Alfredo Guisado. Lisboa, [1913]


Em fins de Março de 1915 surgiu em Lisboa, a «Orpheu». Foi uma espécie de bomba literária que estalou na Lisboa de há quarenta e cinco anos. Tratava-se de uma publicação que, efectivamente, desconcertava, pela extravagância e pela irreverência, dos cânones estabelecidos. A publicação seria trimestral. Não conseguiu, porém, ultrapassar o segundo número aparecido em Julho.  «Morreu em flor como as virgens verdadeiras» dizia Fernando Pessoa, aludindo ao facto.

Mas se o «Orpheu» durou pouco, a sua influência, boa ou má, transcendeu tudo quanto os seus fundadores poderiam esperar. Com efeito, aqueles dois números do «Orpheu» converteram-se para determinados literatos numa autêntica «Magna Carta».

Alfredo Guisado, António Ferro. Lisboa, [1913]

Dos fundadores e colaboradores do «Orpheu» restam Alfredo Guisado, Armando Côrtes-Rodrigues e José de Almada Negreiros, três pessoas distintas e todas três verdadeiras. Ora, quis o bom destino que uma tarde destas descobríssemos Alfredo Guisado sob o seu largo e característico chapéu o único chapéu, nosso conhecido, que faz sombra ao sol. Estava ali uma entrevista e precisamente acerca do «Orpheu».

Não hesitámos, contando, não com a nossa coragem, mas com a amabilidade de Alfredo Guisado. E a entrevista aqui está, rescendendo ao estilo da célebre publicação.


Como surgiu a ideia do «Orpheu»? Inquirimos de Alfredo Guisado.

Pergunta-se, de vez em quando, como nasceu o «Orpheu». O «Orpheu» não nasceu porque já existia mesmo antes de ter nascido, tomando-se como o ter nascido, o aparecer pela primeira vez em público. Ora o ter aparecido pela primeira vez em público, não quer dizer que já não existisse. Foi uma consequência do grupo que se formou. Ao formar-se, este grupo encontrou-se em «Orpheu». O formar-se não é, nem pode ser, sinónimo de nascer. Nascer é uma coisa que acontece e o «Orpheu» nunca aconteceu. Existiu, o que é diferente. O existir é uma realidade. A realidade não tem princípio nem fim. Se não tem princípio, não nasceu. Se não tem fim, não morre mesmo que tenha desaparecido. Fica. Daí o «Orpheu» ter ficado por mais que muitos o tenham tentado destruir. Continua e continuará a ser sempre uma realidade.


Quem foram os fundadores?

Nem todos os que escreveram em «Orpheu» fizeram o «Orpheu». Uns faziam parte do grupo, os outros foram apenas aquilo que se convencionou chamar colaboradores. Dos primeiros é que apareceu aquela revista, como daquela revista apareceu a obra de cada um deles. Quem constrói um edifício, não significa que tenha de o habitar e mesmo que também o venha a habitar não se confunde com quem o edificou. Os que apareceram depois para morar nele, sem terem contribuído para a sua construção, nada têm que ver com os que o construíram. Uns imaginaram-no, tornaram-no realidade, cercaram-no deles mesmos. Os outros aproveitaram-se do que os primeiros quiseram ser e foram, para então tentarem ser também o que os outros tinham sido. Suponho que a colaboração em outras revistas semelhantes aparecidas mais tarde, é ainda o prolongamento da colaboração em «Orpheu».

Há uma grande diferença visto que parece ser igual, se por ventura é possível que haja o quer que seja que possa ser igual a qualquer outra coisa que, por sua vez, suponha que possa ser igual ao quer que seja. As coisas mais iguais, são, precisamente, as que mais diferentes se tornam. As que mais se aproximam, pela razão de mais se aproximarem, afastam-se para evitar uma igualdade que pode monotonizar. Ora os fundadores foram: Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, José de Almada Negreiros, Luís de Montalvor, José Pacheco, Armando Côrtes-Rodrigues e eu e ainda Ronald de Carvalho e Eduardo Guimarães. Estes dois últimos encontravam-se no Brasil. Todos os mais são colaboradores.


Como apareceu António Ferro então muito novo ainda, editor do «Orpheu»?

Quando da organização total da revista, pensou-se na necessidade de haver um editor: Quem? Foi então que o Sá-Carneiro lembrou o António Ferro. Porquê, se ele não era fundador, isto é, componente do grupo, se bem que andasse muito na nossa companhia? Justificou-o assim o grande poeta da «Dispersão» : Convém que seja ele porque é menor e se surgir qualquer complicação a sua responsabilidade não tem consequências.


Onde se reuniam?

No Restaurante «Irmãos Unidos». Como eu fazia parte daquela casa, que pertencia ao meu pai e, onde eu estava, naquela altura, empregado, pois nem sequer inscrito estava na Faculdade de Direito, o que aconteceu em Outubro desse ano (1915) e a revista saiu em Março - Abril, não me era possível, por isso, afastar-me dali. Os meus companheiros de grupo, velhos e sinceros amigos todos eles, resolveram fazer naquele restaurante as suas reuniões para que eu pudesse assistir a todas elas. E nunca mais deixamos de ali reunir.


Como encara as largas repercussões que o «Orpheu» teve?

Se, como disse, «Orpheu» continua e continuará a ser uma realidade, não temos que explicar a repercussão que teve. Tudo o que é realidade se repercute sem que se explique. Dizem que existem estrelas que ainda se vêem acesas, apesar de haver milhares de anos que estão apagadas. Foi e é o que sucede com «Orpheu». A sua luz apesar de haver quarenta e cinco anos que se apagou, ainda brilha com a mesma intensidade.


Dizem que vão ser publicadas as memórias do «Orpheu»

É exacto. Intitular-se-ão "«Orpheu» por dentro" e virão a lume logo que estejam impressas, o que será nos primeiros meses do próximo ano.


Quem são os autores?

Essa pergunta, tomo-a como interesse de saber quem escreveu essas memórias, não é assim? Autores propriamente não têm. Os autores foram os acontecimentos que ocasionaram os factos verdadeiros que nesse livro se contarão.

Os compiladores são Almada Negreiros, Côrtes-Rodrigues e eu, os únicos que podem redigir essas memórias, porque também são os únicos que restam daquele grupo. Aparecerá naquelas páginas apenas a verdade para evitar que continuem inventando aqueles que se dizem conhecedores daquilo que não conhecem.

 
03 — António Ferro – Entre o Orpheu e os jornais,
por Guilherme d'Oliveira Martins.
[em "António Ferro, 120 Anos. Actas"]

Muito se tem dito sobre o lugar de António Ferro na história portuguesa do século XX. Há, no entanto, um tempo na vida do futuro Secretário da Propaganda Nacional que merece uma recordação especial e sem cujo conhecimento compreenderemos mal a influência que teve e a margem de manobra que cultivou nos meios artísticos do seu tempo.

Referimo-nos à amizade que estabeleceu com Mário de Sá-Carneiro, nos tempos de estudante, ainda no Liceu Camões, e às repercussões que tal teve não só no lugar simbólico na revista Orpheu, mas também na rede de amizades e conhecimentos com papel decisivo na sua ação política. E se António Ferro começou as suas lides políticas nas hostes do Partido Democrático, a verdade é que, como tantos outros, viria a ser influenciado pelo «espírito do tempo», afastando-se nitidamente da pertença republicana. A colaboração com Filomeno da Câmara, em Angola, aproximá-lo-iam do sidonismo e o restante caminho é conhecido… Aliás, se nos lembrarmos da curiosíssima experiência que ficou conhecida como o «soviete dos Caetanos», na casa onde foi viver com Fernanda de Castro na calçada dos Caetanos (hoje Rua João Pereira da Rosa), percebemos que o convívio nesse prédio histórico (onde tinham habitado Ramalho Ortigão e Oliveira Martins) era muito aberto e diversificado, envolvendo pessoas de várias convicções políticas, como Bernardo e Ofélia Marques e José Gomes Ferreira, vizinhos do segundo andar, com quem havia uma aberta convivialidade. O jovem António Ferro e sua mulher Fernanda de Castro há muito que se movimentavam nos meios culturais da cidade de Lisboa, num tempo em que na Europa e em Portugal corriam ventos contraditórios, com a tentação proteccionista e autocrática a ganhar influência e significado. Os efeitos económicos da guerra, o anúncio de uma depressão, a instabilidade política dos governos, as sequelas da questão religiosa convergiram no sentido da crise das instituições representativas, de que se dá eco o jovem António Ferro. A moderna historiografia deve, assim, compreender a complexidade das circunstâncias políticas que rodearam a juventude e a maturidade do autor de «Teoria da Indiferença».


Orpheu
foi não apenas um importante acontecimento literário e artístico, mas um momento de significado sociológico e histórico. E se a época se mostrava “despertada para o contacto com todas as civilizações”, a arte moderna tinha de ser representativa deste universalismo tão emblemático na altura – como salienta Steffen Dix. Fernando Pessoa fala de «sensacionismo» - que «aceita influências de todas as partes, porque tudo utiliza, tudo usa, tudo inclui em si». O certo é que a revista causou escândalo (e teve sucesso) como Pessoa confessa, em Abril de 1915, em duas cartas a Armando Côrtes-Rodrigues.


Tal como as gerações de oitocentos e novecentos desejaram pôr Portugal ao ritmo da Europa e do mundo, Orpheu fê-lo do modo especialmente audacioso. Almada Negreiros dirá: «Estava desabitada a cabeça de Portugal! A razão de Orpheu era profundamente aristocrática, não no seu efémero sentido de sangue, mas na sua verdadeira essência de valores» (1935). Hoje soa a quase profética a declaração paradoxal de Pessoa perante a emergência da Grande Guerra: «there is much more unexpectedness and interest in Orpheu than there is in the present War». Tratava-se de pôr na ordem do dia a criatividade e a liberdade de espírito. Garrett e Herculano, Antero de Quental e a sua geração, a Renascença Portuguesa e o Orpheu representaram, por assim dizer, um curioso e quase improvável nexo de continuidade. Sermos nós mesmos significaria aceitar múltiplas influências - tudo usar, tudo incluir.


Só podemos compreender, porém, Orpheu como um projecto multifacetado, no sentido de seguir as passadas de uma arte que ganhava o ritmo e o movimento perante a produção em série industrial, havendo que contrapor a singularidade e o universalismo. Os protagonistas são Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho. E se virmos bem, os dois números publicados revelam uma diversidade talvez semelhante à dos heterónimos. Eduardo Lourenço fala-nos da diferença e da complementaridade entre Pessoa e Sá-Carneiro: «o que a poesia de um e de outro consigna e traz consigo é o sentimento de uma irrealidade fundamental do eu que contamina a realidade da mesma conotação irreal, mas por sua vez a consciência da irrealidade do eu não é o fruto de uma inacessível apreensão da consciência por si mesma, de uma descida ao poço sem fundo da interioridade, mas o reflexo de uma inacessibilidade por assim dizer inscrita na existência do próprio real, que é o radicalmente-outro que a consciência usufrui no privilégio da sua fulgurante e absurda exterioridade» (Catálogo da Exposição sobre Orpheu da Biblioteca Nacional de Portugal, 2015). Orpheu procurou, pois, ser um projeto em diversos sentidos. Fernando Pessoa não se declara futurista e se lembrarmos as suas reflexões sobre a poesia portuguesa entendemos que o autor de «Pessoa Revisitado» saliente que a ideia do Nada se impõe sobre o Nada como ideia, do mesmo modo que compara o que Oliveira Martins dissera da poesia de Antero, ao falar de uma «ironia transcendente», com a ideia nova de «ironia transcendental», presente em Orpheu, como manifestação paradoxal da positividade original do negativo.


O testemunho de António Ferro revela especial interesse, uma vez que há nitidamente uma adesão artística e cultural ao que lhe é proposto por um condiscípulo mais velho por quem tem profunda admiração. Desde os tempos do Liceu Camões, conhecera Mário de Sá-Carneiro, e cedo houve empatia entre ambos, a ponto de o autor de A Confissão de Lúcio confiar ao jovem dois dos seus primeiros poemas: «Quadras para uma Desconhecida» e «A um suicida» (dedicado a Tomás Cabreira Júnior, que se suicidara com um tiro aos 16 anos na escada do liceu)… Na correspondência entre os dois há, aliás, sinais evidentes de apreço mútuo. Sá-Carneiro elogia o jovem. Alfredo Guisado tem razão quando confidencia o que Sá-Carneiro lhe dissera sobre o facto de Ferro ser editor da revista: «convém que seja ele porque é menor e se surgir qualquer complicação a sua responsabilidade não tem consequência». Fernando Pessoa conta a história com diferenças, dá-lhe um tom irónico, mas não desmente o essencial.


Ferro chega, de facto, ao mundo de Orpheu pela mão de Mário de Sá-Carneiro seu primeiro mentor. António Ferro diz que ele «foi um animador, o homem de acção, o verdadeiro revolucionário, o primeiro modernista que saiu de casa, que saiu do seu espírito para vir para a rua. Relembro com saudade e ternura aquela tarde em que Sá-Carneiro se dirigiu a mim no Rossio de braços abertos, com uma alegria infantil que era, afinal, a alegria do mártir: Você leu os jornais? Leu a Capital? Vê o que dizem sobre o Orpheu? Somos todos doidos varridos! Da fama já ninguém nos livra… Reclamam para mim o colete-de-forças e um exame das minhas faculdades mentais… Estou contentíssimo! O êxito excedeu a minha expectativa». António Ferro não regateia elogios ao seu primeiro mestre, reconhecendo, contudo, não ser menor «a figura de Fernando Pessoa – o clássico da revolução – e eu só lamento não poder dizer neste artigo apressado e incompleto toda a minha admiração por esse formidável gabinete de trabalho que é a cabeça do pai de Álvaro de Campos». Neste testemunho, notamos nitidamente as qualidades do jornalista, capaz de nos dar de impressões sucintas e impressivas. Lembramo-nos das acusações que lhe foram feitas por ter escrito as entrevistas com Mussolini e Hitler, apenas contando quase com monossílabos os diálogos parcos, a verdade, porém, é que as impressões nas peças que assina dizem muito mais do que as palavras que faltam…

Mas, regressemos ao testemunho de Ferro: sobre Santa Rita Pintor, fala do «apóstolo das formas novas, que trouxe Picasso, no coração, para Portugal», como «ponteiro da geração». Sobre Amadeu de Sousa-Cardoso, compara-o a Modigliani - «não no feitio da sua arte, mas no feitio da sua vida». A propósito de Almada Negreiros, associa-o a Sá-Carneiro – lutou como ele, «desprezando a glória fácil e impondo rudemente sua alma. Alguns dos seus gestos, algumas das suas obras são datas memoráveis da vanguarda portuguesa». E cita a memorável «Invenção do Dia Claro», como emblemática, referindo o artista como um dos maiores desenhadores portugueses, que a Espanha também considera um dos melhores da Península… E Ferro usa a melhor ironia: «foi um dos loucos que fugiram do manicómio do Orfeu».


Cem anos passados, o fenómeno Orpheu afirmou-se quase inesperadamente. O testemunho de Nuno Júdice no referido catálogo da Biblioteca Nacional é significativo. Pode dizer-se que aqui se apresenta uma das chaves que permite entender como Pessoa, Sá-Carneiro, Almada e Orpheu superam as desconfianças políticas, que o tempo foi dissipando, sobretudo pelo conhecimento do conteúdo da célebre arca pessoana e pela sua inserção no mais rico pensamento europeu. Jorge de Sena e Eduardo Lourenço puderam, aliás, reforçar a exigência de uma leitura atenta e aprofundada da obra de Pessoa, inserida no conjunto heterogéneo dos autores de «Orpheu».


Mas oiçamos Nuno Júdice: «A rejeição daquilo que eu identificava como uma ideologia conservadora foi sendo atenuada quando me comecei a interessar pela geração dos modernistas e das suas doutrinas, algumas correntes, apesar de todas as suas contradições, como era o caso de Pessoa ou de Almada, algumas exotéricas e especulativas, numa linha ascendente, que ia do mais filosófico Mário Saa ao delirante Raul Leal». O certo é que a edição da Obra Poética da Nova Aguilar, com a correspondência de Sá-Carneiro com Pessoa, revela um diálogo, em que as pistas inovadoras, cosmopolitas e modernas vão muito além da leitura estreitamente ideológica do debate lisboeta. O próprio Nuno Júdice aponta para o estranho epílogo da revista, falando do desencanto de Pessoa por Portugal, que poderia ter resultado do episódio que pôs fim a Orpheu: «o escândalo político resultante da carta em que Álvaro de Campos rejubila com o acidente de eléctrico que pôs Afonso Costa à beira da morte». Pessoa vê-se obrigado a esconder-se, quando os seus companheiros se afastam dele (como Sá-Carneiro e A. Ferro), não se solidarizando (há quem dê a entender que tudo se deveu a excesso de bebida). «O próprio Mário de Sá-Carneiro com a guerra na Europa a constituir uma ameaça para quem viva em Paris, regressa rapidamente a essa cidade e inviabiliza a continuação da revista, também por falta de apoio do pai, que não poderia ter deixado de ter conhecimento do incidente político».


E António Ferro pergunta nas páginas do Notícias Ilustrado (em Fevereiro de 1929) se o modernismo triunfou em Portugal. E a resposta é positiva. «Toda essa mocidade que anda aí pelos jornais, pelas capas dos livros, pela fisionomia gráfica das revistas, pela pintura, pelos cartazes, pelas montagens de certas peças ligeiras – essa obra é nossa, é o nosso influxo, a nossa respiração, é o braço de Sá-Carneiro “a dançar nos salões do vice-rei”». Não só o futuro próximo confirmaria…


A escola de Orpheu, no seu melhor, notar-se-á mais tarde no método de António Ferro na sua acção política. Ele conhecia as pessoas, sabia as suas qualidades e o que podiam dar. Cottinelli Telmo disse em 1938 que Ferro «soube criar uma equipa técnica de altíssima qualidade, que uma seleção cuidada apurou e que experiências sucessivas refinaram». E, para demonstrar o que diz, o arquiteto acrescenta: «É agradável e consolador ver como António Ferro trata os assuntos com os seus colaboradores artistas. Eles trazem-lhe uma ideia, um esboceto. Está tudo parece que pronto: falta apenas o visto do director! Mas o director vem com uma ideia nova, um caminho novo. Não desenha nem pinta, porque não sabe, mas a directriz aparece com o valor duma realização plástica… e aquilo que já estava bem, passa a estar melhor!...». Estranhar-se-á que fale de escola de «Orpheu», num grupo que propositadamente recusava a lógica académica, até porque o único mestre reconhecido, Caeiro, é apresentado como sem escola. Contudo, esta ideia de «escola» para o caso de Ferro significa que estamos perante alguém que cultivou a intuição artística como método de escolha e de critério. Por isso, Cottinelli fala da «altíssima qualidade». Os historiadores do «design» não se cansam de dizer que Ferro foi ao encontro do melhor e mudou o panorama nacional. E há dezenas de histórias de quantos se queixavam das heterodoxias de Almada, das extravagâncias de Eloy, para não falar de Amadeo, que depois da saída de Ferro houve quem desejasse condenar ao ostracismo.


Cabe à historiografia, com rigor e objectividade, dizer qual o lugar de cada um no seu tempo e na sociedade. António Ferro marcou indiscutivelmente. Não iludiu o seu pensamento e as suas convicções. Rodeou-se de quem produziu obra relevante. Correu riscos, acertou e errou, como qualquer humano. O fim da Guerra mudaria tudo. Como poderemos defini-lo? Um dia, ao falar de «Hollywood» disse: há fazendas caprichosas cuja beleza só se compreende depois dos factos feitos…. O tema destas reflexões reporta-se à influência dos passos primeiros do jovem amigo de Mário de Sá-Carneiro. E poderemos concluir com três ideias simples: António Ferro amou o seu tempo e sentiu no íntimo de si a pulsão da modernidade; como jornalista cultivou a plasticidade das palavras e o seu jogo vertiginoso (ou não considerasse o cinema como a arte do movimento por excelência e o jazz como a criatividade em acção); a ordem e o paradoxo inebriavam-no, pelo que não sabia viver sem os artistas de quem gostava...

[Comunicação apresentada no Seminário «António Ferro. O tempo. As ideias. O modo.», 2015, publicada em "António Ferro, 120 Anos. Actas", 2016]

 
04 — Orpheu acabou. Orpheu continua: António Ferro e a geração de Orpheu – elementos para uma exposição,
por António Cardiello

Exactamente há 100 anos, um grupo de jovens escritores e artistas, publicou uma revista de título Orpheu, hoje em dia incontestável cristalização da Arte Moderna em Portugal.

Dessa revista saíram apenas dois números, enquanto de um terceiro só se chegaram a conhecer, postumamente, as provas. Ainda assim, foi o bastante para atiçar a polémica e agitar o cenário cultural português, adormecido nas linhas estéticas novecentistas e para reagir ao clima nacional, turbulento e depressivo, que atingiu o seu auge precisamente em 1915, com rocambolescos e sangrentos acontecimentos políticos em Portugal continental e colonial. Numa altura em que a Europa estava a explodir, Orpheu acompanha de outra maneira essa explosão e esse sentimento de as coisas terem de mudar através do confronto e da provocação e da mudança radical. Muitos dos colaboradores são autores que queriam indisciplinar, engendrar grandes transformações.

Apesar de não contribuir com nenhuma produção literária, António Ferro (1895-1956) inscreveu o seu nome na revista Orpheu enquanto editor de ambos os números. Foi Mário de Sá-Carneiro, com a cumplicidade de Fernando Pessoa, que o escolheu para esse lugar, por ser o único do grupo que não tinha ainda atingido a maioridade, sendo portanto impunível em caso de denúncias. A decisão, tomada num primeiro momento sem consultar o próprio Ferro, excitara a dupla de amigos por constituir uma provocação aos meandros da lei.

Orpheu,
revista e geração, foi um rasgo súbito e inaudito; “foi o primeiro grito moderno que se deu em Portugal”, nas palavras de José de Almada Negreiros. Cem anos depois, esse grito continua a ecoar nas memórias que temos da revista, da geração, dos estilos órficos e do mundo que reinventaram.

«Comecemos», escreveu Pessoa, «por distinguir três coisas que habitualmente se confundem quando se fazem referências ao Orpheu». Primeiro, a revista com aquele nome; segundo, os escritores e artistas que estiveram ligados a ela; terceiro, os que escreveram «em estilo semelhante ou aproximado ao dos que de facto colaboraram no Orpheu». Hoje Orpheu é ainda a revista, um conjunto de espíritos contemporâneos que nela coincidiram e talvez o estilo desses colaboradores, mas também é a memória de uma era, 1915, assinalada pelos dois números desse «órgão dos malucos» que tanto desassossego gerou... Essa memória é a que hoje, no centenário do Orpheu, com Jerónimo Pizarro e Sílvia Costa, decidimos resgatar e moldurar numa exposição itinerante, patrocinada pela Casa Fernando Pessoa em parceria com o Instituto Camões e dedicada a todos os protagonistas de uma tentativa colectiva de ruptura sobre larga escala.

Nós, os de Orpheu, são pelo menos doze apóstolos – nomeadamente Luís de Montalvor, Mário de Sá-Carneiro, Ronald de Carvalho, Fernando Pessoa, Alfredo Pedro Guisado, José de Almada-Negreiros, Armando Côrtes-Rodrigues, José Pacheco, Ângelo de Lima, Eduardo Guimarães, Raul Leal e Santa Rita Pintor – mas «Nós, os de Orpheu» também somos nós, os que em 2015 voltamos a revisitar a aventura modernista desses arautos ou emissários mandados para longe. Porque Orpheu não acabou; Orpheu continua e continuará a ser celebrado indefinidamente. Porquê? Talvez porque «Orpheu não pode acabar». Quem o explica é Pessoa: «Na mitologia dos antigos, que o meu espírito radicalmente pagão se não cansa nunca de recordar, numa reminiscência constelada, há a história de um rio, de cujo nome apenas me entre-lembro, que, a certa altura do seu curso, se sumia na areia. Aparentemente morto, ele, porém, mais adiante – milhas para além de onde se sumira – surgia outra vez à superfície, e continuava, com aquático escrúpulo, o seu leve caminho para o mar». Assim é o Orpheu. O mar é o futuro e a esse mar vão dar todas as memórias que temos da revista, da geração, dos estilos órficos e do mundo que reinventaram.

A exposição «Nós, os de Orpheu» – título parafraseado do texto de Fernando Pessoa na revista Sudoeste 3, em 1935 –, traça o percurso da revista e dos seus protagonistas, recorrendo, muitas vezes, às próprias palavras dos “órficos”.

Através da reprodução de diversas obras e documentos (fotografias, recortes de imprensa, correspondência, manuscritos, etc.), a de obuções: itos, etc.) e citapresenta-se o “Nós” que formou Orpheu e alargam-se perspectivas de leitura a todos “Nós” que, um século depois, continuamos a descobrir Orpheu, de frente para trás.

Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro começam por idealizar, já em 1913, uma revista literária, primeiro com o nome Lusitânia e depois Europa, traduzindo ideias mais cosmopolitas. Acabam por ficar rendidos a Orpheu. E este título, sugerido por Luís de Montalvor e pelo brasileiro Ronald de Carvalho, reflecte a vontade de criar uma publicação luso-brasileira capaz de juntar as artes e as letras.

A 26 de Março de 1915, pelas 19h, vende-se o primeiro exemplar. Cerca de cinco anos mais tarde, Fernando Pessoa fixa o horóscopo da revista. Sabe, desde logo, que este dia será simbólico e que Orpheu ficará gravado no nosso panorama literário e artístico.

O lançamento de Orpheu 1 provocou logo uma avalanche de chacota nos jornais e na opinião pública. “Degenerados”, “doidos”, “alienados” e “paranoicos” são alguns dos termos utilizados pelos críticos, entre os quais o psiquiatra e escritor Júlio Dantas, para apelidar os poetas da revista. Salvo uma caricatura de Almada Negreiros, publicada em O Jornal, a 13 de Abril de 1915, nenhum colaborador de Orpheu responde aos ataques de que foram alvo e às alusões de pertença ao agrupamento sócio-político do Integralismo Lusitano. Nem sequer o desdém de Júlio de Matos pelos “dissimuladores de extravagâncias”, divulgado pelos jornais A Capital e A Luta entre 30 de Março e 11 de Abril, conseguiu quebrar o voto de silêncio vigente no grupo. Até Fernando Pessoa que, em O Jornal de 4 de Abril, denunciara a intromissão no meio literário deste médico, preferiu ficou calado e preparar o terreno para um novo terramoto: Orpheu 2.

Para além das críticas na imprensa, os autores órficos são o mote para escrita satírica em diversas publicações e em espectáculos de teatro e de revista.

O segundo número de Orpheu é posto à venda a 28 de Junho. Os directores são, agora, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. A capa assume uma linha tipográfica semelhante à revista inglesa Blast. O papel e a letra revestem-se de um estilo diferente, “tão Álvaro de Campos e, ao mesmo tempo, tão inglês”, nas palavras de Sá-Carneiro. E a colaboração especial do futurista Santa-Rita Pintor, com hors-texte duplos, completa o lado plástico desta publicação. Na lista de colaboradores surgem outras novidades: o poeta-louco, Ângelo de Lima; o brasileiro Eduardo Guimarães; o autor de uma “novela vertígica”, Raul Leal; e um “anónimo ou anómima que diz chamar-se Violante de Cysneiros”. Dois poemas bastaram para que a imprensa levantasse de novo o burburinho à volta dos de Orpheu: “Manucure” de Mário de Sá-Carneiro e “Ode Marítima” de Álvaro de Campos.

Numa resposta sem tréguas, Raul Leal escreve o panfleto, O Bando Sinistro, e, como se faltassem motivos para polémica, Fernando Pessoa atiça mais reacções ao dirigir uma carta ao director do jornal A Capital, assinada por Álvaro de Campos.

Orpheu
2 reafirma o escândalo no cenário literário e artístico português e os seus autores regozijam-se com isso.

Um dos casos mais polémicos rebentou quando A Capital publicou, a 5 de Julho, um artigo em que os colaboradores da revista são descritos como “inofensivos futuristas”, desejosos de representar nos teatros portugueses delirantes recitais de “dramas dinâmicos”. A cortina que durante semanas tinha afastado os artistas órficos da tentação de reagir à imprensa, rasgou-se.

Fernando Pessoa não podia tolerar mais a incompetência da crítica. Por intermédio de Álvaro de Campos envia, no dia seguinte, uma carta ao director desse periódico fazendo troça dos jornalistas e recusando o rótulo futurista aplicado ao drama que o grupo tencionava apresentar. Ao mesmo tempo, alude com escárnio ao grave acidente ocorrido a Afonso Costa. O então primeiro-ministro e líder do partido republicano, dois dias antes, fracturara o crânio, quase morrendo, ao atirar-se da janela de um eléctrico em movimento para evitar aquilo que julgou ser um atendado à sua vida. No próprio dia 6 de Julho, A Capital torna pública a carta de Campos e um artigo de resposta aos “cérebros destrambelhados do Orpheu”, condenando sobretudo a “repugnante alusão ao desastre de que foi vítima o Sr. Dr. Afonso Costa”.

Postos directamente em causa, para evitar pior desfecho, alguns colaboradores da revista, entre os quais António Ferro, expressam na imprensa a sua discórdia em relação às palavras de Álvaro de Campos. Mário de Sá-Carneiro aproveita para reforçar que Orpheu pretende exercer “uma acção exclusivamente artística”, sem o interesse de promover “qualquer opinião política ou social – definitiva e colectiva”.

Estava instalada a cisão entre os membros de Orpheu, com alguns deles particularmente preocupados com as possíveis represálias contra Fernando Pessoa por parte das formigas brancas, organização semi-clandestina de polícia política na órbita do Partido Republicano.

A indisponibilidade económica para suportar novas edições fez o resto: Orpheu 3 não chega às bancas, embora Fernando Pessoa, em Setembro de 1915, redija um texto para a sua divulgação e termine a definição dos seus conteúdos a 12 de Maio de 1917, data que utiliza para traçar a carta astral desse número, e avance com a preparação das provas tipográficas. Foram essas provas que permitiram a publicação em 1984, pela editora Ática, de novos textos de Albino de Menezes, Álvaro de Campos, Augusto Ferreira Gomes, José de Almada Negreiros, José Castelo de Morais, José Coelho Pacheco, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e de Tomás de Almeida, alimentando o Mito, em Portugal, de um milagre cultural irrepetível e inextinguível.

[Comunicação apresentada no Seminário «António Ferro. O tempo. As ideias. O modo.», 2015, publicada em "António Ferro, 120 Anos. Actas", 2016]

 

05 — Miguel Torga – do Marão para o Mundo. Um transmontano cosmopolita, filho ocidental da Ibéria, 30 anos após a sua morte (12/08/1907 – 17/01/1995),
por Manuela Dâmaso.

O autor de Bichos surpreendeu quem o leu com contos sobre dilemas da vida de qualquer ser humano, através de fábulas que o não eram, com histórias que de simples nada tinham. De leitura universal quer para crianças, quer para adultos, Bichos mantém-se um desafio interpretativo, sempre interessante na partilha de leituras intergeracionais a partir de elementos da natureza, que nos conduzem no questionamento de outra bem mais complexa natureza; a natureza humana.


A sua ligação à terra até na escolha do pseudónimo se verifica: Torga, planta transmontana, também conhecida por urze campestre, cor de vinho, com raízes bem agarradas entre as rochas. O questionamento sobre a índole humana leva-nos aos autores Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno, por cujas obras o médico Adolfo Correia da Rocha relevava admiração. Estava escolhido o primeiro nome, Miguel.


Miguel Torga nasceu em 1907, em São Martinho de Anta, Trás-os-Montes.

Aos 10 anos, conclui a escola primária com distinção no exame e em 1918, vai estudar para o seminário de Lamego, onde só permanece um ano.

Em 1920, emigra para o Brasil para trabalhar durante cinco anos na fazenda de um tio paterno, no Estado de Minas Gerais, que, posteriormente, o recompensa ao financiar-lhe os estudos superiores em Coimbra. Ainda estudante de medicina, publica o seu primeiro livro, Ansiedade, um livro de poesia.

É em 1934, ao publicar a novela A Terceira Voz que adopta o pseudónimo Miguel Torga. No prefácio, a despedida do nome civil é assinada por Adolfo Rocha.

No ano seguinte, em 1935, rende homenagem a Fernando Pessoa, numa nota do Diário, aquando da morte do poeta:

 

Vila Nova, 3 de Dezembro de 1935

Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade sem ao menos perguntar quem era. (Diário, I, 1941).

 

Ao longo da sua obra, a admiração por Fernando Pessoa manter-se-á.

Em 1937, publica “Os Dois Primeiros Dias” de A Criação do Mundo, romance autobiográfico. É em Dezembro deste ano que viaja para a Europa, regressando em Janeiro do ano seguinte, atravessando a Espanha franquista, em plena guerra civil, e viajando por França, Itália, Suíça e Bélgica.

Passa a colaborar com regularidade na Revista de Portugal, dirigida por Vitorino Nemésio. O seu percurso literário afirmar-se-á com um notável espírito de independência, publicando a sua obra sempre em edições de autor.

Em 1939, publica “O Quarto Dia” de A Criação do Mundo. Esta narrativa é apreendida, Torga é preso, sendo libertado em 1940.

1940 é o ano em que casa com Andrée Crabbé no dia 27 de Julho. É neste ano que publica Bichos, um dos livros de contos mais originais da literatura portuguesa, que se afirmará como o maior êxito literário do autor pelos motivos aludidos no início desta singela homenagem.

A partir de1941, inicia a publicação de uma majestosa obra diarística com o volume I de Diário; virá a ter 16 volumes.

Em 1944, faz uma conferência no Porto a que Sophia de Mello Breyner Andresen assiste. A partir daí, nasce uma amizade recíproca e será a situação de Torga, preso por causa de um livro, que levará Sophia, em 1969, a aderir como sócia fundadora à “Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos”.

Em 1949, publica a peça O Paraíso. No início deste ano, participa na campanha da candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República.

Em 1950, Miguel Torga publica Cântico do Homem, um dos pontos altos da sua poesia de intervenção. É também neste ano que sai o volume Portugal, um livro admirável de viagem simbólica ao país e de interpretação da identidade nacional.

Em 1954, convidado a participar no Congresso Internacional de Escritores, em São Paulo, desloca-se ao Brasil. Ainda neste ano, é-lhe atribuído o Prémio Almeida Garrett, do Ateneu Comercial do Porto.

Em 1958, publica o livro de poesia Orfeu Rebelde e assiste à representação da sua peça Mar pelo Teatro Experimental do Porto, com encenação de António Pedro.
No dia 31 de Maio, participa no comício da campanha de Humberto Delgado em Coimbra (Teatro Avenida).

É em 1959 que Jean-Baptiste Aquarone, professor da Universidade de Montpellier, com o apoio de um grupo de intelectuais franceses, belgas e italianos, apresenta à Academia Sueca a candidatura de Miguel Torga ao Prémio Nobel da Literatura de 1960.

No início de Janeiro de 1960, os jornais portugueses davam conta de duas candidaturas portuguesas ao Prémio Nobel da Literatura: Miguel Torga e Aquilino Ribeiro.
A candidatura de Torga é entusiasticamente apoiada por Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill, David Mourão-Ferreira, entre outros intelectuais.

Em 1965, publica Poemas Ibéricos, livro que retratando a visão de um iberista, neutraliza a rivalidade entre dois países que muito têm em comum. Esta visão manter-se-á pela vida fora.

No dia 15 de Dezembro de 1967, subscreve um documento de protesto, assinado por vários políticos e intelectuais portugueses, entre os quais Mário Soares, Francisco Sousa Tavares e Francisco Salgado Zenha, enviado por carta ao Presidente da Assembleia Nacional. Pede-se aí a aprovação da Lei de Imprensa, a abolição da censura prévia e a possibilidade de interpor recurso para uma instância judiciária nas situações de apreensão de livros.

Em 1968, integra a “Comissão de Auxílio ao Dr. Mário Soares”, após a sua deportação para São Tomé, ao lado de personalidades como Salgado Zenha, António Macedo, José Cardoso Pires, Vasco da Gama Fernandes, Mário Augusto da Silva e Fernando Valle.

Em Maio de 1973, faz uma viagem a Angola e a Moçambique, acompanhado pelo gerente da Gráfica de Coimbra, Padre Valentim Marques. Sobre as motivações desta viagem, escreve n’“O Sexto Dia” de A Criação do Mundo:

 

“Na convicção dessa mudança inevitável, de consequências imprevisíveis, resolvi aproveitar o interregno para fazer uma viagem às terras onde nos batíamos na defesa absurda de um império que não tínhamos sabido construir na hora própria e teimávamos em conservar na hora imprópria. Mais uma vez a minha ancestralidade calcorreadora vinha à tona. Pisara já o Norte de África, mas de fugida, num longo passeio pelo Mediterrâneo grego. Seria agora a altura de sentir pulsar o seu quente coração austral, a contemplar os cenários das nossas grandezas passadas e das nossas misérias presentes”.

 

Em 1974, participa nos festejos do 1.º de Maio na cidade de Coimbra. No dia 1 de Junho, participa no primeiro comício do Partido Socialista realizado em Coimbra, onde profere o discurso de abertura.

Em 1975, intervém civicamente na imprensa ao publicar (n'A Capital) uma “Carta Vagante”, em que responde a um artigo de Natália Correia, publicado no mesmo jornal com o título “O silêncio dos melhores é cúmplice do alarido dos piores”.

Em Dezembro de 1976, no dia de Natal, planta árvores no terreiro da Escola de S. Martinho de Anta.

Em 1977, recebe em Bruxelas o Prémio Internacional de Poesia, da XII Bienal de Knokke-Heist, que lhe fora atribuído em Setembro do ano anterior. Aproveita este evento e faz uma visita a Londres. É também deste ano a sua colaboração no filme de João Roque Eu, Miguel Torga, um documentário que passará na televisão em 1987, em quatro episódios.

Em 1978, é apresentada novamente a candidatura de Miguel Torga ao Prémio Nobel da Literatura, com o apoio de figuras destacadas das culturas portuguesa e estrangeira, entre os quais o vencedor do Prémio Nobel da Literatura do ano anterior, Vicente Aleixandre. No ano seguinte, a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra presta-lhe uma homenagem, associando-se às comemorações dos seus cinquenta anos de actividade literária. 

Em 1980, é-lhe atribuído o Prémio Morgado de Mateus, ex-aequo com Carlos Drummond de Andrade. No ano seguinte, recebe o Prémio Montaigne, da Fundação PVS de Hamburgo.

Em 1984, faz uma viagem ao México, na companhia do Padre Valentim Marques, registando no Diário uma reflexão sobre a realidade histórica, social, política e religiosa de lugares como Acapulco, Oaxaca, Chinchen Itza, Uxmal, Mérida, Teotihuacan, Cidade do México.

Em 1989, recebe o Prémio Camões. Trata-se do primeiro autor a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa. O prémio é entregue em Ponta Delgada, no âmbito das comemorações do 10 de Junho, numa cerimónia presidida pelo Presidente da República, Mário Soares. No dia 2 de Junho, fora-lhe atribuída a condecoração de Oficial na Ordem das Artes e Letras, da República Francesa.

Em 1990, é homenageado no Goethe Institut de Coimbra. Em 1992, recebe diversas homenagens: Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores, na sua primeira edição, Prémio Figura do Ano, da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira (recebido no Estoril, a 8 de Julho) e Prémio Écureil de Literatura Estrangeira, do Salon du Livre de Bordéus.  Nos Estados Unidos, realiza-se, no mês de Outubro, um colóquio internacional sobre Miguel Torga, na Universidade de Massachusetts, Amherst.

Em 1993, publica o último volume do Diário, comovente testemunho e impressionante reflexão do poeta face à doença e à aproximação da morte.

Em 1994, realizou-se no Porto um Colóquio Internacional sobre Miguel Torga,
é transmitido na RTP 2 o documentário “Torga” da autoria de Jorge Campos e
recebe o Prémio da Crítica 1993 do Centro Português da Associação Internacional dos Críticos Literários. No dia 7 de Setembro, é agraciado pelo governo do Brasil, em cerimónia que decorre na Embaixada do Brasil em Lisboa. Envia uma mensagem para ser lida na 1.ª reunião do Parlamento Internacional de Escritores, realizada em Lisboa, no final do mês de Setembro.

Em 1995, Miguel Torga morre a 17 de Janeiro em Coimbra, estando sepultado em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta.

Recordemos versos do seu poema “Ibéria”, escolhido por si para prefaciar, precisamente, o livro Poemas Ibéricos:

 

Terra

 

Quanto a palavra der, e nada mais.

(…)

Se o mar é fundo e ao fim deixa passar…

Uma antena da Europa a receber

A voz do longe que lhe quer falar…

(…)

Terra nua e tamanha

Que nela coube o Velho-Mundo e o Novo…

Que nela cabem Portugal e a Espanha

E a loucura com asas do seu povo.

 

Miguel Torga é um escritor a que devemos sempre voltar, pela sua sagacidade em exprimir emoções, pela sua profundidade na análise da acção humana, pelo seu natural despojamento do acessório para se centrar no essencial: compreender a alma humana. Se nos cingirmos aos dezasseis volumes do seu Diário, vislumbramos um intelectual que associa a poesia à vida com a naturalidade de quem vive poeticamente, isto é, de quem mergulha no quotidiano, nele procurando explicar a condição humana. Cada volume do Diário começa e acaba com um poema. Curiosamente (ou não), muitos destes textos poéticos remetem para figuras míticas, vindas do nosso lastro cultural greco-latino. Deste modo, ler Torga é embrenharmo-nos por textos magníficos, que nos permitem também sentir o eco de um passado longínquo, do qual a Humanidade não pode prescindir sob pena de não se reconhecer como construtora de sentidos e afectos.

 

Referências:

Carlos Mendes de Sousa, Miguel Torga Vida e Obra – Espaço Miguel Torga, in https://www.espacomigueltorga.pt/p70-miguel-torga-vida-e-obra-pt.

Clara Rocha, Miguel Torga: Fotobiografia, Lisboa, D. Quixote, 2000.


 
06 — A Presença de Miguel Torga na Fundação António Quadros,
por Mafalda Ferro.

 

A Fundação preserva um conjunto de 18 documentos epistolares enviados por Miguel Torga  a Fernanda de Castro (2), de quem apreciava a Poesia; a António Quadros (7), unidos pela Literatura; a Germana Tânger (4) e a Manuel Tânger Corrêa (5) através da mútua paixão pelo Teatro.

 

Coimbra, 24 de Fevereiro de 1957

Meu caro Dr. Manuel Tânger:

Acabo de saber que o meu Amigo está a ensaiar para a Radio-Televisão Portuguesa o MAR, prova de fidelidade a um entusiasmo da sua juventude, que muito me sensibiliza.

Se assim é, pedia-lhe o favor de mo confirmar. Remodelei aquele pequeno apontamento dramático, que vai ser levado à cena pelo C.I.T.A.C (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), e gostaria que qualquer representação actual ou futura se fizesse à base do texto novo. Texto que, embora apenas dactilografado, poria nesse caso imediatamente à sua disposição.

Com os meus melhores cumprimentos, subscrevo-me seu muito dedicado e grato. Miguel Torga [FAQ-01-0452-00016]


Coimbra, 8 de Maio de 1972

Minha boa Amiga [Germana Tânger]:

Recebi a sua carta, e deve calcular o gosto que teria em ir aí assistir à vossa festa. Acontece, porém, que estou com onze pontos na cabeça. Impraticável, portanto. Quando acudia a um começo de incêndio que se declarara no meu consultório, caiu-me em cima parte do tecto. Peço-lhe, pois, que diga isso mesmo aos seus alunos, e que desejo a todos uma noite de grande sucesso, muita camaradagem e alegria.

Para si, o melhor abraço do sempre dedicado. Miguel Torga [FAQ-01-0452-00004]

 

Coimbra, 2 de Abril de 89

Meu caro António Quadros:

Embora amavelmente desobrigado por si de o fazer, não quero deixar sem uma palavra de agradecimento o seu livro O Primeiro Modernismo Português, que acabo de ler com gosto e proveito. É certo que nem todos os capítulos me agradaram igualmente, que o Autor força por vezes as conclusões, e que a economia do estudo se ressente de ser em parte uma reunião de textos avulsos, como explica no prólogo. Mas permanece a evidência de se tratar dum inteligente e devotado esforço de análise factual e interpretativa dum movimento que fica agora mais esclarecido nos fundamentos e na significação. Receba, pois, as minhas sinceras felicitações, e creia na admiração do sempre dedicado. Miguel Torga [FAQ-01-0452-00018]

Cartão de Miguel Torga
para Fernanda de Castro, [1969].
[FAQ-01-0452-00001]











Cerimónia de entrega do «Prémio Diário de Notícias» a Miguel Torga pelo seu livro mais recente (o volume X do Diário), distinção que contempla igualmente toda a sua obra literária. Grupo no qual se reconhece: Jacinto do Prado Coelho, Domingos Monteiro, António Quadros, Miguel Torga, Luís Francisco Rebello, Francisco da Cunha Leão, Pereira da Costa, Luís Teixeira e Clemente Rogeiro (de pé); Augusto de Castro, Andrée Crabbé (mulher de Torga) e Natércia Freire (sentados). Lisboa, 20 de Abril de 1969. [FAQ/06/05210]


Elenco de uma das representações da peça «Mar» de Miguel Torga, pelo Teatro Moderno da Faculdade de Letras de Lisboa. Germana Tânger e seus alunos vestidos de pescadores e de mulheres de pescadores; Delfim Santos (presidente do Teatro Moderno); Manuel Tânger Corrêa (fundador e director do mesmo Teatro); e Carlos de Sousa (encenador). [FAQ/06/08148]; Representação de «O Mar» de Miguel Torga, pelo Grupo do Teatro Moderno da Faculdade de Letras de Lisboa fundado e dirigido por Manuel Tânger Corrêa, presidido por Delfim Santos e encenado por Carlos de Sousa: Agradecimento no final do 1.º Acto, 2.ª Acto e no final do 3.º Acto. [FAQ/06/08153, FAQ/06/08151, FAQ/06/08149]

 

07 — Martins Correia e a sua presença na Fundação António Quadros,
por Mafalda Ferro.

Joaquim Martins Correia (1910-1999), português pertencente à segunda geração de artistas modernistas portugueses, nasceu na Golegã há 115 anos. Licenciou-se em escultura e tirou o curso de desenho na Escola Nacional de Belas Artes. Foi professor na Escola Nacional de Belas Artes, onde viria, por vezes, a expor trabalhos seus e na Escola Rafael Bordalo Pinheiro nas Caldas da Rainha. Artista de grande versatilidade, foi escultor, tendo introduzido a policromia na escultura de acordo com uma velha tradição helénica, desenhador, pintor e ilustrador, autor de medalhas e azulejos.

No início dos anos 80, doou grande parte da sua obra ao Município da Golegã, colecção hoje reunida no Museu Municipal Martins Correia na Golegã que pode consultar AQUI.



Em 1940, participou, pela mão de António Ferro, na Exposição do Mundo Português, juntamente com outros 23 escultores dos quais se destaca Canto da Maia, Leopoldo de Almeida, António da Costa, Barata Feyo, Ruy Gameiro, António Duarte, João Fragoso, Raul Xavier, exposição que recebeu cerca de três milhões de visitantes.

E, ainda, na II Exposição de Arte Moderna de Desenho, Aguarela, Gouache, Pastel, Gravura» na Sala de Exposições do SNI, Palácio Foz, com António Duarte, António Lino, Artur Jorge, Inês Guerreiro, Luiz Trindade, J. Martins Correia, João Fragoso, Júlio Resende, Manuel Lapa, Maria Adelaide Lima Cruz, Milly Possoz, Thomaz de Mello (Tom) e muitos outros (Novembro de 1947). 

Amigo e colaborador de António Quadros, em 1951/1952, colaborou nos fascículos de cultura «Acto» fundados [a partir de uma ideia onde também colaboraram António Duarte e o próprio Martins Correia] e dirigidos por António Quadros e Orlando Vitorino.

Assinou a capa e as ilustrações de "Viagem Desconhecida. Um itinerário poético 1950-1952.", de António Quadros (1952) e, em 1988, ofereceu-lhe "Escultor Martins Correia", com uma dedicatória manuscrita: Com a estima do escultor Martins Correia, 1988. Lisboa, Golegã: Edição do autor, 1988.

A Fundação António Quadros guarda ainda outros elementos documentais e bibliográficos, importantes subsídios para o estudo e conhecimento da sua vida e obra.

 

08 — Livraria António Quadros
Obra em Promoção até 14 de Março de 2025 (celebrando os 30 anos de nascimento de António Ferro).

 

Autoria:
Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporáneo     

Título:
Catálogo da exposição «Suroeste», realizada no MEIAC, em Badajoz em 2010. Relaciones literarias y artísticas entre Portugal y España (1890-1936)». Relações literárias e artísticas entre Portugal e Espanha. (1890-1936).

Textos:
Eduardo Lourenço, Antonio Sáez Delgado, Juan Manuel Bonet, José-Carlos Mainer, Gabriel Magalhães, Elena Losada Soler, Carlos Reis, Eloísa Álvarez, Ángel Marcos de Dios, António Cândido Franco, Maria Jorge, Luís Manuel Gaspar, Elías J. Torres Feijó, Víctor Martínez-Gil, Antonio Franco Domínguez, Jordi Cerdà Subirachs, Fernando Cabral Martins, Jerónimo Pizarro, Eloy Navarro Domínguez, Sara Afonso Ferreira, João Paulo Cotrim, Andreia Galvão, Ana Berruguete, José Luís Porfírio, António Apolinário Lourenço, Fátima Freitas Morna, Javier Herrera, Salvato Telles de Menezes, Hipólito de la Torre e Perfecto E. Cuadrado.

Texto introdutório:
José Luis Rodríguez Zapatero.

Idioma:
Espanhol / Português / Inglês.

Edição:
Badajoz, MEIAC, 2010.

Observações:
Obra muito ilustrada em dois volumes acondicionados em caixa original única.

PVP: 24€

 
 
     
 
Apoios:
 
Por opção editorial, os textos da presente newsletter não seguem as regras do novo acordo ortográfico.

Para remover o seu e-mail da nossa base de dados, clique aqui.


Esta mensagem é enviada de acordo com a legislação sobre correio electrónico: Secção 301, parágrafo (A) (2) (C) Decreto S 1618, título terceiro aprovado pelo 105º. Congresso Base das Normativas Internacionais sobre o SPAM: um e-mail não poderá ser considerado SPAM quando inclui uma forma de ser removido.
 
desenvolvido por cubocreation.net