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Newsletter N.º 223 / 14 de Junho de 2025
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros
ÍNDICE

01 — Biografia resumida de António Ferro, capítulo III (1940-1942), por Mafalda Ferro.

02 — O Castelão da Torre de Barbela, por António Quadros.

03 — "O Caranguejo" de Ruben A. Sobre a sua leitura, por José António Barreiros.

04 — Breve Apontamento sobre Ruben A., por António Quadros.

05 — Nota biográfica de Ruben A., no Dicionário cronológico de Autores Portugueses, vol. V.

06 — Livros e dedicatórias de Ruben A., no acervo da Fundação António Quadros.

07 — Uma carta de Ruben A. para António Quadros, no acervo da Fundação António Quadros.

08 — Homenagem a Fernanda de Castro em Rio Maior. Memória.

09 — Serão temático organizado pela Associação Cultural do Concelho de Rio Maior sobre a Fundação António Quadros. Memória.

10 — Arte em Rio Maior: Busto de Francisco Barbosa, por Leopoldo de Almeida e Jorge Segurado, por Mafalda Ferro.

11 — História resumida das Marchas Populares, por Mafalda Ferro.

12 — Livraria António Quadros - Obra em Promoção até 14 de Julho de 2025 (celebrando os 105 anos de nascimento de Ruben A.): Volumes II e III de In Memoriam Ruben Andresen Leitão.


EDITORIAL,

por Mafalda Ferro.


Durante o presente ano, 2025, a Fundação, através de inúmeras iniciativas, presta homenagem a António Ferro (130 anos depois do seu nascimento) e a Fernanda de Castro (125 anos depois do seu nascimento).
Continuamos a publicar mensalmente, neste espaço, uma resumida biografia de António Ferro, dividida em capítulos. Hoje, apresentamos o terceiro capítulo, (1940-1942).


Lembrando Ruben A., 
que António Quadros tanto admirava e estimava, 105 anos depois do seu nascimento, dedicamos-lhe um espaço muito especial  com textos do próprio Quadros e também de José António Barreiros que nos ensina a ler "O Caranguejo".

Segundo A. Quadros, "O Caranguejo"
permanece uma das mais singulares experiências do romance fantástico, existencial e kafkiano entre nós…
[FAQ-13-0494]

As comemorações do 500.º aniversário de nascimento de Luís Vaz de Camões, estão em curso até 2026. Assim sendo, a Fundação António Quadros escolheu o dia 18 de Junho de 2025 para celebrar esta importante efeméride, inaugurando a exposição «Camões, Verdade, Amor, Razão e Sonho» no dia 18 de Junho de 2025, às 16h.

A exposição, construída a partir do acervo da Fundação, estará patente até ao dia 5 de Julho no espaço museológico da Biblioteca Municipal de Rio Maior.


Leonor Fragoso, vereadora da cultura da Câmara Municipal de Rio Maior e Mafalda Ferro abrirão a sessão.


A apresentação da exposição estará a cargo de Manuela Dâmaso e Madalena Ferreira Jordão dará a conhecer alguns elementos da sua colecção particular de ex-libris camonianos e explicará a sua utilidade. António Coito escolheu alguns poemas de Camões para nos ler, abrindo dessa forma uma tertúlia informal em que todos os presentes poderão participar com uma opinião ou um poema.

 

01 — Biografia resumida de António Ferro, capítulo III (1940-1942),
por Mafalda Ferro.

O ano de 1940 em Portugal ficou marcado pela realização da Grande Exposição do Mundo Português (23 de Junho de 1940 / 2 de Dezembro de 1940), projecto no qual Ferro aplicou grande parte das suas ideias e paixões, para isso trabalhando não só nesse ano mas também em anos anteriores. O objectivo desta exposição, comemorar a fundação de Portugal (1140) e a restauração da independência (1640), inseria-se no programa ideológico do Estado Novo. O director executivo da iniciativa foi Júlio Dantas e o seu Secretário-Geral, António Ferro.


Secretário-Geral dos Centenários da Independência e da Restauração, em 1940, António Ferro é-o também na grandiosa Exposição do Mundo Português no âmbito da qual se realizaram 10 congressos independentes, com a participação de 231 historiadores portugueses e 121 estrangeiros, se promovem marchas populares, récitas de gala e exposições de cartografia, se inaugurou o Estádio Nacional e a Fonte da Alameda Afonso Henriques, se ampliou o Museu de Arte Antiga e se iniciou a construção da gare-marítima, da gare fluvial, da auto-estrada e do viaduto que viria a receber o nome de Duarte Pacheco, do Bairro de Alvalade, da Avenida do Aeroporto e do Bairro do Restelo. Promoveram-se ainda muitos outros eventos, como a organização da Semana Olímpica e a reabertura do Teatro de São Carlos com os bailados Verde Gaio. No encerramento, foi promovida uma peregrinação popular aos lugares históricos da Restauração. Entre 22 de Junho, data da sua abertura, e 2 de Dezembro, data do seu encerramento, a Exposição do Mundo Português recebeu 3 milhões de visitantes. A realização do programa da exposição foi entregue a Cottinelli Telmo, que contou com a colaboração de 12 arquitectos, 20 escultores, e mais de 40 pintores modernos.

Texto completo, publicado em www.circuloecadequeiroz.com

 
No entanto, António Ferro e/ou o seu Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) não se limitou a esse projecto, continuando, sempre em movimento, a inaugurar exposições como  a Exposição do Mundo Português (Junho) e as dedicadas a personalidades como Madame Wrede (Janeiro) e Anne Marie Jauss (Março); a reunir com os membros do júri dos Prémios Literários 1939 e do «Prémio Camões», com os Representantes das Comissões de Turismo, com os Delegados das Comissões Municipais de Turismo e criando as Brigadas de Turismo, cada uma, constituída por um arquitecto, um decorador e um funcionário do Turismo. 
Por sua iniciativa, o SPN criou a primeira estalagem de turismo portuguesa, a Estalagem do Lidador, em Óbidos (Agosto).

A título pessoal, em Novembro,  foi inaugurado o Círculo Eça de Queiroz em Lisboa, clube privado no qual se tratavam assuntos do espírito  e cuja direcção era presidida por António Ferro e também composta por José Alvellos, Júlio Cayolla, António Lopes Ribeiro e José da Silva Bastos, que foi palco de inúmeras iniciativas clube ainda existente à data de hoje.


No nosso entender, um dos projectos mais acarinhados por António Ferro foi a criação, em 1941, de Panorama, Revista Portuguesa de Arte e Turismo, editada pelo SPN e por si dirigida entre 1941 e 1949 (39 números). Para se escolher o nome da revista, "
o SPN abriu por intermédio da Emissora Nacional, um concurso, a que concorreram centenas de pessoas, sendo o primeiro prémio conferido à sr.ª D. Ester de Matos, poetisa e escritora, que indicou para a mencionada revista o sugestivo título de «Panorama». [«Diário de Notícias«, 23 de Fevereiro de 1941]

A "Panorama", para além da componente fotográfica, foi também uma publicação inovadora no que diz respeito à ilustração. A começar pelas capas desenhadas, entre outros, por vários representantes do modernismo português, como Almada Negreiros, Bernardo Marques e sua mulher Ofélia Marques, Paulo Ferreira, Francis Smith, Mily Possoz, Manuel Ribeiro de Pavia, Manuel Lapa, Thomaz de Mello e Eduardo Anahory continuando pelo interior da revista, em que também se observa o trabalho de outros talentos em ascensão nesse período (como Júlio Resende, por exemplo).

José Guilherme Victorino, em "Propaganda e Turismo no Estado Novo. António Ferro e a Revista Panorama (1941-1949), pp.56-57. Alétheia Editores, 2018.

 

É importante referir a ininterrupta produção de obras editadas pelo SPN, muitas delas de autoria de António Ferro mas todas por si coordenadas. Refere-se, a título de exemplo, a "Cartilha da Hospedagem Portuguesa. Adágios novos para servirem a toda a hospedaria que não quiser perder a freguesia" (Abril, 1941), com desenhos de Emmérico Nunes e versos de Augusto Pinto; e "Pousadas do SNI", capa de Matos Chaves e ilustrações de Paulo Ferreira (Março, 1948).

Importa referir o constante apoio prestado a António Ferro por sua mulher, Fernanda de Castro, na organização de iniciativas não só em espaços públicos como, também em sua casa, das quais se destacam almoços, jantares, recepções, homenagens a individualidades como Vazquez Diaz (Fevereiro, 1941), Osvaldo Orico (Março, 1941), Blaise de Cendrars, Leonid Moguy, realizador de cinema (Março, 1941) e Louis Jouvet (Junho, 1941).

 

[a propósito da entrada de judeus em Portugal, contra as instruções de Salazar], hoje sabemos que, também para Ferro, esse mortificado contingente acarretou múltiplas preocupações, não só por parte de desconhecidos que, por algum motivo, viram no Secretariado uma abertura contrastante com a de outros organismos governamentais, como por parte de muitos que se valeram de relações então estreitadas em tempo de paz. Um dos casos mais bem documentados é o relativo a Stefan Zweig que levou Ferro a interceder junto da PVDE, autoridade empossada de plenos poderes para lidar com a questão dos refugiados. [Contra as instruções de Salazar], Ferro interveio pessoalmente em casos que se podem considerar para lá da esfera dos famosos, poderosos ou socialmente bem relacionados.

José Guilherme Victorino, em "Propaganda e Turismo no Estado Novo. António Ferro e a Revista Panorama (1941-1949), pp.275-276. Alétheia Editores, 2018

 

Além de ter conseguido a entrada em Portugal de tantos dos quais se refere apenas a mulher de Zweig, Maeterlink, Kessel, Paul Colin, Kisling e do casal Vieira da Silva Árpád Szenes, em Fevereiro de 1941, o casal Ferro apadrinhou e organizou em sua casa a festa de casamento de Marie Dubas com Charles Dulmont, para que pudessem ficar em Portugal.

Foi, também, em 1941 que publicou "Homens e Multidões", obra, em que reuniu uma selecção das suas crónicas e entrevistas anteriormente publicadas na imprensa entre 1926 e 1938. O livro inclui entrevistas e reportagens sobre Franz Lehar, Lloyd George, o rei Afonso XIII de Espanha, a rainha Maria da Roménia, Primo de Rivera, Leopoldo III da Bélgica, o Papa Pio XI, Mussolini e Salazar.

Em paralelo, actividades como os Concursos de Estações Floridas promovidas pelo SPN por iniciativa de Ferro continuavam a multiplicar-se. Em Junho, António Ferro assumiu a presidência da direcção da Emissora Nacional no âmbito da qual viria a criar o Gabinete de Estudos Musicais, as Festas da Rádio, o Programa da Manhã, entre muitos outros.


Um mês depois, a 9 de Julho, Ferro embarcou no vapor «Siqueira Campos», rumo ao Rio de Janeiro com Júlio Coyola (Agente Geral das Colónias) e Guilherme Pereira de Carvalho, fazendo escala no Funchal onde, no dia 14, passou algumas horas. Chegou ao Recife a 24 e foi a 4 de Setembro que, no Rio de Janeiro, António Ferro assinou, juntamente com Lourival Fontes, director do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do Brasil, o «I Acordo Cultural Luso-Brasileiro». Desta acção, resultariam, entre outros projectos comuns, a publicação de uma revista luso-brasileira a publicar simultaneamente nos dois países, e a criação de uma Secção Brasileira no SPN.


A
inda no Brasil, proferiu ciclos de conferências em vários organismos culturais do Rio de Janeiro e de São Paulo, inaugurando também uma «Exposição do Livro Português» na capital carioca. No dia 27, em S. Paulo, embarcou no vapor «Brasil» para Buenos Aires. Abandonou a Argentina no dia 18 de Outubro e, a bordo   do «Uruguay», chegou a Santos onde permaneceu alguns dias, regressando posteriormente a S. Paulo e ao Rio.

O regresso a Lisboa, a bordo do «Niassa», iniciou no dia 19 de Dezembro de 1941 e terminou a 7 de Janeiro de 1942, tendo antes voltado a fazer escala no Funchal, decidido a defender os direitos do cinema português.
A "Atlântico, Revista Luso-Brasileira", edição do SPN (Portugal) e do DIP (Brasil) foi fundada em 1942 por Ferro e Lourival Fontes.

Durante a publicação dos seus 16 números (repartidos por três séries), a direcção foi assumida no Brasil por muitos mas, em Portugal, António Ferro ocupou o cargo até ao final de 1949, ano da sua partida para  Berna. Existiu ainda um último número, em 1950, dirigido por António Eça de Queiroz que assumiu também a direcção interina do SPN, então SNI. 
Depois de 7 anos de entrega e paixão, Ferro, amargurado, assistiu de longe ao final da "Atlântico".

Salazar acha que a revista [Atlântico] nos honra sob o aspecto gráfico mas não concorda com a poesia moderna, com os versos livres e de vária medida: “A poesia é o ritmo. Onde está o ritmo nessa poesia? A arte tem os seus cânones, as suas leis.”

António Ferro, em Livro de Audiências de Salazar, 1944, [FAQ/AFC/04/00978]

 

No dia 23 de Março de 1942, António Ferro entregou os Prémios Literários referentes ao ano de 1941 e, também, o Prémio Camões ao historiador e jornalista espanhol, Jesús Pabón y Suárez de Urbina, autor da obra “La Revolución Portuguesa”. No mesmo mês, escreveu o “Plano duma Campanha de Lusitanidade em toda a América, em especial no Brasil”.

Foi de sua autoria, o programa «Pousadas de Portugal» no âmbito do qual inaugurou entre 1942 e 1948, as primeiras pousadas de Portugal, Santa Luzia, em Elvas (1942); S. Gonçalo, na serra do Marão (1942); Santo António-Serém, no Vale do Vouga (1942); a de S. Martinho, em S. Martinho do Porto (1943); a de São Brás de Alportel, no Algarve (1944); a de Santiago, em Santiago do Cacém (1945); a de S. Lourenço, na Serra da Estrela (1948). Na elaboração deste plano, António Ferro definiu os critérios: gastronomia regional, mobiliário português, atendimento personalizado, preços módicos. Estas pousadas viriam a ser extintas ou substituídas por outras unidades hoteleiras.


No dia 14 de Abril de 1942, Ferro participou, juntamente com Araújo Jorge (Embaixador do Brasil), o Presidente da Junta Nacional da Educação e vários escritores e artistas na inauguração da secção brasileira do SPN. No mês seguinte, a 3 de Maio de 1942, comemorando a data de descobrimento do Brasil, Augusto de Castro proferiu na SGL uma conferência promovida pela secção brasileira do SPN. A sessão foi aberta por António Ferro.


Em 1942, António Ferro e Fernanda de Castro continuaram a receber ou a homenagear personalidades como Gregorio Marañón y Posadillo, médico, cientista, historiador, escritor e pensador espanhol, e sua mulher Dolores Moya, Reinaldo dos Santos e mulher, Augusto de Castro e sua mulher (Janeiro), Pierre-Jean Goemaere e sua mulher Suzanne (Maio), Embaixador de Inglaterra (Junho), Mircea Eliade, adido de imprensa da Legação da Roménia em Portugal e sua mulher Nina Mares Eliade (Julho e Outubro).

 
02 — O Castelão da Torre de Barbela,
por António Quadros.

Personalidade inquieta e irrequieta, de uma actividade desbordante, de uma energia infatigável, de um desejo impetuoso e mal sofreado de vida, de posse e de criação, Rúben A. propunha-se aos seus amigos e ao mundo como uma charada.

Jogava a esconder-se de toda a gente, compondo máscaras que ocultavam a sua sensibilidade e a sua fragilidade. Ao escrever os volumes de memórias que nos deixou como um testemunho da sua personagem, mais do que da sua pessoa, deu-lhe o título significativo de «O Mundo à Minha Procura»…


O mundo procurava-o e Rúben ocultava-se, cioso dos seus segredos: mais era o que nos dizia afinal sobre os outros do que sobre si próprio, porque ele era o protagonista dos espectáculos que para os leitores encenava, mas como o corifeu a sublinhar as deixas e a acentuar a tragicomédia em sua volta.


Cultivava o figurino britânico, o humor, a frieza, a correcção, a calma, mas as ramadas fortes do tronco português traíam-no e sobrepunham-se ao menor deslize a essa imagem que gostava de ter de si próprio.


Esta dialéctica do nórdico e do português reflecte-se, aliás, profundamente na sua obra; em todos os Andresen, a começar pela sua prima Sofia de Mello Breyner, é mais ou menos patente o emergir de um fio ancestral de maravilhoso escandinavo à Hans Christian Andersen ou à Selma Lagerlof, que, no entanto, nenhum deles representou tão fielmente como Rúben. É gente que respira entre duas águas e duas culturas, todos distraídos, poetas, sonhadores e de algum modo mitogenizadores.


É da varanda do racionalismo nórdico que Rúben critica com ironia, mas sem sarcasmo as intrigas, os ridículos, os snobismos do aquário português. São inolvidáveis os textos de humor em jeito de literatura do absurdo que nos deixou nos sucessivos volumes das Páginas; a única crítica social irónica que, desde Eça, e entre nós não o imita, porque exclui o sarcasmo, a ferocidade, o «fazer rir contra», sem deixar de ser penetrante.


Não esqueçamos que Rúben A. também começara snob e também se movera como peixe desse aquário jogando o seu ténis na Parada e piropeando nas festas da Assembleia da Granja. A sua crítica tinha, pois, muito de autocrítica, era pertinente, mas revelava a ternura contida de uma longínqua cumplicidade.


Já que falámos de ténis, jogava-o ora excelente, ora erraticamente (quantas vezes o defrontámos ou fomos seus parceiros!), melhorando o virtuosismo do seu estilo quando tinha galeria feminina, adormecendo quando ficávamos sós, os dois ou quatro jogadores dentro do rectângulo.


Na realidade, gostava dos triunfos rápidos e espectaculares de um desafio, de uma iniciativa, de um livro, de um jantar com notabilidades na Rua do Monte Olivete ou no Monte dos Pensamentos, em Estremoz.

Excerto do depoimento de António Quadros, publicado em "In Memoriam Ruben A.", vol.1, INCM, 1981.
[FAQ-B-L-05471]

 

03 — "O Caranguejo" de Ruben A. Sobre a sua leitura,
por José António Barreiros.


Trata-se de um livro invulgar. Isso afere o leitor ante duas circunstâncias gráficas: primeiro, as páginas não estarem numeradas, depois por ser isso um efeito de o primeiro capítulo que surge à vista, ser afinal o último.

Leitor que não atente nisso, é leitor perdido na confusão.

Há, além disso, o inesperado do vocabulário e das construções frásicas. Assim logo na primeira folha perdão, a última! : «encostas de requebros pensativos», «passar comprido o comboio das tristezas ambulantes», logo na seguinte melhor direi, antecedente? : alvercas de estudos se, possibilidades de encontrar chumaceiras de intervalos» ou «namoro formado pela universidade do empacotamento».

A pronominalização pessoal como forma de individualização tem aqui particularidades, instrumento da infixidez e da indeterminação subjectiva. As personagens são designadas  pelo pronome pessoal ou demonstrativo: "Ele", "Ela", "Aquela", o colectivo como "Todos". Mas há também o cognome caricatural e assim a mãe da noiva é a "perua", o pai o "camaleão".

Por sobre tudo, o humor corrosivo: «As necessidades gastronómico-fiduciárias acompanhadas por umas manifestações tardias de sexo eram espiritualmente as suas preocupações directas. Tudo o resto desfazia-se em gases personificados».

Ao contrário do que alguns supõem não foi este livro, publicado em 1954, e sim o primeiro volume de "Páginas", vindo a lume em 1949 que fez perigar o cargo de leitor do King's College em Londres, onde o autor obtivera um Master of Arts.

Ah! Existe também a história nele contada, mas essa, descubra-a o leitor, lendo este livros, às arrecuas.

 
04 — Breve Apontamento sobre Ruben A.,
por António Quadros.


Ruben A morreu prematuramente em Londres, em 1975, quando ia principiar, com amor e decisão, um novo capítulo da sua vida. Todos os que éramos seus amigos acompanháramos a sua angústia, e depois a alegria dos seus últimos dois ou três anos. Era um homem que se ocultava no convívio e na extroversão. Tinha uma imparável fúria criadora. Não sabia estar parado. Não tinham conta os seus múltiplos interesses, desde a investigação histórica à cerâmica, desde o veio literário até ao delírio de uma actividade que chegava a parecer frenética. Não era difícil entrar na sua intimidade; o difícil era conhecer a sua secreta, intocável, complexa vida interior.


Quase existia heteronimicamente, como o Pessoa. Havia o Ruben — historiador, escrevendo livros sérios, sobre D. Pedro V, a sua personagem favorita. Havia o Ruben —"public-relations" literato da Embaixada do Brasil e cicerone lisboeta de todos os escritores brasileiros que vinham a Portugal. Havia o Ruben — minhoto apaixonado por Moledo, por Afife e pela Ribeira-Lima. Havia o Ruben — coleccionador de cacos velhos e frequentador dos antiquários. Havia o Ruben — surrealista e delirante, escrevendo livros, como as Páginas, que provocavam, irritavam, instabilizavam e levantavam problemas insolúveis aos leitores desavisados: Será um louco, um alienado mental? Havia o Ruben — pater-familias, sempre atento aos filhos. Havia o Ruben — snob e tenista, amigo de toda a sociedade-bem, desde a Granja à Parada, havia o Ruben — companheirão da farras e noitadas. Chegou a haver depois do 25 de Abril, o Ruben — Director-Geral da Cultura, num grande gabinete desarrumado, junto à Biblioteca Nacional, ao Campo Grande, tentando febrilmente lançar iniciativa sobre iniciativa. E havia também, por detrás de tudo isto, o Ruben — romântico, cuja paixão contida não ousava libertar inteiramente e cujo coração um dia explodiu, na Inglaterra, sua segunda pátria, que lhe dera aliás aquela compostura, aquela máscara, aquela serenidade britânicas que não eram mais do que um dos seus papéis ou um dos seus heterónimos nesta existência que recortara em sua volta como um cenário e de que se via (mas apenas a um dos níveis do seu ser múltiplo) como o protagonista. Neste ponto é significativo o título de uma das suas melhores obras, a autobiografia que tivemos ocasião de comentar na devida altura: O mundo à minha procura

Excerto de «Ruben A: In Memoriam e Kaos, romance póstumo», publicado n'«O Tempo», 18.11.1982, em «Ao Correr da Pena: Apontamentos breves sobre obras e autores. Autoria: António Quadros.
PT-FAQ-02-0332-00007]

 

05 — Nota biográfica de Ruben A.,
em "Dicionário cronológico de Autores" Portugueses, vol. V.

RUBEN A. (Lisboa, 1920 / Londres, 1975) - Ruben Alfredo Andresen Leitão, licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra, começou por leccionar no ensino secundário, primeiro no Porto e depois em Lisboa, entre 1945 e 1947, ano em que optou por um leitorado de Cultura Portuguesa no King's College (Universidade de Londres), em cujas funções se manteve até 1951. Funcionário da Embaixada do Brasil desde 1954, troca este cargo, em 1972, pelo de administrador da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Dois anos mais tarde, assumiu a Direcção-Geral dos Assuntos Culturais do Ministério da Educação e Cultura, que manterá apenas alguns meses, dado ter aceite o convite para leccionar de novo, agora como professor associado, na Universidade de Oxford. É em 1975, na capital inglesa, que um enfarte de miocárdio lhe será fatal.

Como historiador, merecem especial destaque os seus trabalhos consagrados aos arquivos de Windsor e sobretudo a D. Pedro V, que Ruben A. designava como «o primeiro homem moderno que existiu em Portugal» e a quem dedicou grande parte da sua investigação. 
Dramaturgo, crítico literário e divulgador cultural de reconhecido mérito, terá sido como ensaísta e como autor de textos autobiográficos —  quer sob a forma de diários (Páginas, 6 vols.), quer de memórias (O Mundo à Minha Procura, 3 vols.) — que Ruben A. se deu a conhecer, mas foi sobretudo como ficcionista que as suas ironia e irreverência, associadas a uma prosa de vanguarda, a um arrojo estilístico e a uma originalidade temática, marcaram definitivamente a escrita portuguesa a partir dos anos 50. A sua prosa diarística está, fiel ao título que lhes deu, organizada em Páginas quase soltas, de observação e de comentários, em geral não datados, escritas sobre um quotidiano feito de impressões de viagens ou evocação de atmosferas, de acontecimentos reais ou imaginados; a autobiografia, reunida nos três volumes a que chamou assumidamente O Mundo à Minha Procura, foi pelo próprio autor definida como um «encontro adulto com a sua própria personagem».

À infância meio aristocrática, meio burguesa, marcada pela quinta de Campo Alegre da avó Andresen, no Porto, sucederam os anos de entre as praias da Granja e de Cascais, as cidades do Porto e de Lisboa e aquela Coimbra ainda boémia dos anos 30/40; mas foi, inequivocamente, a ida para Inglaterra que determinou a sua escrita lúcida e imparcial, ao provocar significativamente o distanciamento em relação à realidade portuguesa e o encontro com «a terra mais civilizada do mundo». A personalidade de Ruben A., que inspirou a Jacinto do Prado Coelho o apodo de «Narciso Generoso», contribuiu indiscutivelmente para o encanto que emana da obra, em que transparece o espírito inventivo, a delicadeza de sentimentos e o entusiasmo na franqueza expressiva dos sentimentos, mas onde não está omissa a mágoa que transporta pelos sucessivos desencontros que lhe desenharam a sua vida de homem discreto e tolerante e de escritor desassombrado e incisivo.


Obras principais: ficção narrativa — Caranguejo, 1954; Sargaço, 1956; Cores, contos, 1960, A Torre de Barbela, 3 vols., 1964-1968; O Outro Que Era Eu, 1966; Silêncio para 4, 1973; Kaos, 1982 (romance póstumo com posfácio de José Palla e Carmo). Teatro: Júlia, 1963. Diarística, memorialismo e crónicas de viagens: Páginas, 6 vols., 1949-1970; Um Adeus aos Deuses: Grécia, 1963; O Mundo à Minha Procura, autobiografia, 3 vols., 1964-1968. Ensaio e investigação histórica: Seis Enigmas da Guerra 1939-1940, 1944; O Método e o Pensamento Religioso nas «Pensées» de Pascal, 1945; Cartas de Pedro V ao Conde do Lavradio (introd. e notas), 1946; The Generation of Coimbra, 1946; D. Pedro V: Um Homem e Um Rei, 1950; Diário de D. Pedro V: Viagem a Inglaterra em 1854, 1950; Diário de Viagem a França de El-Rei Dom Pedro V: 1855, 1950; Portugal Land of Poets, 1951; Cartas de D. Pedro V ao Príncipe Alberto, 1954; D. Pedro V e Herculano, 1954; Documentos dos Arquivos de Windsor (comp., ed. lit. e pref.), 1955; Novos Documentos dos Arquivos de Windsor, 1958; Cartas de D. Pedro aos Seus Contemporâneos, 1961; A Importância do Fundo do Real Erário para a História do Brasil, 1972; A Acção Diplomática do Conde do Lavradio em Londres (1851-1855), 1975.
[PT/FAQ/B-L/08989]

 
06 — Livros e dedicatórias de Ruben A.,
no acervo da Fundação António Quadros.

Algumas dedicatória manuscritas de Ruben A. para António Quadros, em obras de sua autoria:

Cores. Contos — Para o António Quadros, companheiro de tantas tentativas 
literárias do teu velho amigo e admirador Ruben A. Fev. 60.

Um adeus aos Deuses. Grécia 
— Ao António, recordando sempre com muita gratidão a prova dedicada às Páginas. Teu companheiro, amigo e admirador, Ruben A. Páscoa / 63.

A Torre da Barbela — Ao António, companheiro e amigo do teu sempre grato e que muito te deve sempre Ruben A. Nov. 64.

O Mundo à Minha Procura III — Ao António Quadros, Testemunho de uma gratidão muito grande, esta parte final leva ainda a amizade "exemplar" do teu admirador de sempre Ruben A. Jan. 68-9.

Cartas de D. Pedro V ao Imperador do Brasil 
— Ao António Quadros, este testemunho de um Rei que foi alguém de notável no novo património cultural, do teu velho amigo e admirador Ruben A. Jan. 69.

 
07 — Uma carta de Ruben A, para António Quadros,
no acervo da Fundação António Quadros


A Fundação guarda no seu arquivo um conjunto de documentos epistolares enviados por Ruben A.: Três cartas para António Quadros, uma carta para Germana Tânger e outra  para Manuel Tânger Corrêa.

Transcrevemos aqui um desses documentos, nomeadamente uma carta para António Quadros escrita durante uma estadia de ambos no Brasil. A convite de Agostinho da Silva, Quadros deslocara-se ao Brasil, para proferir lições e conferências sobre temas de filosofia e cultura portuguesa na Universidade de Brasília e noutros importantes centros culturais brasileiros como Rio de Janeiro e S. Paulo. No entanto, não sabemos se Ruben e Quadros se chegaram a encontrar pois ambos viajavam frequentemente por terras brasileiras.


Brasília — 2-XI-65

Meu querido António,

Infelizmente não nos encontrámos — vi a tua fotografia no Estado de S. Paulo. Tenho acompanhado a tua visita ao Brasil, e ainda espero ver-te antes da tua partida para Lisboa. Aqui vão os meus planos — regresso ao Rio, ido de Salvador, no sábado 6, estou no Rio de Janeiro até á meia-noite do dia 9-10, embarcando aí para o norte do Brasil. (Meu telefone no Rio, podes falar logo ás 8 da manhã, 461884).

Brasília é faraónica, coisa absolutamente nova aos olhos, à mentalidade, à vida. Encheu-me o vazio de futuro que há em mim.

Visitei com o Agostinho o Centro — respeito o Agostinho, o último pioneiro —  que temos a obrigação moral de ajudar e material de providenciar já logo em Portugal, o que já é muito importante. Brasília será o centro para uma grande parte do Brasil e, também, de investigação dos assuntos lusíadas nestas terras (para Post-graduate students).

Gostaria de falar contigo — já há terreno para o Centro, é preciso fazer esta obra, quanto antes, para sermos em Brasília a verdade que tu tão generosamente vens doutrinando na Espiral.

Temos perdido quase tudo no Brasil — lamentável a nossa política, uma tragédia pois de pessoas incapazes e importantes. Vamos tentar.

Abraços, teu muito amigo, velho e [...]
Ruben.


[Nota no início da carta]: Tenta conhecer o Ciro dos Anjos, meu grande amigo e muito inteligente, além de excelente escritor. [FAQ-02-1834-00001]

 
08 — Homenagem a Fernanda de Castro em Rio Maior.
Memória.

Prestando homenagem a Fernanda de Castro no ano em que celebramos o seu 125.º aniversário de nascimento, a Fundação António Quadros organizou em Rio Maior uma iniciativa que contou com a participação de Leonor Fragoso, Mafalda Ferro, Manuela Dâmaso e António Coito.

Depois da abertura da cerimónia por Leonor Fragoso, vereadora da CMRM, foram apresentadas duas obras da homenageada recentemente editadas pela Fundação: “Náufragos” e "Memórias". Manuela Dâmaso terminou a sessão lendo alguns poemas de Fernanda de Castro.


 
09 — Serão temático organizado pela Associação Cultural do Concelho de Rio Maior sobre a Fundação António Quadros. Memória.

A propósito da inspiração por detrás da génese da Fundação, Manuela Fialho lê uns excertos do conto "A Filha do Poeta" publicado em "Anjo Branco, Anjo Negro. Contos fabulosos e alegóricos", de António Quadros. Portugália Editora, Lisboa, [1960], 1973:

Ana Maria arrumava a secretária do pai, sempre a mesma barafunda de papéis, livros empilhados, recortes de jornal, tinteiros, cartas.

Este pequeno gabinete, quase um cubículo, com a sua estante, alguns desenhos e aguarelas de pintores amigos, algumas fotografias nas paredes, bugigangas trazidas de viagens meio esquecidas, de Copenhague, de Ouro Preto, de Luxor, de Atenas, com o «pick-up» antiquado onde o poeta punha a rodar, noite adiante, discos de Bach ou de música russa, este pequeno gabinete (quase um cubículo) fora o seu refúgio, o seu santuário, a sua cela conventual.

Meticulosa, Ana Maria inventariava o que via: dois corta-papéis, um tinteiro meio-cheio, uma pilha de pastas, um agrafador, cartões de visita, envelopes de vários tamanhos, prontos a ser usados para o envio de cartas, separatas, opúsculos ou mesmo livros, um pesa-papéis grego, um retrato de Teixeira de Pascoaes. Era a primeira vez que ali entrava, depois da morte recente do pai. [...]


Ana Maria tomou consciência do pouco que, afinal, sabia acerca dos trabalhos do pai. Ouvira falar vagamente de um romance, traduções, livros de poesia sem editor, mas parecia-lhe que havia aqui agora muito mais, por certo o trabalho dos anos intervalares, dos anos lacunares, dos anos em que vivera afastada de casa, com o seu marido, os seus filhos, o seu grupo e a sua vida. Pobre pai, para quê, para quê, para que serve tudo isto, tantos anos a escrever e nem sequer se tornara célebre, ultimamente nem se ouvia falar já dele, a maioria dos seus amigos ignoravam-no por completo.


Evocou as imagens mais antigas do pai, as imagens dos dois, pai e filha, as imagens de um convívio perdido. Lembrava o seu olhar vago e distraído, o seu sorriso benevolente, a sua falta de personalidade ou de presença perante os outros, a sua aceitação de um emprego obscuro e de desconsiderações no ministério, de uma existência apertada e sem nível. [...]


Empurrou o monte de papéis para longe, num gesto repentino. Depois logo os puxou de novo para si. Começou a ler uma página. Mas depressa se levantou e foi até à janela, observando a corrente da vida que continuava, que não se detinha por causa desse fenómeno banal que é a morte de um ser, esse incidente minúsculo, sem relevo estatístico e social. Pensou nos livros que o seu pai escrevera. Nem sequer eram os livros de um grande poeta. Pelo menos já ninguém dizia que se tratava de um grande poeta. Para os novos, então, pura simplesmente não existia. [...]


Ana Maria voltou a arrumar a papelada toda dentro das gavetas. Quem vai ter tempo para ler isto tudo, para separar o trigo do joio, para... O melhor será encher uma mala com tudo o que aqui há de pessoal, mete-se lá em casa no sótão, e um dia, quando não tenha nada que fazer... [...] 


O pequeno gabinete, quase um cubículo, por certo refúgio, um santuário, poderemos mesmo dizer a cela de um convento, ficou enfim só. No silêncio, todas as coisas estavam quietas: os livros, os desenhos, as aguarelas, o tinteiro, as recordações viagens, o retrato de Teixeira de Pascoaes, o pesa-papéis grego. Durante alguns dias, estas coisas ficariam ainda quietas, talvez felizes.

Apresentação em powerpoint por Mafalda Ferro de «Fundação António Quadros, espaço de Cultura e Memória», salientando:

Os Patronos da Fundação: António Joaquim Tavares Ferro (1895-1956), Maria Fernanda Telles de Castro e Quadros (1900-1994), António Gabriel de Castro e Quadros Ferro (1923-1993), Fernando Manuel de Castro e Quadros Ferro  (Nucha) (1927- 2004).

António Ferro: Juventude, modernismo, casamento e filhos, direcção do SPN, os símbolos da identidade nacional, Fernando Pessoa e a "Mensagem, obra bibliográfica, edições do SPN, os artistas, estadias em Berna e em Roma, morte, os derradeiros amigos.

Fernanda de Castro: Os primeiros anos, António Ferro, a sua prole, os Parques Infantis e «O Pássaro Azul», empreendedorismo, obra bibliográfica, as plantas suas amigas, os últimos anos, morte.

António Quadros: Os primeiros anos, juventude, tempo de namoro e casamento, estudos e vida intelectual, na Fundação Calouste Gulbenkian (1963-1981), no IADE (1969-1992), e o Movimento da Filosofia Portuguesa, obra bibliográfica, do espólio familiar para acervo da Fundação.

Fernando Ferro: Os primeiros anos, profissões, actividades, família e viagens, do espólio familiar para acervo da Fundação.

Fundação António Quadros: Génese, objectivos, transferência para Rio Maior e protocolo com a CMRM, actividades, Prémios António Quadros entregues, obras publicadas, a Fundação em 2025.

 
10 — Arte em Rio Maior: Busto de Francisco Barbosa, por Leopoldo de Almeida e Jorge Segurado,
por Mafalda Ferro


Em 1968, durante a vigência do Presidente da Câmara, Amândio Rodrigues de Sousa, 
inaugurou-se no Jardim Municipal de Rio Maior um busto em bronze que retrata o Dr. Francisco Barbosa (Turquel, Alcobaça, 1908 / Rio Maior, 1965), autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do Arquitecto Jorge Segurado.

O cirurgião Francisco Barbosa estudou em Leiria e frequentou o ensino superior na Faculdade de Medicina em Coimbra e em Lisboa. trabalhou nos hospitais civis de Lisboa e, posteriormente, em Rio Maior e no Hospital de Alcobaça. Quem com ele privou, lembra a sua dedicação e a humanidade com que tratava os pacientes. O seu pai, Dr. Cândido Barbosa, proprietário da Farmácia Barbosa, vivia em Rio Maior facto que esteve na origem da mudança do filho para Rio Maior.

 

A 7 de Julho de 1968, a comissão encarregada de concretizar o desejo dos amigos, doentes e colegas do Dr. Francisco Barbosa, Homem de Bem e Cirurgião de nomeada, falecido em 7 de Julho de 1965; de lhe promover homenagem póstuma, levou a efeito duas cerimónias: Missa na Capela do Hospital de Rio Maior e Inauguração do busto em sua memória erigido no Parque, obra do escultor Leopoldo de Almeida. Fernando Duarte, em "História de Rio Maior", 1979.

Leopoldo de Almeida
(1898/1975) foi um professor e escultor português pertencente à segunda geração de artistas modernistas portugueses que se destacou como figura maior da escultura portuguesa do século XX. Foi colega de António Dacosta, Álvaro de Brée, Jorge Barradas, António Soares, Porfírio Pardal Monteiro e, aluno de Simões de Almeida, Luciano Freire e Columbano Bordalo Pinheiro. A partir de 1932, ensinou desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes. É de sua autoria, com Cottinelli Telmo, em 1940, o Padrão dos Descobrimentos, executado para a Exposição do Mundo Português, em Belém. Marcou ainda presença na estatutária portuguesa com bustos e estátuas de Carmona (Lisboa), Ramalho Ortigão (Caldas da Rainha), Eça de Queiroz (Póvoa do varzim), D. Afonso Henriques, estátua equestre de D. João I (Lisboa), Infante D. Henrique (Lagos), D. Sancho I (Silves), Calouste Gulbenkian (Lisboa), e muitas mais. Leopoldo doou muitas das suas obras ao Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha.

Jorge Segurado
(Lisboa, 1898 / 1990) foi um arquitecto português, um dos precursores do modernismo na arquitetura portuguesa. Frequentou o Liceu Pedro Nunes e, em 1913, inscreveu-se no Curso Preparatório da Escola de Belas-Artes de Lisboa e, também, em 1918 no Curso Especial de Arquitetura, que concluiu em 1924. 
Projetou os Pavilhões de Portugal nas Exposições Internacionais de S. Francisco (1935), Nova Iorque (1939) e o núcleo das Aldeias Portuguesas da Exposição do Mundo Português (1940). São ainda de sua autoria, entre muitos outros projectos, a Casa da Moeda, o Liceu D. Filipa de Lencastre, os Estúdios da Tóbis Portuguesa, Pousada do Infante D. Henrique. Foi também autor de obras literárias e artísticas, tendo realizado uma exposição de desenho e pintura na Galeria Diário de Notícias, Lisboa (1983).

 

11 — História resumida das Marchas de Lisboa,
por Mafalda Ferro

 

Segundo consta, a tradição das marchas em Lisboa existe desde o século XVIII,  nos arraiais populares.

Penso que este ano, 2025, aconteceu a 55.ª edição das Marchas Populares modernas, já que, segundo registos expressos, as mesmas aconteceram nos anos de 1932, 1934/1935, 1940, 1947, 1950, 1952, 1955, 1958, 1963/1970, 1980/1983, 1988/2019, 2022/2025.


Em 1932, José Leitão de Barros, então director do Notícias Ilustrado, com o apoio de  Norberto de Araújo e do Diário de Lisboa, organizou as primeiras Marchas de que há memória. Nesse ano, a 12 de Junho de 1932, no Parque Mayer, concorreram 3 Bairros (Alto Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique), tendo também participado Alcântara, Mouraria e Alfama.


Segundo Gabriela Carvalho, a acção de Leitão de Barros, a sua criação genial, não teria sido o sucesso que foi se não tivesse conseguido despertar a sensibilidade do povo/público para algo que estaria latente na sua pré-existência cultural. As Marchas de Lisboa vêm, seguramente, despertar a identidade bairrista da população, exacerbar a competitividade existente entre vizinhos, criar laços cada vez mais fortes na comunidade unida por um mesmo projecto, pela mesma História.


Em 1934, as Marchas passaram para a alçada da CML, tendo-se formado uma Comissão constituída por Luís Pastor de Macedo, Gustavo Matos Sequeira, Norberto Araújo, Leitão de Barros, Amélia Rey Colaço, José de Figueiredo.


Em 1950, segundo Gabriela Carvalho, as artistas de teatro e rádio tinham então uma parte activa nos desfiles, surgiam como madrinhas das várias Marchas, dos vários bairros. Nesse ano Maria Clara foi madrinha da Madragoa; Amália madrinha da “sua” Alcântara; Hermínia Silva, do Castelo; Laura Alves de Campolide...

Se a década de 50 constitui a época áurea das Marchas dos Bairros, em 60 elas saem quase todos os anos, constituindo-se como um dos números fortes das Festas da Cidade. A mudança de regime político em 74 causou um interregno grande nas Marchas só voltando a ser, ainda que timidamente, um dos componentes das Festas de Lisboa, no início dos anos oitenta. Na segunda metade da década de noventa, porém, as Marchas constituem-se como o ritual nuclear das Festas de Lisboa, com o desfile da Avenida da Liberdade a atrair grande parte da população da capital e transmitidas em directo, pela televisão.

Em 2020 e em 2021, as Marchas não se realizaram salvaguardando a saúde pública, na prevenção da pandemia de coronavirus.


Bibliografia consultada:

"As Festas de Lisboa", de Gabriela Carvalho, comunicação apresentada no colóquio com o mesmo nome e publicado em Turismo em Portugal. Passado, Presente e Futuro? Actas. Edições Fundação António Quadros, 2012. 
 

12 — Livraria António Quadros. Obra em Promoção até 14 de Julho de 2025 (celebrando os 105 anos de nascimento de Ruben A.) 

PVP: Cada volume: 18€ (portes incluídos)


Título: In Memoriam Ruben Andresen Leitão II Organização: José Sommer Ribeiro e outros. Descrição: Estudos e outros textos (24 Autores); Obras de Arte (Martins Correia, António Duarte, Estrela Faria, Salvador Barata Feyo, Fernando Lobato Guimarães, Manuel Lapa). Plano gráfico: Manuel Lapa, concluído por Martim Lapa. Ed. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1981.


Título: In Memoriam Ruben Andresen Leitão III Organização: José Sommer Ribeiro e outros. Descrição: Poesias (20 Autores); Obras de Arte (24 Artistas). Plano gráfico: Manuel Lapa, concluído por Martim Lapa. Ed. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1981.

 
 
     
 
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